sexta-feira, 24 de abril de 2009

Santuário da Senhora do Desterro

Faz parte do imaginário da geração de sessenta a história fantástica que se desenrola à volta do Santuário da Senhora do Desterro, localizado lá no cimo do cerro, onde ocorria todos os anos uma romaria das gentes serranas, oriundas de todo o vale das Mestras, do Corterredor e do Cadafaz, tal como da vertente dos Amieiros e das Rodas. Romaria esta que, na época, fazia furor o seu folclore e a garridice que lhe deram a notoriedade como sendo uma das mais concorridas, mas sobre a qual já poucos dos vivos poderão testemunhar todo este folguedo.
Esta capela de estilo curioso e pouco vulgar (coisa muito próxima do românico antigo) foi, em tempos, objecto de alguns desentendimentos entre os povos das aldeias vizinhas, os quais, ao que sabemos, estão largamente ultrapassados e esquecidos, tal como as antigas romarias dirigidas a este Santuário, tradição que aos poucos vai ficando no esquecimento dos tempos. O espaço circundante, ermo espantoso de horizontes e serranias, esteve ligado por muitos anos à pobre e difícil actividade da exploração de carvão vegetal, que se estendia por aquelas vertentes abaixo.
Com este cenário vetusto e grandioso, por fundo, desenrola-se uma história que será apresentada ao público no dia 9 de Maio, no auditório da ADIBER, Góis, com a finalidade de deixar um registo desta espantosa margem esquerda do Ceira. Ela envolve a gente serrana nas suas mais duras tarefas, onde é posta à prova a sua capacidade de luta e resistência, cuja fidelidade tem resistido à voracidade dos tempos e ainda hoje são visíveis sinais de preservação e respeito pelo seu valioso e belo património arquitectónico e paisagístico. São indícios fortes da sua autenticidade que se colocam muito para lá da estética ligada à harmonia do espaço, ainda que esta seja muito apreciável. Trata-se duma maneira de ser, um apego indefectível.
A história acima referida, também nos dá conta das gentes que tiveram de procurar outras regiões do País, em busca de melhores condições de trabalho, mas depois de terminado o ciclo laboral, tentaram regressar ao seu cantinho para terminarem os seus dias em paz. Acontece que já nem todos possuíam esse recanto sagrado, o que os deixa numa posição desconfortável. Esta situação é posta em relevo naquele sentido, não de enxovalho ou de recriminação, mas apenas em homenagem àqueles que querendo, já não podem voltar ao seu torrão.
Entendemos ser um dever de cidadania, chamar a atenção para as belezas naturais dum concelho que, dadas as suas características, fica um pouco à margem do desenvolvimento dito moderno, uma vez que tem particularidades invulgares (para outros voos) dignas de serem realçadas, ao ponto de ocuparem um lugar de destaque, se forem devidamente promovidas como imagem de marca.
São as características próprias duma região que a singularizam. Mas temos de ser nós a preservar e valorizar esse nosso património, que pode ser uma mais valia na captação de visitantes.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 23/04/2009

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5 Comments:

Blogger Armenio said...

O Povo Chamava-lhes: "Festas de Santiago",era a festa de "eleição" do meu falecido PAI.Dia de Santiago não podia haver milho para regar, se naquele dia calhava àgua na roda da rega trocava-a com o vizinho, e lá ia a familia para a festa; Mãe, Pai e três filhos dos quais sou o mais novo. Percorriamos em cerca de hora e meia, a distância entre o Corterredor e o Alto da Senhora do Desterro, sempre em grupos com muita gente jovém e alegre, (iam pá festa). A minha Mãe já havia começado a tratar do "farnel" no dia anterior onde não podia faltar as filhós e aletria. Chegados ao local, assistiamos às cerimónias religiosas e quando estas terminavam, estendia-se a manta para almoçar debaixo de pinheiros mejestosos que se localizavam junto à estrada que liga à Pampilhosa da Serra e já desapareceram há muitos anos. Havia um nascente com estanque de àguas cistalinas e frescas onde o "Ti Casimiro da Serra" mandava as netas recolher àgua em cantaros de barro para confecionar e vender na sua tenda "refrescos de limão". Eram convívios puros e francos, enquanto os homens convidavam com um: "anda cá provar do meu" as mulheres apreciavam as iguarias em que tanto se tinham empenhado para aquele dia importante. Ao meio da tarde havia bailarico no "Terreiro da Santa", abrilhantado (como se dizia)pelo "Seiroco" de Arganil, o que era um luxo, havendo de quando em vez a respectiva pausa para leiloar as aferendas ou "fugaças". Chegavam "ranchos de jovens" do: Carvalhal, de Aldeia Velha, dos Cepos, do Cadafaz, da Cabreira,do Tarrastal,do Corterredor, das Mestras, das Malhadas da Serra, do Braçal,dos Amieiros das Rodas Fundeira e Cimeira da Semim Torta e.. desculpem se esqueci alguma.
Enquanto os homens passavam a tarde a "beberricar" na tenda do "Ti Casimiro", (alguns dava-lhes para dormir em cima das carquejas) outros "os de máu vinho", dava-lhes para desacatos tipo porrada daquela de puxa páu de marmeleiro que até arrepiava o colarinho da camisa, as mulheres ficavam de atalaia às moçoilas
suas filhas ou protegidas não fossem as fogosas cair na tentação de bailar com algum suposto mal nascido em berço de mulher sem vergonha ou de Pai bêbado e fumador.Ao fim do dia terminava ali a romaria, mas continuava nas Mestras até às tantas, com luz de gerador, o que era outro luxo só para dia de festas. Já não passo na Senhora do Desterro, faz alguns anos,mas jamais esquecerei a vista soberba sobre montes e vales que nos é permitido saborear junto daquela Ermida.Hoje fui longe, peço desculpa por isso, mas a vivência nestes hábitos e costumes contribuiram para fortalecer os pilares da minha formação, e recordá-las é uma benção e um previlégio,por esse tempo eu teria a bonita idade de seis, sete anitos...Há...já me esquecia a cerca de 200 metros da Capelinha no sentido Norte existia um nascente com àgua maravilhosa (não me recordo do nome mas vou saber junto da minha MÃE, que tem quase 90 anos, mas uma memória de elefante.

Fiquem bem e não esqueçam:
Sejam Felizes,

Arménio Silva

24 abril, 2009 23:46  
Anonymous marcio said...

PARABENS AO AUTOR POR SE LEMBRAR DAS MESTRAS E ENFIM DO CONCELHO DE CADAFAZ.

BEM-HAJA

25 abril, 2009 22:52  
Anonymous Anónimo said...

Exacto. Do "concelho" de Cadafaz, pois claro. Então bem haja!!! E já agora aquela da "Semim Torta", não lembra ao diabo. Imaginem se fosse "Semim Direita", o problema que não era!!!
Mas valeu pelas recordações de tempos idos. Tempo danados direi eu, e que se espera que nunca mais voltem. É que sabe, quando se tem 6 ou 7 anitos, como diz, é tudo maravilhoso!...

26 abril, 2009 23:07  
Blogger Armenio said...

Aprendi que ser humilde, é ser gigante, que ninguem nasce "sabido" e que errar é Humano e é com base nestes prossupostos que não tolero a arrogância, a estupidez e o cinismo. Dito isto e porque tenho uma divida de gratidão para com o autor deste blogue, apras-me apenas dizer o seguinte: Será que o Sr. sabichão da critica fácil e demagógica; anónimo por cobardia, uma vez isento da pia baptismal; quando se refere a "simim direita" se está a reportar à ferramenta com que lhe foram forjados os ...orelhas, cujo forneiro evenctualmente não seberá quem é bem como o nome do proprietário onde os mesmos foram temperados? Do modo como se refere à minha jovem idade à altura, V. Exa. já deve ser um rapazote com idade para ter juizo.

Já escrevi aqui que respeito o "anonimato", respeito para ser respeitado,escrevo para pessoas. Porcos ainda só os vi andar de bicicleta.

eu sou o Arménio e sou do Corterredor, desde que me conheço que oiço pessoas chamar-lhe "Cortadol", nunca apontei o dedo a ninguem, porque sei que ao faze-lo, ficava com três dedos apontados para mim...

Fiquem bem

27 abril, 2009 22:28  
Anonymous Anónimo said...

Só que vocemecÊ NÃO É HUMILDE, nem nada que se pareça. É mal-educado, é mal-intencionado, pede meças a muitos irracionais que por aí andam.
E o facto de ser deficiente de guerra não lhe dá o direito de ofender ninguém, especialmente porque não sabe quem é? Afinal quem é o cobarde? Se soubesse, porventura não respondia como o fez! Se está "doente", trate-se!
Por outro lado acho que escreveu mal o nome da aldeia da Simantorta, de forma intencional, porque não errou em nenhuma das outras nomeações.
E, para acabar, se não quer aceitar críticas, vá desopilar para outro lado, porque aqui temos mais que fazer que aturar os seus humores...

28 abril, 2009 15:47  

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