sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Despovoamento

Muito já foi dito e escrito sobre as causas do despovoamento na nossa região à semelhança do que ocorreu em todo o interior do país, tendo já sido apontados vários factores de desenvolvimento, com maior relevância, para a ausência de meios de comunicação, como os principais responsáveis pela calamitosa desertificação que nos tocou pela frente.
Importa aqui referir que, por várias razões, incluído o excesso de mão de obra, a nossa região fez sempre parte do mapa de origem de migrações para diversos pontos do país; destinos esses onde a sua aplicação não só era útil como indispensável. Tratava-se de migrações sazonais (tempo limitado), findo o qual, o regresso às origens desencadeava-se dentro da normalidade, sem causar qualquer alteração no tecido social da região de acolhimento.
Deixando de lado o aspecto da exploração de mão-de-obra barata, aliás próprio daquela época, esta movimentação da população activa tinha um peso importante na economia do país, quer pelo trabalho produzido (riqueza), quer pelas jornas auferidas, cujos montantes davam algum suporte ao magro orçamento de muitas famílias radicadas noutras zonas. Assim se caracterizava a frágil economia na época anterior à "industrialização" da agricultura do país. Tempos de "vacas magras"...
Posteriormente, seguiu-se outro tipo de migração dos braços de trabalho, este agora sem regresso às origens. Migração com destino aos grandes centros, com contornos de enraizamento nas terras de acolhimento, cujas consequências nas aldeias de origem foram desastrosas em termos de desequilíbrio de densidade populacional, as quais, deixaram atrás de si um rasto de desertificação, jamais verificado em toda a história, donde, resultaram grande feridas no tecido sócio-económico, ainda hoke, por sarar.
Estávamos então - sabemo-lo agora -, no advento da livre circulação de bens e pessoas no novo espaço económico europeu o que viria a mudar todas as regras. Assim, mal nos dávamos conta que, com estas alterações, a renovação dos braços de trabalho na nossa região não se viriam a verificar. Nem, tão pouco, o retorno da força do trabalho às suas origens aconteceria, nem provavelmente acontecerá em larga escala; face à nova ordem do mercado onde a oferta e a procura ditam leis. "Mudam-se os tempos mudam-se os ventos"...
Sendo assim e esquecendo as políticas então desenvolvidas que ditaram o despovoamento da nossa região, torna-se agora clara a contribuição inocente dos actores da saga da desertificação, os quais, calcorrearam os caminhos escaldantes que a ela os conduziram, na busca de melhores condições de vida. Perante esta conclusão, difícil de aceitar por inteiro - sejamos coerentes -, falta agora saber quem estará disponível para contar tal história, com estes contornos, a fim de que lacunas não produzam novas causas esquecidas.
Adriano Pacheco
in O Varzeense, de 30/11/2006

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