quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Parabéns ao "Ramal da Lousã"

Em 16 Dezembro de 2006 comemoram-se os 100 anos da inauguração da linha férrea que liga Coimbra a Serpins, mais conhecida por Ramal da Lousã!
Brindemos pois ao seu centenário!
Pode dizer-se que a polémica tem acompanhado a sua vida desde que nasceu, já que esta linha estava projectada para terminar em Arganil e… ficou-se por Serpins! As suas obras, nomeadamente um túnel quase concluído, chegaram a aflorar os arredores de Vila Nova do Ceira.
Nos últimos 30 anos, a polémica tem-se centrado nas operações plásticas a que a linha deve ser submetida, sem qualquer conclusão visível. Impávida, a vetusta linha, com as suas rugas e achaques, continua a fazer deslizar o seu comboio, movida por uma força interior que lhe é, indubitavelmente, induzida pelas populações que serve, já que foi e ainda é, o meio de transporte mais importante para trabalhadores e estudantes, entre Lousã, Miranda do Corvo e Coimbra.
Nos dias de aniversário, há uma tendência natural para passar um “flash” sobre o passado… e como o “comboio da Lousã” se deve sentir orgulhoso pelo seu contributo para o desenvolvimento económico, cultural e social, não só dos concelhos que serve, mas também dos povos serranos dos concelhos de Góis, Arganil, Pampilhosa da Serra e Castanheira de Pêra!
O seu papel foi vital até aos anos 70, no intenso movimento de transporte de pessoas, mercadorias e, inclusivamente do «correio», em interligação com as várias carreiras de camionagem que na Lousã tinham o seu início.
E é essa “época de ouro” deste comboio centenário que aqui faço questão de recordar.
No Largo da Estação da Lousã, entre grande azáfama do chefe da estação, factores e carregadores, era feito o transbordo para a camioneta da carreira Lousã/Pomares (Empresa Arganilense) que servia os concelhos de Góis e Arganil, para a camioneta da carreira que servia a Pampilhosa da Serra (Empresa Viação da Beira) e para a camioneta da carreira com destino a Castanheira de Pera (Empresa Fernandes & Neto).
Existia um comboio diário que saía de Lisboa, por volta das 23H30, com destino ao Porto, mas uma das suas carruagens tinha como destino – Serpins. Em Coimbra, essa carruagem era desligada desse comboio e atrelada ao comboio do ramal da Lousã. Assim, passageiros e mercadorias saíam de Sta. Apolónia e, sem qualquer transbordo, estavam na Lousã às 06H30 da manhã seguinte… e, com algumas horas de camioneta chegavam ao seu destino, nas recônditas aldeias das serras do Açor e da Lousã!
Pelo Natal e no período do Verão, o movimento de passageiros vindos de Lisboa e que se dirigiam às suas terras de origem, aumentava significativamente, o que obrigava as empresas de camionagem a efectuar vários “desdobramentos” de carreira para responder a tal afluxo de movimento.
Mas para além dos passageiros, mercadorias e correio, o “comboio da Lousã” também transportava… peixe! E esse facto, hoje talvez um pouco insólito, traz-me à memória um episódio com que eu própria convivi.
Tinha uma tia que vivia em Lisboa, mais especificamente em Alfama. Ao fim da tarde, comprava, no cais do Tejo, peixe acabado de pescar, seguia para casa a fritá-lo, metia-o num cabaz, corria a Sta. Apolónia e despachava-o no comboio da noite. Na madrugada do dia seguinte, o cabaz chegava à Estação da Lousã, seguia na camioneta para Góis, onde um portador o esperava. Na aldeia da Cabreira, ao almoço, os pais da minha tia saboreavam o peixe frito, pescado na véspera, a quase 300 Km de distância!
O transporte do correio feito através da interligação comboio/camioneta, não seria tão rápido como os actuais cor-reios “azul ou verde”, mas quase…
Da autêntica saga que era então esse transporte de correio, lembro-me da “Ti Maria” de Celavisa, que, diariamente, na estrada Arganil/Lousã, com as cartas de toda a Freguesia na mão, bem estendida no ar e muitas vezes a correr ao lado da camioneta, esperava que o revisor da camioneta as recolhesse … em andamento! Esse correio, reunido ao longo de todo o trajecto nas várias povoações, era depois acondicionado em sacos dos CTT e seguia para o comboio.
Este meio de transporte, que teve na sua génese a invenção da máquina a vapor, deu origem a grandes transformações, a todos os níveis e contribuiu, de modo inegável, para esbater o isolamento a que as nossas zonas serranas estavam votadas, apesar de não as servir directamente.
Por tudo isto, ao centenário Ramal da Lousã, aos velhos comboios a vapor, às velhinhas automotoras azuis e agora verdes, os nossos Parabéns!
Maria Teresa Cardoso Lopes
in O Trevim, de 14/12/2006

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1 Comments:

Blogger mcnuno said...

... boas! Gostei do texto em particular da parte da azafama da Estação da Lousã. Será que podamos falar sobre o que tem escrito e sobre o ramal?

O meu mail: ideias.em.rti@gmail.com

RR

30 setembro, 2008 12:30  

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