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E, para cultura geral, aqui fica um resumo sobre a vida e obra de Damião de Góis:
É um dos mais conhecidos humanistas portugueses. Um daqueles espíritos insaciáveis que viajou pelo mundo para conhecer novos países, povos, hábitos e religiões. Damião de Góis tinha fome de saber. A sua inteligência e curiosidade espiritual despertaram a admiração dos grandes vultos da intelectualidade contemporânea. Mas, também, a inimizade de outros. Tinha, para a época, ideias incendiárias. Foi denunciado ao Santo Ofício, preso e morto. “É uma figura importante pelo relevo científico e cultural. E pela forma como enfrentou a Inquisição”, diz a escritora Alice Vieira.
Damião de Góis, nascido em Alenquer, em Fevereiro de 1502, de uma família nobre, entrou para o serviço do Paço em 1511, primeiro como pagem e, depois, em 1518, como moço de câmara de D. Manuel I.
D. João III, nomeou-o, em 1523, escrivão da feitoria portuguesa de Antuérpia onde teve, então, ensejo de aperfeiçoar a sua cultura humanística, dedicando-se às colecções de pintura, à música (era um cantor talentoso) e, de um modo geral, às chamadas actividades eruditas. Foi, sem dúvida, o máximo expoente do Humanismo em Portugal.
O Humanismo começou, antes de mais, por designar uma das principais correntes estéticas associadas ao Renascimento, transformando-se depois em toda uma filosofia que colocava o Homem no centro das suas preocupações .
Em 1529 iniciou uma série de viagens, que o iriam levar a percorrer a Europa e a contactar com algumas das mais ilustres figuras do seu tempo, como Erasmo de Roterdão, Tomás More, Montaigne e Rabelais, Lutero. Embora com menor projecção mundial, o “nosso” Damião de Góis é digno de ombrear na História com qualquer deles. Frequentou a universidade de Lovaina.
Depois de uma passagem por Antuérpia, permaneceu quatro anos em Itália, onde estudou na universidade de Pádua (seguindo um conselho de Erasmo) e estabeleceu contacto com alguns notáveis da época, tais como Inácio de Loiola, fundador da Companhia de Jesus, que na altura se encontrava apenas no início do seu apostolado contra-reformista. Durante a sua permanência em Pádua, tem, como companheiro de quarto, um padre jesuíta, de nome Simão Rodrigues que desenvolve, em relação a ele, uma verdadeira obsessão e virá, anos mais tarde a desempenhar um papel determinante na vida do humanista português. Ainda nesse período, em 1536 terá colaborado, como intermediário, nas tentativas de reconciliação entre Lutero e Roma.
Em 1545 foi chamado à Corte para desempenhar as funções de professor do príncipe herdeiro, D. João. É então que o jesuíta Simão Rodrigues o denuncia à Inquisição de Évora. O processo acaba por ser arquivado, provavelmente por intervenção régia e porque o seu prestígio internacional tornaria bastante incómodo um processo daquela natureza, mas a simples denuncia terá sido o bastante para que a sua nomeação para o cargo oferecido fosse cancelada.
Em 1548, assente a poeira levantada pela denúncia ao Santo Ofício, foi nomeado guarda-mor do Arquivo da Torre do Tombo, instalando-se, então, em Lisboa e passando a levar uma vida de fausto e ostentação e aproveitaria para escrever, em 1554, a obra Urbis Olisiponis Descriptio. É claro que tal estilo de vida veio despertar velhas invejas e rancores, não sendo, então, de surpreender que Simão Rodrigues aproveitasse o ensejo para nova denúncia. No entanto, mais uma vez, o caso foi arquivado.
Em 1558 o novo rei, Cardeal D. Henrique, encarregou-o de escrever a crónica de seu pai, o rei D. Manuel. Esta obra, dividida em quatro partes (a primeira referente a acontecimentos passados na Metrópole e as restantes referidas ao Ultramar que, ainda hoje, são uma valiosa fonte para o estudo da Expansão Portuguesa) foi concluída em 1567. O modo severo como descreve as perseguições aos judeus criou condições para, quatro anos mais tarde, ser confrontado com a reactivação do seu processo no Santo Ofício.
Acusado de “herege, luterano, pertinaz e negativo”, seria, em 1572, condenado a cárcere penitencial perpétuo e à confiscação de bens.
Transferido para o mosteiro da Batalha, acabaria por ser libertado, devido ao seu estado de saúde. Na noite de 30 para 31 de Janeiro de 1574, a caminho do mosteiro de Alcobaça, pernoitou num albergue onde o encontrariam, no dia seguinte, morto por efeito das queimaduras que sofrera após, ao que tudo indicava, ter desfalecido sobre a lareira.
Em 30 de Agosto de 1945 os restos mortais de Damião de Góis e da sua mulher foram trasladados da igreja de Nª Sra. da Várzea em Alenquer, para uma capela da igreja de S. Pedro, sita na mesma vila.
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