A Comunidade dos Povorais
Lá longe, escondida na encosta virada a poente dos penedos de Góis, situa-se uma aldeia que, quando dobramos os contrafortes dos ditos penedos e na mira da descoberta, encontra-la ali mesmo, aconchegada, sossegadinha, aos pés daquele enorme rochedo como que a pedir-lhe protecção de algo que venha incomodá-la. É um deslumbramento para quem, pela primeira vez, dá com aquele paraíso da natureza escondido.
O vistante ali, sente-se primeiro envolvido por um cenário Pré-Histórico; depois julga-se numa aldeia da Idade Média dentro dum castelo com ameias e tudo; por fim cai em si e repara que está na linda aldeia dos Povorais, onde tudo está em harmonia com a natureza e forma um cenário perfeito; tudo está no seu lugar (salvo alguns lamentáveis atentados). Só depois se dá conta, que está na presença duma aldeia serrana, ainda não contaminada pelos malefícios do dito progresso.
Desconhecemos completamente a sua origem, o seu primeiro casal e a sua casa, a sua primeira horta. Pelo ordenamento avulso da aldeia, pelos materiais utilizados nas habitações de baixas portas e pequenas janelas, pelos quelhos (ruas estreitas) de serventia entre elas em aconchegada vizinhança e, por fim, pelos costumes comunitários entre os habitantes que já vão rareando, tudo leva a crer que se trata duma aldeia de montanha, construída de pedra nua e telhado de lousa, erguida e ampliada por pastores em épocas bem remotas.
Protegidas do vento norte pelos penedos que lhe servem de paliçada, qual suporte erguido a preceito pela natureza, o aproveitamento do pequeno vale e das águas da serra para as culturas de consumo próprio, a predominância do castanheiro nas encostas soalheiras, o pasto rasteiro verdejante, a urze com a sua raiz (torga) e a ausência quase completa do pinheiro bravo, leva-nos a pensar que a pastorícia esteve na base da alimentação desta comunidade prazenteira e de afável postura.
Reforça-nos esta ideia, de forma acentuada, os usos e costumes ainda em prática neste povo, de se reunirem todos os fins de semana na casa de convívio para tomarem a sua refeição em perfeita confraternização, onde recebem os seus conterrâneos vindos de Lisboa, donde se deslocam quase todos os fins de semana com tal propósito. Isto, nos tempos que decorrem, é uma raridade na nossa região e muito mais nas pequenas vilas.
Ocorre-nos, com alguma estranheza, o facto de todo este magnífico panorama, encimado pelos monumentais e assombrosos penedos de Góis, não tenha sido alvo dum aproveitamento no sentido positivo e emblemático, para fins turísticos do concelho, a par do já bem conhecido e remansoso rio Ceira. Serra e rio harmonizam-se bem.
Adriano Pacheco
in O Varzeense, de 30/09/2006
O vistante ali, sente-se primeiro envolvido por um cenário Pré-Histórico; depois julga-se numa aldeia da Idade Média dentro dum castelo com ameias e tudo; por fim cai em si e repara que está na linda aldeia dos Povorais, onde tudo está em harmonia com a natureza e forma um cenário perfeito; tudo está no seu lugar (salvo alguns lamentáveis atentados). Só depois se dá conta, que está na presença duma aldeia serrana, ainda não contaminada pelos malefícios do dito progresso.
Desconhecemos completamente a sua origem, o seu primeiro casal e a sua casa, a sua primeira horta. Pelo ordenamento avulso da aldeia, pelos materiais utilizados nas habitações de baixas portas e pequenas janelas, pelos quelhos (ruas estreitas) de serventia entre elas em aconchegada vizinhança e, por fim, pelos costumes comunitários entre os habitantes que já vão rareando, tudo leva a crer que se trata duma aldeia de montanha, construída de pedra nua e telhado de lousa, erguida e ampliada por pastores em épocas bem remotas.
Protegidas do vento norte pelos penedos que lhe servem de paliçada, qual suporte erguido a preceito pela natureza, o aproveitamento do pequeno vale e das águas da serra para as culturas de consumo próprio, a predominância do castanheiro nas encostas soalheiras, o pasto rasteiro verdejante, a urze com a sua raiz (torga) e a ausência quase completa do pinheiro bravo, leva-nos a pensar que a pastorícia esteve na base da alimentação desta comunidade prazenteira e de afável postura.
Reforça-nos esta ideia, de forma acentuada, os usos e costumes ainda em prática neste povo, de se reunirem todos os fins de semana na casa de convívio para tomarem a sua refeição em perfeita confraternização, onde recebem os seus conterrâneos vindos de Lisboa, donde se deslocam quase todos os fins de semana com tal propósito. Isto, nos tempos que decorrem, é uma raridade na nossa região e muito mais nas pequenas vilas.
Ocorre-nos, com alguma estranheza, o facto de todo este magnífico panorama, encimado pelos monumentais e assombrosos penedos de Góis, não tenha sido alvo dum aproveitamento no sentido positivo e emblemático, para fins turísticos do concelho, a par do já bem conhecido e remansoso rio Ceira. Serra e rio harmonizam-se bem.
Adriano Pacheco
in O Varzeense, de 30/09/2006
Etiquetas: adriano pacheco, fotografia, povorais
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