quinta-feira, 22 de maio de 2008

Góis rende-se à magia dos livros

Até domingo, o Largo Francisco Inácio Dias Nogueira, em Góis, enche-se de cultura e animação com a Feira do Livro. A inauguração contou com o lançamento da obra “Dos objectos para as pessoas”, de autoria de Lisete Matos

Segundo Maria Helena Moniz, com a Feira do Livro, este ano dedicada ao tema “Património Cultural” e a decorrer numa tenda implantada no antigo Largo do Pombal, pretende-se «promover o encontro entre leitores e livros, de forma dinâmica e atractiva», dinamizando «diversos ateliers direccionados à participação, quer dos mais jovens quer dos menos jovens». Á semelhança do ano transacto, a aposta continua a ser, de acordo com a vereadora responsável pelo pelouro da Cultura na autarquia, a «divulgação das obras daqueles que, sendo naturais ou ligados ao concelho de Góis, merecem o nosso reconhecimento, pois a sua obra enriquecerá o património cultural da região».
Assim, e tendo em conta esse objectivo, assistiu-se ao lançamento do livro de Lisete de Matos e, no domingo, vai ser apresentada a obra “Inconfidências e diário de bolso”, de José Pais, contando ainda, na sexta-
-feira, com uma palestra sobre o cônsul Aristides Sousa Mendes, um trabalho da responsabilidade da turma A do 9.º ano da Escola Básica 2,3 de Góis. Neste certame os mais pequenos não foram esquecidos, estando preparado um espaço de animação e leitura, a cargo da educadora Helena de Jesus.
A ideia, segundo a vereadora da Cultura, foi elaborar um programa diversificado, «do agrado de todos e que possa motivar uma repetida visita ao certame, encontrando nele motivos interessantes, que possam estimular o gosto pelos livros e pelo património cultural que urge preservar».
Em representação do Agrupamento de Escola de Góis que, juntamente com o Projecto Escolhas do Futuro, a Fundação para Divulgar as Tecnologias de Informação e a Associação Educativa e Recreativa de Góis, são parceiros deste evento, esteve o seu presidente, José Ângelo Albuquerque enfatizou essa parceria. «Quero agradecer à autarquia esta parceria, no sentido de voltar a pôr de pé a feira do livro», regozijando-se por ser também «uma forma de homenagear os escritores da terra, o que é importante para a cultura do nosso concelho». O presidente do conselho executivo do Agrupamento de Escolas lançou ainda um desafio à edilidade, para que seja estabelecido um protocolo de entendimento, de forma a inserir a Escola no Plano Nacional de Leitura.

Homenagem às gentes
da serra

Coube a Paulo Ramalho, antropólogo e escritor de Arganil apresentar a obra “Dos objectos para as pessoas”, que reputou como «um livro fundamental para se compreender melhor a Serra do Açor, devolvendo-lhe memória». O escritor, que prefacia a obra, referiu também que se trata de «uma memória feliz da serra, pela forma como as fotos estão dispostas e articuladas, afastando-se do estereótipo da serra escura, devolvendo-nos a serra com uma dose de ternura».
Por seu lado, a autora, Lisete de Matos, afirmou que o protagonista da obra é o seu pai, Jaime de Almeida, «que representa a sabedoria, a audácia e tenacidade das gentes da serra», contando que os principais objectivos que nortearam o livro foram «dar visibilidade e chamar a atenção para a riqueza do património cultural que se encontra disperso», bem como «contribuir para a afirmação da identidade, o reforço da pertença à serra e para o registo da memória colectiva, que funda os valores de muitos dos naturais e oriundos desta região».
Por último, Helena Moniz referiu que esta obra pode ser vista numa «perspectiva etnográfica e sociológica, relacionando a descrição dos objectos, sejam eles a roca o cântaro ou a pandilha, com os seus utilizadores, quer eles se chamem Ti Albano, Jaime ou Ti Céu», pois, «as pessoas são as almas desses mesmos objectos». Trata-se, no entender da vereadora, de «uma feliz iniciativa da autora, que transpôs para a escrita o fruto da sua profunda análise e reflexão acerca do mundo que nos rodeia e da sua evolução», o que torna as páginas deste livro «um registo importante para a posteridade e para as gerações futuras, pois o homem deve ser conhecedor das suas raízes, orgulhando-se delas».
in Diário de Coimbra, de 22/05/2008

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