Bombeiros de Góis: 50 anos depois...
Na comemoração dos 50 anos da criação da Associação dos Bomneiros Voluntários de Góis, no passado mês de Outubro, quis o destino que um dos membros fundadores da Comissão Instaladora, Fernando Carvalho Ribeiro, o único sobrevivente, explanasse o que sentia em relação ao dia que se estava a viver; e daí transcrevemos as suas palavras, já que elas encarnam a história da Corporação, como sócio n.º 1. E contou assim a forma como nasceu a Associação:
Foi no início dos anos 50. Numa vila do interior, cuja maior riqueza é a floresta, era notável a falta de um corpo de bombeiros que pudesse resolver os problemas ligados a essa mesma floresta, o acidentado do terreno, às necessidades das populações, dificuldades inerentes a qualquer região com essas características.
Havia na época, dependente da Associação Educativa e Recreativa de Góis, um serviço de Salvação Pública, formada por sete elementos: Vítor Soares Claro, comandante; e os bombeiros Mário Martins de Almeida, Serafim Soares Claro, António Cerdeira Claro, Ernesto Marques, Armindo dos Reis e António Gama.
Dotados de grande dedicação e espírito altruísta, qualidades nunca publicamente reconhecidas, faziam o serviço de Bombeiros, transportando especialmente doentes para vários hospitais, utilizando para isso uma ambulância Chevrolet.
Para estes homens, injustamente esquecidos, aqui fica a minha homenagem.
A ambulância, um reboque de duas rodas, uma motobomba, mangueiras, machados e outros materiais, estavam guardados numa garagem que ficava situada onde hoje se encontra o Centro de Saúde.
Perante tantas carências eu e mais quatro goienses preocupados: Guilherme de Almeida Alves Melão, Romeu Alves Baptista, José da Costa Rodrigues Bandeira e Fernando Nunes da Silva Monteiro, dispusemo-nos a trabalhar para formar em Góis um corpo de Bombeiros devidamente oficializado.
À falta de uma sede própria, fizemos as primeiras reuniões no escritório de Guilherme Melão. Algum tempo depois o Dr. Alberto Baeta da Veiga cedeu-nos, gratuitamente, uma casa situada na Rua da Misericórdia, onde instalámos a secretaria e o armazém. Sem dinheiro para compras, conseguimos da Câmara Municipal algum mobiliário: uma secretária, cadeiras e uma estante.
Devo dixer que todas as portas se nos abriram, pois todos os goienses desejavam colaborar e se sentiam entusiasmados com o nosso trabalho.
E, a propósito, conto aqui um episódio com alguma graça: faltavam na nossa sala de reuniões duas lâmpadas.
Dirigi-me à Havaneza Goiense e aí as adquiri, sem me lembrar que meu tio Fernando Pires também vendia lâmpadas na sua loja.
Logo alguém o foi informar da minha compra na concorrência, o que veio a provocar um conflito familiar.
Coisas de terras pequenas...
Começámos então a elaborar os estatutos, pelos quais se iriam reger os futuros Bombeiros de Góis.
As corporações dos Bombeiros do Centro do país estavam subordinados à Inspecção Regional dos Bombeiros do Norte.
De acordo com os restantes elementos, fui designado para ir ao Porto pedir ajuda financeira para o nosso empreendimento. Ali me desloquei cheio de esperança. Fui bem recebido pelo Major Serafim Morais que, embora o tenha feito com muita simpatia, me negou a atribuição de qualquer subsídio, pois só o faria quando verificasse trabalho que futuramente pudéssemos vir a realizar.
Voltei como fui, mas não desanimámos. Com a ajuda de alguns donativos, de quotas de sócios que fomos conseguindo, de bailes e festas que organizámos, juntámos as primeiras verbas para o expediente e outras despesas mais urgentes, e, elaborados os estatutos, devidamente assinados e datados de 24 de Julho de 1956, foram estes enviados ao Governo Civil de Coimbra, a fim de serem apreciados e aprovados.
Dois meses depois, a 13 de Setembro, por despacho do Governador Civil, foram aprovados os estatutos e nasceu a Associação Humanitária dos Bombeios Voluntários de Góis, cuja Comissão ficou assim constituída: Guilherme Almeida Alves Melão (presidente), Romeu Alves Baptista (tesoureiro), Fernando Rodrigues Carvalho Ribeiro (secretário), José da Costa Rodrigues Bandeira e Fernando Nunes da Silva Monteiro (vogais).
Aos bombeiros que já faziam parte do serviço de Salvação Pública juntaram-se novas aquisições: António Alves da Gama, Casimiro Rodrigues, David Rodrigues Paixão, Fernando Nunes da Silva Monteiro, Fernando Rosa Simões, Francisco Gama Custódio, José da Costa Rodrigues Bandeira e Vítor Manuel Nogueira Dias.
Dada a distância no tempo (já lá vão cinco décadas)se eventualmente esqueci alguém, desde já apresento as minhas desculpas.
Para preparar estes novos elementos contratámos um instrutor dos Bombeiros Voluntários de Coimbra, sr. Chefe Silva, que se deslocava a Góis para dar instrução. Estes novos bombeiros deslocavam-se também a Coimbra para fazer os exercícios práticos.
Foi também nessa data que decorreu o processo de nomeação de Romeu Alves Baptista para comandante da corporação, lugar que ocupou durante muitos anos.
Assim nasceu esta Associação.
Foi há cinquenta anos, Amigos Bombeiros.
Muito caminho foi percorrido, mas muito há a percorrer.
Hoje mais do que nunca, a nossa terra, a nossa gente e a nossa floresta precisam de vós.
Mas os goienses não podem alhear-se dos vossos problemas.
Todos sabemos que a corporação está a passar dias difíceis.
Todos temos obrigação de colaborar moral e financeiramente, no progresso e bem-estar desta Associação, porque todos nós precisamos dos Bombeiros.
in Jornal de Arganil, de 4/1/2007
Foi no início dos anos 50. Numa vila do interior, cuja maior riqueza é a floresta, era notável a falta de um corpo de bombeiros que pudesse resolver os problemas ligados a essa mesma floresta, o acidentado do terreno, às necessidades das populações, dificuldades inerentes a qualquer região com essas características.
Havia na época, dependente da Associação Educativa e Recreativa de Góis, um serviço de Salvação Pública, formada por sete elementos: Vítor Soares Claro, comandante; e os bombeiros Mário Martins de Almeida, Serafim Soares Claro, António Cerdeira Claro, Ernesto Marques, Armindo dos Reis e António Gama.
Dotados de grande dedicação e espírito altruísta, qualidades nunca publicamente reconhecidas, faziam o serviço de Bombeiros, transportando especialmente doentes para vários hospitais, utilizando para isso uma ambulância Chevrolet.
Para estes homens, injustamente esquecidos, aqui fica a minha homenagem.
A ambulância, um reboque de duas rodas, uma motobomba, mangueiras, machados e outros materiais, estavam guardados numa garagem que ficava situada onde hoje se encontra o Centro de Saúde.
Perante tantas carências eu e mais quatro goienses preocupados: Guilherme de Almeida Alves Melão, Romeu Alves Baptista, José da Costa Rodrigues Bandeira e Fernando Nunes da Silva Monteiro, dispusemo-nos a trabalhar para formar em Góis um corpo de Bombeiros devidamente oficializado.
À falta de uma sede própria, fizemos as primeiras reuniões no escritório de Guilherme Melão. Algum tempo depois o Dr. Alberto Baeta da Veiga cedeu-nos, gratuitamente, uma casa situada na Rua da Misericórdia, onde instalámos a secretaria e o armazém. Sem dinheiro para compras, conseguimos da Câmara Municipal algum mobiliário: uma secretária, cadeiras e uma estante.
Devo dixer que todas as portas se nos abriram, pois todos os goienses desejavam colaborar e se sentiam entusiasmados com o nosso trabalho.
E, a propósito, conto aqui um episódio com alguma graça: faltavam na nossa sala de reuniões duas lâmpadas.
Dirigi-me à Havaneza Goiense e aí as adquiri, sem me lembrar que meu tio Fernando Pires também vendia lâmpadas na sua loja.
Logo alguém o foi informar da minha compra na concorrência, o que veio a provocar um conflito familiar.
Coisas de terras pequenas...
Começámos então a elaborar os estatutos, pelos quais se iriam reger os futuros Bombeiros de Góis.
As corporações dos Bombeiros do Centro do país estavam subordinados à Inspecção Regional dos Bombeiros do Norte.
De acordo com os restantes elementos, fui designado para ir ao Porto pedir ajuda financeira para o nosso empreendimento. Ali me desloquei cheio de esperança. Fui bem recebido pelo Major Serafim Morais que, embora o tenha feito com muita simpatia, me negou a atribuição de qualquer subsídio, pois só o faria quando verificasse trabalho que futuramente pudéssemos vir a realizar.
Voltei como fui, mas não desanimámos. Com a ajuda de alguns donativos, de quotas de sócios que fomos conseguindo, de bailes e festas que organizámos, juntámos as primeiras verbas para o expediente e outras despesas mais urgentes, e, elaborados os estatutos, devidamente assinados e datados de 24 de Julho de 1956, foram estes enviados ao Governo Civil de Coimbra, a fim de serem apreciados e aprovados.
Dois meses depois, a 13 de Setembro, por despacho do Governador Civil, foram aprovados os estatutos e nasceu a Associação Humanitária dos Bombeios Voluntários de Góis, cuja Comissão ficou assim constituída: Guilherme Almeida Alves Melão (presidente), Romeu Alves Baptista (tesoureiro), Fernando Rodrigues Carvalho Ribeiro (secretário), José da Costa Rodrigues Bandeira e Fernando Nunes da Silva Monteiro (vogais).
Aos bombeiros que já faziam parte do serviço de Salvação Pública juntaram-se novas aquisições: António Alves da Gama, Casimiro Rodrigues, David Rodrigues Paixão, Fernando Nunes da Silva Monteiro, Fernando Rosa Simões, Francisco Gama Custódio, José da Costa Rodrigues Bandeira e Vítor Manuel Nogueira Dias.
Dada a distância no tempo (já lá vão cinco décadas)se eventualmente esqueci alguém, desde já apresento as minhas desculpas.
Para preparar estes novos elementos contratámos um instrutor dos Bombeiros Voluntários de Coimbra, sr. Chefe Silva, que se deslocava a Góis para dar instrução. Estes novos bombeiros deslocavam-se também a Coimbra para fazer os exercícios práticos.
Foi também nessa data que decorreu o processo de nomeação de Romeu Alves Baptista para comandante da corporação, lugar que ocupou durante muitos anos.
Assim nasceu esta Associação.
Foi há cinquenta anos, Amigos Bombeiros.
Muito caminho foi percorrido, mas muito há a percorrer.
Hoje mais do que nunca, a nossa terra, a nossa gente e a nossa floresta precisam de vós.
Mas os goienses não podem alhear-se dos vossos problemas.
Todos sabemos que a corporação está a passar dias difíceis.
Todos temos obrigação de colaborar moral e financeiramente, no progresso e bem-estar desta Associação, porque todos nós precisamos dos Bombeiros.
in Jornal de Arganil, de 4/1/2007
Etiquetas: bombeiros voluntários
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