sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Restaurante A Tranca da Barriga

Rosa Paula Henriques nasceu em Leiria mas hoje é umas das mais fiéis guardiãs da cultura e da tradição da aldeia da Cabreira, no concelho de Góis.

Sempre que um homem sonha

O próprio nome do restaurante evoca uma expressão que a protagonista desta história se habituou a ouvir aos habitantes da aldeia da Cabreira. A "tranca da barriga" era, então, para Paula Rosa, a sopa que saciava a fome depois de um dia de trabalho. Hoje é um sonho feito de pedra de xisto e de muita garra.

Foi o casamento que a fez trocar Leiria por este recanto do distrito de Coimbra, rodeado de verde e abraçado pelo rio Ceira. Uma casa sempre cheia habituou-a a cozinhar para muita gente e revelou-lhe um jeito especial para as lides gastronómicas, cuja fama se foi alastrando. Começaram a chegar os pedidos de refeições por encomenda, que Rosa conciliava com os trabalhos artesanais (como casinhas de pedra) com que representava a Câmara Municipal de Góis em feiras e outros eventos. Até que a edilidade a escolheu para preparar uma Tibornada, a refeição típica dos lagareiros, para um programa de televisão.

Quando a Transserrano, empresa de formação e serviços na natureza, começou a organizar as Rotas do Azeite - desde a apanha da azeitona à dita Tibornada -, a parceria estabeleceu-se naturalmente. Os resultados foram tão positivos que, reunidas uma série de circunstâncias favoráveis, Rosa Paula Henriques decidiu deixar de andar "com a casa às costas" e, conjuntamente com o marido, Armando Alves Henriques, abrir um restaurante. A inauguração teve lugar em Abril de 2005.


Água na boca

O edifício que alberga "A Tranca da Barriga" tem três andares. A entrada faz-se pela zona de cafetaria. Segue-se a sala de refeições, no primeiro andar, e a esplanada, no segundo, antecedida por uma sala que receberá, em breve, exposições de objectos antigos e artesanato regional.

O restaurante só encerra à segunda-feira. Durante os dias de funcionamento, as regras são as seguintes: de terça a sexta ao almoço há um prato do dia e algumas opções de preparação rápida. Já ao sábado e domingo, ao almoço, conte com Chanfana, Lombo de Porco Assado e Bacalhau à Casa. Depois acrescente-lhes, conforme a inspiração da chef e a disponibilidade dos ingredientes (grande parte de proveniência caseira), Arroz de Pato, Arroz de Cabidela, Meia Desfeita, Favas "Aporcalhadas", Entrecosto e Feijoada.

Mas a ementa não se fica por aqui. Mediante encomenda prévia, poderá ainda saborear Cabrito no Forno, Bacalhau à Lagareiro, Sopa da Avó (enriquecida com enchidos), Sopa de Peixe à moda de S. Pedro de Moel (em memória dos tempos de infância, quando ainda se comprava peixe directamente aos barcos dos pescadores) e a famosa Tibornada. Para quem não conhece, passamos a explicar em que consiste este prato típico.


A tradição ainda é o que era

Já referimos que a Tibornada é o manjar por excelência dos lagareiros, que assim provavam o azeite acabado de fazer. A preparação original consistia em cozer bacalhau, batatas e couve portuguesa separadamente. Depois de escorridos, os ingredientes eram colocados num alguidar de barro de forma quase cónica: primeiro as batatas, depois o bacalhau desfeito em grandes lascas e, por fim, a couve. Regava-se com azeite e alho (previamente fervidos em conjunto) e levava-se ao lume só até levantar fervura. Tapava-se durante cerca de 15 minutos e pronto. O mestre, o moço e as pessoas que tivessem levado as azeitonas até ao lagar comunitário saboreavam a refeição (comendo todos do mesmo alguidar, acrescente-se).

As diferenças entre esta versão e aquela que se serve n' A Tranca são poucas - já não existe o alguidar de barro, porque a legislação a isso obriga, e todos os comensais têm direito ao seu próprio prato!

Até agora só falámos de almoços. Isto porque os jantares só se servem com marcação prévia. Aliás, a marcação prévia serve precisamente para contornar todas as regras da casa. Por isso, organize-se com alguma antecedência (um dia basta) e junte um grupo de familiares ou amigos para descobrir esta aldeia viva. Aproveite e peça ao casal Henriques que lhe mostre o Moinho de Água e o Lagar Comunitário da Cabreira. E depois deixe-se contagiar pelo incansável entusiasmo de Rosa Paula a desvendar as tradições do passado e os seus projectos para o futuro.
Telefone: 235 772 063
in www.lifecooler.com

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