"É Gratificante ser Bombeiro". Foi esta a frase repetida por todos os entrevistados no quartel dos Bombeiros Voluntários de Góis.
Fundada em 1956, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Góis é, sem margem para dúvidas, uma das instituições mais necessárias do concelho. Os serviços que os soldados da paz desempenham, em defesa dos interesses das pessoas e bens, são realmente indispensáveis.
O Jornal O VARZEENSE foi visitar o quartel dos Bombeiros, em Góis, e conversou com a direcção, comando e bombeiros:
Renato Rocha, em nome da direcção fez notar a proximidade de trabalho que existe entre a direcção da Associação e o Comando do Corpo de Bombeiros de Góis, na tentativa de reunir sinergias para um desenvolvimento que, sem dúvida, na sua opinião tem sido bom. "Os resultados têm sido positivos, porque há um bom entendimento entre a direcção e o comando", disse Renato Rocha, salientando que "a direcção tem procurado atender aos pedidos e necessidades do comando".
"As dívidas encontradas pela actual direcção têm sido saldadas e temos uma projecção muito positiva, como consta nos relatórios entregues à Assembleia dos Bombeiros de Góis", confessou o dirigente Renato Rocha, satisfeito por, em simultâneo, terem sido efectuados melhoramentos notórios no quartel sede.
Desde a pintura à electrificação, o quartel foi reformulado, acrescentou Renato, que falou também da sala de convívio criada para bombeiros e associados e das actuais obras na parte da cozinha, de forma a permitir que os bombeiros possam ter acesso às refeições sem terem que se deslocar fora do quartel. Foi ainda criada uma escada de acesso à sala de convívio de forma a permitir uma maior rapidez em caso de socorro e uma sala de rádio devidamente equipada para atender a todas as necessidades. Também o escritório sofreu melhoramentos notáveis, bem como a torre.
"Estamos a trabalhar para se conseguir um carro de desencarceramento com todo o material necessário", acrescentou, fazendo ainda referência às obras no espaço para formação e à candidatura já aprovada que irá permitir a conclusão das obras no edifício situado nas traseiras do quartel de Góis, bem como, no quartel da Secção de Alvares.
Renato falou do apoio da Câmara Municipal de Góis, indispensável ao funcionamento da Associação, dos apoios ao nível nacional, que na sua opinião, são reduzidos e do contributo de todos os sócios e amigos da Associação, mas que, afinal, ficam muito atrás das necessidades da instituição.
Renato referiu ainda ao nosso jornal que é impossível a Associação Humanitária dos Bombeiros funcionar só com voluntários, mas acrescentou que, os profissionais, para além do seu horário de trabalho fazem também parte das escalas de serviço voluntário, dando muitas horas em regime de voluntariado.
Satisfeito com o voluntariado praticado pelo corpo de bombeiros, Renato Rocha lamentou a fraca adesão de novos elementos. "O voluntariado está-se a perder", confessou, lembrando que o concelho de Góis tem muitos jovens e que é necessário cativá-los e incentivá-los para o serviço de voluntariado.
Uma das acções de sensibilização para despertar a motivação nos jovens, é, na opinião de Renato, a criação dos bombeiros mirins, visto que, conforme acrescentou "os mais pequeninos serão os bombeiros do amanhã", e assim, com o contacto directo e aprendizagem nos bombeiros desde pequeninos seria mais fácil de ganharem o gosto pelo voluntariado e, quem sabe, integrarem o corpo de Bombeiros um dia mais tarde. "Esta criação dos bombeiros mirins seria uma forma de manter os mais pequeninos ligados ao trabalho dos bombeiros", acrescentou.
Renato Rocha lembrou ainda que a ligação dos jovens ao serviço do voluntariado e concretamente aos bombeiros ajuda a formar o carácter dos jovens e a sensibilizá-los para a realidade.
Renato compreende que haja afastamento do voluntariado, motivado por questões profissionais e de falta de tempo, visto que, as pessoas estão a deslocar-se, cada vez mais, para o exterior do concelho, todavia, "houve jovens que já estiveram nos bombeiros, tiveram que sair por se terem afastado do concelho, mas que regressaram a Góis e voltaram para os bombeiros", disse.
Consciente que é extremamente necessária a presença de jovens nos bombeiros, Renato Rocha deixou um apelo aos jovens do concelho de Góis: "vamos todos contribuir para deixar de haver falta de bombeiros, inscrevam-se e certamente não se arrependerão. Para além de adquirirem muitos conhecimentos, podem tornar-se úteis à sociedade, desempenhando uma missão gratificante e poderão ainda usufruir de apoios nas propinas" e concluiu: "os jovens precisam de ocupação e os bombeiros precisam dos jovens".
Francisco Dias, Comandante do Corpo de Bombeiros de Góis lembrou que a Associação dos Bombeiros é uma instituição necessária a todos e que trabalha essencialmente à base do voluntariado. "Mas, hoje, um corpo de Bombeiros não se compadece só com o voluntariado, pelo que, também tem que haver alguns profissionais", disse o comandante, acrescentando que estes são um número limitado de pessoas, visto que, a Associação, em termos financeiros, não tem possibilidade de ter mais elementos. Desta forma, Francisco Dias apelou à entrada de novos elementos voluntários para os bombeiros.
Insatisfeito com a ajuda governamental, o comandante referiu que, está é limitada e que o que os vai salvando é a ajuda da Câmara Municipal de Góis e da população. No entanto, acredita que se fossem feitas mais acções de sensibilização e peditórios junto da população, talvez se conseguisse angariar mais verba.
Francisco Dias lamentou também o desinteresse de alguns bombeiros e explicou: "antes pensava-se que o voluntariado era só contribuir quando se podia, mas, actualmente, com a actual legislação, apesar de se continuar a contribuir quando se pode, a lei determina um mínimo de disponibilidade, com um mínimo de horas de serviço de emergência e de formação", o que na opinião do comandante é perfeitamente possível de ser feito mas que está na origem do desinteresse de alguns elementos. "Ocupar 24 horas por mês com os bombeiros será pedir assim tanto?" perguntou o comandante lembrando que é uma grande satisfação saber que se socorre alguém.
O comandante compreende a exigência da actual Lei, visto que, "as pessoas têm direito ao socorro e esse socorro tem que ser cada vez melhor, havendo necessidade de frequentar um mínimo de formação" e continuou: "antigamente não havia grande formação e também não havia piquetes, só se acorria ao chamamento das sirenes, hoje em dia, se queremos ser competentes, temos que ter formação e tem que haver piquetes de forma a estarem disponíveis, permitindo um socorro mais rápido", acrescentou.
Francisco Dias criticou a realidade actual lamentando a falta de reconhecimento do Estado perante os bombeiros, e explicou: "a regalia que existia em relação à aposentação do tempo de bombeiro que contava 25% para o tempo de aposentação, em 2007, com a alteração do Estatuto Social de Bombeiro reduziu para apenas 15%" e ainda por cima, conforme acrescentou "com o novo estatuto da aposentação, esta regalia esbate-se, porque "se tenho que trabalhar até aos 65 anos, independentemente do tempo de serviço, acabo por sair com o mesmo valor de aposentação", lamentou o comandante referindo que "em termos de regalias práticas existe também a isenção de taxas moderadoras, mas que se passar um ano sem ir ao médico, acaba por não usufruir de nada". "Há ainda apoios nas propinas, mas também só irá beneficiar quem estuda", disse o comandante lamentando a falta de incentivos.
Francisco Dias apelou à entrada de novos elementos para os Bombeiros e incitou principalmente à consciência dos jovens referindo: "ser bombeiro contribui para uma sociedade melhor, adquirem-se muitos conhecimentos e é uma missão gratificante".
O Corpo de Bombeiros de Góis, acrescentou o seu comandante "espera por jovens a partir doa 16 anos e pensa-se, dentro em breve, poderem integrar crianças desde os 11/12 anos, começando desde pequeninos a ser dotados de formação e motivação".
Na opinião de Francisco Dias, é desde criança que se tem que despertar o interesse pelo voluntariado e o gosto pelos bombeiros e é sem dúvida essencial a presença de jovens nos Bombeiros, por isso, deixou um apelo aos jovens do concelho de Góis: "olhem para a sociedade em geral, compreendam a necessidade de existir bombeiros e venham juntar-se a nós".
Dina Marlene Bandeira deu o seu testemunho como bombeira.
Para além de ser uma coisa que sempre a fascinou, tinha familiares nos bombeiros, pelo que, com apenas 17 anos ingressou na Associação e iniciou a sua formação, deslocando-se de Coimbra a Góis todas as sextas-feiras, em conjunto com a sua irmã, para frequentarem a escola de cadetes aspirantes. Ainda sem carta de condução agradece à sua mãe que as acompanhava semanalmente.
Dina concluiu a sua licenciatura sempre em simultâneo com os bombeiros. Mais tarde conciliou a sua vida profissional e política, nunca deixando de prestar voluntariado nos bombeiros de Góis. "É perfeitamente possível", afirma Dina Marlene dizendo que, foi sempre uma boa experiência, que lhe forneceu maturidade e conhecimentos, para além de, na sua opinião, ser gratificante conseguir ajudar os outros. Apesar de não estar nos bombeiros para lhe agradecerem, confessa que é extremanente gratificante quando alguém lhe diz: "obrigado pelo que fez por mim".
A bombeira Dina lamenta o facto de terem saído alguns elementos dos bombeiros, facto que justifica, talvez por motivos de ordem profissional ou pelas actuais exigências da actual legislação.
Tal como o comandante, também Dina Marlene afirma que a legislação, apesar de exigir mais, não exige nada de anormal, visto que, afinal exige aquilo que já se fazia.
Dina acrescentou: "agora já um mínimo de horas em termos de formação, piquetes, assiduidade ao quartel, mas não é nada fora do normal" e acabou por confessar: "para se socorrer bem há necessidade de se estar bem informado. Os tempos mudam e as exigências também têm que mudar" e exemplificou que para se ingressar no curso de INEM (pré-hospitalar) é necessário ter pelo menos o 12.º ano. Dina lamentou ainda o facto de haver apenas quatro bombeiros com curso de tripulante de ambulância de socorro, o que, na sua opinião, é muito pouco.
A bombeira Dina tem notado que, ultimamente, as instituições e particulares já começam a pensar em apoiar os bombeiros, dando o exemplo dos "Irmãos Figueiredo" que permitiram a realização de um baile a favor dos bombeiros e a ajuda que os escoteiros têm prestado, sempre que solicitados.
Dina Marlene é ainda delegada da Juvebombeiro que tem por missão: a mobilização dos jovens inseridos em corpos de bombeiros voluntários entre os 14 e os 30 anos, de modo a sensibilizá-los e motivá-los para os valores subjacentes ao associativismo e ao voluntariado nos bombeiros, implicando-os na realização de acções concretas de solidariedade e convívio, a fim de que assumam responsabilidades e desenvolvam o espírito de iniciativa no âmbito da instituição de que fazem parte integrante, garantindo, assim, a sua continuidade. É ainda intenção da Juvebombeiro promover campanhas de sensibilização entre a população e continuar a fazer campanhas de avaliação de glicemia e tensão arterial.
Dina Marlene Bandeira deixou ainda uma apelo aos jovens, para que ingressem não só nos bombeiros, mas também nas restantes instituições locais, como os escoteiros, filarmónica, futebol, entre outras, de forma a desenvolverem o voluntariado e construírem o seu bom carácter.
Lara Daniela - Um exemplo a seguir
Lara Daniela Monteiro Nunes, com apenas 3 anos e meio e muita dedicação aos Bombeiros, referiu ser esta a sua maior paixão.
Recorde-se que Lara é filha de: Cátia Nunes e José Nunes (bombeiros) e neta do, também bombeiro, Celestino Nunes.
A pequena Lara afirmou ao nosso jornal que há mais de um ano que corre para os bombeiros sempre que a deixam, mas o seu avô foi mais longe e arriscou mesmo que a Lara "é bombeira desde que nasceu".
Tudo parece fascinar a Lara, desde as ambulância, aos carros, passando pelo toque da sirene, mas é, sem dúvida, a farda que mais a fascina.
Aprumada e a marchar com o passo certo, já estreou a sua farda, este ano, na procissão realizada em Góis, no dia do "Corpo de Deus".
Lara promete fidelidade aos bombeiros e deseja ansiosamente crescer rápido para poder participar ainda mais activamente no Corpo de Bombeiros de Góis.
in O Varzeense, de 15/07/2009
Etiquetas: bombeiros voluntários