segunda-feira, 25 de junho de 2007

Concertinas com recinto melhorado na Chã de Alvares

Conforme largamente anunciado, teve lugar no recinto das festas de Chã de Alvares, recentemente remodelado - diga-se em boa verdade com muito gosto e bem pensado, na minha modesta opinião, que vale o que vale; no entanto, como não sou surdo e ouço as críticas a meu ver injustas, de quem nunca para eles nada está bem, mas o certo é que são sempre os que menos colaboram para a resolução dos problemas que surgem, o 4.º Encontro de Concertinas confirmou ser o mais importante evento em matéria de música tradicional realizado no distrito de Coimbra; e se alguém ainda tinha algumas dúvidas, depois de terem o privilégio de assistir àquele colosso de actuação, daqueles que tratam as concertinas por tu em Portugal, essas dúvidas dissiparam-se certamente.
Demos oportunidade aos jovens para transmitirem aos jovens que tocar concertina é uma arte e nunca sinónimo de "bimbo", argumento que os leigos na matéria utilizam para se defenderem da sua mediocridade neste campo. O certo é que os meus meninos deram uma lição que, sendo eles futuros engenheiros, médicos ou advogados, são também já grandes tocadores de concertina, a quem dedicam os seus tempos livres e quem sabe se em detrimento até do convívio com os seus amigos. Força rapazes! Este jovem da terceira idade está do vosso lado por amor à arte.
Fica para a posterioridade aquele quadro de massa humana, boquiaberta pela forma de como se tratam as concertinas, de como se executam trechos até há bem pouco tempo impensáveis naquele limitado instrumento, cujo som entra no ouvido e faz delícias a qualquer ser humano por mais insensível que seja. Assim demonstraram os fortes aplausos das largas centenas de presentes, cujos comentários espontâneos nos enchiam de orgulho, havendo mesmo quem afirmasse que estava a decorrer ali a festa mais linda alguma vez realizada nos distritos de Coimbra, Leiria ou Castelo Branco. Dignificante não acham?
A Chã não brinca em serviço. A organização do evento, embora modesta, é acima de tudo eficaz, com oito elementos, qual deles o mais responsável, consegui-o a 100% o objectivo deste encontro de concertinas que tal como na sua 1.ª edição é e será sempre dirigido no mesmo sentido, incentivar os jovens a aprenderem a tocar concertina, não deixando morrer as tradições tão enraizadas nos nossos meios rurais, em cuja cultura inevitavelmente esse instrumento tem o seu lugar. A Chã, especialmente neste campo, tem dado o seu contributo a meu ver muito positivo, com resultados que estão à vista de todos, pois esta edição contou com algumas surpresas até mesmo para a própria organização, muita juventude presente, assim como quatro meninos da região, iniciados na execução das concertinas, para quem vai um forte aplauso. Tomo isto como uma mensagem de que o nosso trabalho tem tido o seu impacto no bom sentido, despertando uma arte esquecida ou melhor adormecida no tempo (quem sabe se ainda em vida irei assistir a uma nova vaga de concertinas da Carrasqueira). Como sonhar não é proibido, podem outras coisas faltar, mas a matéria-prima não falta à Chã. Aguardo ano após ano que aconteça o milagre.
O dia 28 de Abril foi marcante na Chã de Alvares. Foi fora do comum. Gente que chegava de vários pontos do país, o que fazia prever muita participação, tanto de executantes como de público assistente. O almoço servido pelo Café Miguélia a cerca de 150 pessoas, com serviço perfeito, muito contribuiu o comportamento correcto de todos quantos nele participaram, o que é sempre de louvar. Costuma dizer-se que "cada cabeça sua sentença"; mas com esta postura das pessoas presentes foi facilitado o serviço, terminando o almoço cerca das 14 horas.
De seguida todos se encaminharam para o local onde iria ocorrer o encontro do concertinas, que se iniciou logo de seguida, abrindo o festival os tocadores chãsenses, como não podia deixar de ser, e logo os representantes dos concelhos de Góis, Lousã, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Pampilhosa da Serra. Seguiu-se o prometido show que se vinha anunciando havia algum tempo. Actuou o grupo de concertinas da escola da Amadora, seguindo-se "o mestre" Fernando Rodrigues numa demonstração espectacular, daquilo que se pode fazer com as concertinas, encantando toda a gente com dois trechos de execução primorosa. Antes dos meninos ainda tivemos a actuação de dois dos grandes axecutantes no mundo das concertinas: Manuel Pinto, já muito conhecido na freguesia de Alvares e Diamantino Gaxineiro, amigo de alguns elementos da organização. E estes a dois senhores se deve a ida daqueles jovens prodígio que tivemos o privilégio de ver e ouvir tocar concertina, fazendo jus a tudo quanto deles se diz. O Daniel, quando menino franzino, mal podendo com a concertina, já tinha estado presente na Chã. Agora já homem, com físico que baste, confirmou tudo aquilo que na altura vaticinei. O Filipe Gaxineiro, o Tiago, o Filipe, maravilha das maravilhas. Foi um sonho para quem assistiu àquele fabuloso espectáculo prometido. A organização saiu orgulhosa por ter prometido e cumprido, não saindo da Chã ninguém desiludido; antes pelo contrário, dando por bem empregue a sua ida à Chã. O fecho das actuações em palco foi feito por praticamente todos os tocadores presentes, embora limitados às afinações dos seus instrumentos o que se entende. Foi executada uma "cana verde", que deixou muita gente sem respiração. Estava ali a fina flor dos tocadores de concertina de Portugal. A Chã, com os seus amigos, fazia jus à sua fama. Que o diga quem esteve presente.
Depois das actuações em palco assistimos então àquela que foi a festa mais carismática alguma vez realizada na Chã. Grupinhos de tocadores de concertina, espalhados por todo o recinto, tocavam e cantavam em franco convívio, a quem se juntavam algumas vozes castiças das nossas gentes, dando vida ao convívio, alegria e boa disposição, que as concertinas por norma trazem ao seio das comunidades. Consumiu-se um porco no espeto, havia coiratos, vinho, sumos e pão. Estava assim a festa armada para durar até altas horas da noite. Assim foi e lá estava a organização presente para que os mais atrasados fossem em paz e em tempo útil para casa (grande pachorra meus amigos). Mas quem organiza tem de ter o cuidado para que toda a gente regresse a casa feliz, para o ano voltar com a certeza, de que será mais um amigo recebido na Chã.
A organização quer agradecer publicamente à Câmara Municipal de Góis e Junta de Freguesia de Alvares pela colaboração prestada a este evento de interesse cultural, sendo que os seus elementos se disponibilizaram, para que em conjunto ou isoladamente dos seus préstimos a autarquia necessitar, desde que dentro das suas possibilidades. À firma Streoson na pessoa do seu proprietário sr. Adelino, que deixou tudo para acudir a uma situação de emergência, que foi criada por alguém, à organização. A todos os tocadores de concertina que de Lisboa se deslocaram, quem conta com amigos como estes, não tem medo de organizar pois os êxito é garantido, a todos os tocadores de concertina da região que estiveram presentes, contribuindo assim para o êxito do encontro, ao público presente vindo das nossas aldeias e também dos concelhos limitrofes, à direcção da liga de Melhoramentos na pessoa do seu presidente pela sua presença e apoio logístico, quero também deixar aqui uma nota de carinho, para um casal que se deslocou do Fundão "cujo nome desconheço" apenas com a informação de que na Chã se ia realizar um encontro de concertinas, pondo os pés ao caminho sem sequer saber onde era a Chã, mas quem tem boca vai a Roma e à hora do início lá estavam, comentando no final coisas que nos sensibilizaram, tais como as que atrás mencionei, ainda bem amigos que não deram por mal empregue a deslocação e tempo perdido, deixo aqui também o agradecimento ao Presidente da Câmara Municipal de Castanheira de Pêra, que embora com agenda sobrecarregada, não deixou de dar um abraço aos seus amigos da organização, com os desejos de tudo a correr pelo melhor. Pena foi que não pudesse dispor de mais tempo; mas quem assume o compromisso de servir as autarquias desde que responsável, tem logo à partida o seu tempo limitado.
Muita coisa poderia acrescentar a este texto relacionado com as concertinas; mas por agora fico-me por aqui. Apenas dizer aos Chãsenses que, enquanto os nossos autarcas estiverem connosco, enquanto a organização achar por bem continuar e me quiserem no seu seio, estarei sempre disponível para elevar cada vez mais, através do encontro de concertinas, o nome da freguesia de Alvares, do Concelho de Góis, quiçá do distrito de Coimbra. Até lá, amigos, um forte abraço.
Mirante
in Jornal de Arganil, de 21/06/2007

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Quero dar os parabens a organização do 4º encontro de concertinas da chã de alvares.
Foi a terceira vez que estive presente neste encontro e posso afirmar que se os outros foram muito bons este sem duvida superou as minhas espectativas.
Todos os presentes ficaram satisfeitos ao espectaculo ao qual assistiram.
Tivemos no palco grandes tocadores de concertinas, ao Sr. Marcelo Francisco, Sr. Carlos Vitor, Manuel Pinto, e Eng. Martins Costa todos ja conhecidos pela população da Chã que mostraram o que valem em cima do palco juntamente com a voz do Ernesto quero agradecer por todo o apoio que me teem dado.
Aos meninos Tiago, Filipe, Daniel, Filipe assim como ao Sr. Diamantino e ao Sr. Fernando quero agradecer pela disponibilidade de se terem deslocado para mostrarem o que sabem fazer com uma concertina na mão!
Sim, porque nao é so a organização que deve agradecer mas tambem as pessoas que estiveram a assistir e ficaram totalmente satisfeitas.
Espero que este ano estajam novamente presentes, e que o 5º encontro de concertinas de Chã de Alvares seja tao bom ou ainda melhor que o anterior!
Novamente o meu agradecimento e os meus parabens a organização do encontro pelo exelente trabalho realizado.
Os meus parabens tambem ao café Miguélia pelo almoço que estava delicioso.
Os meus sinceros cumprimentos para toda a população da Chã e para todos que assim como eu gostam de a visitar.

Sónia Henriques

03 abril, 2008 13:23  

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