sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Pelourinhos

Símbolo da autonomia administrativa concelhia, o pelourinho recorda o que foi esse poder local tão característico da tradição política portuguesa e definido nas Cartas de Foro.
O pelourinho elevava-se em destacado sítio normalmente fronteiro à Casa da Câmara, centro cívico da vila ou cidade e, além de ser como que padrão jurisdicional, era instrumento de expiação de delitos. A ele se acorrentavam os condenados, presos pela cintura a cadeias suspensas de argolas, expondo-se assim à população. Também ali se aplicavam castigos maiores, como flagelação e amputação, mas só raramente serviu de patíbulo. A aplicação da sentença de pena de morte não competia às autoridades locais e para sua execução existiam as forcas erguidas em locais isolados, fora das povoações.
Apesar das destruições de pelourinhos devidas ao liberalismo oitocentista, numerosas sedes concelhias - e muitas deixaram de o ser - conservam felizmente esses monumentos arquitectónicos e históricos levantados desde a Idade Média até aos fins do século XVIII. Os pelourinhos obedecem a um esquema compositivo geral - uma coluna com capitel e remate cimeiro, guarnição de ferro e base sobre degraus que dão mais proeminências ao monumento. Da evolução dos estilos arquitectónicos resulta a diversidade decorativa que vai da singeleza românica às elegâncias gótica e manuelina, ao classicismo renascentista, ao barroco, ao rocaille, ao neoclássico. Naturalmente as épocas de mais concessões de forais - como as de D. Dinis e de D. Manuel I - assinalam-se com maior número de pelourinhos ou picotas, como também foram chamados.
Proporções e ornatos de colunas definem os estilos, mas os pelourinhos identificam-se pelos coroamentos que se agrupam, segundo a classificação de Luís Chaves, nos tipos de: gaiola, elemento decorativo normalmente de secção quadrada com janelas entre colunelos; roca, esférico ou prismático; tabuleiro, com profusão de colunelos; coluço, bloco prismático, piramidal ou fantasioso; pinha, picota ou chapéu, remate cónico ou piramidal, com ou sem esfera armilar; bola, remate de simplificação dos anteriores; extravagante, de influência etnográfica, histórica ou de fantasia.
Cada pelourinho constituiu um forte desafio à capacidade criativa dos artistas chamados a fazer tão singelo esquema - base e coluna - uma obra bela, digna e original.