quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Aldeias de Xisto ou de Xisto-cimento

O Programa das Aldeias do Xisto tem como principal objectivo recuperar as ditas e dar-lhes um aspecto, o mais possível, idêntico ao que tinham antes do aparecimento indiscriminado do cimento na construção, se não tem esta meta, deveria tê-la, pois só assim, se justificam tantos Euros gastos. Casos há, onde as casas são cosntruídas em Xisto, mas já foram na sua maioria rebocadas e pintadas, não deixando por isso de pelas suas características estarem englobadas neste programa.
Quando percorro as Aldeias que foram recuperadas, fico com dúvidas que o programa seja idêntico para todos os Concelhos, nomeadamente, para o nosso.
Cerdeira e Pena, as duas encontram-se na Serra da Lousã, a primeira, no Concelho com o mesmo nome e a segunda no de Góis, quem as visitar, pensará com toda a certeza, que as recuperações não têm nada em comum.
Na Cerdeira foram ao pormenor de calcetar as ruas com Xisto, dando-lhes o aspecto das calçadas que os nossos antepassados construíram, pode parecer que dá mais trabalho ou que será mais caro, mas segundo informação que recolhi junto de pessoa habilitada, é um puro engano, o custo é o mesmo.
Na Pena, é mesmo uma pena, onde as casas são na sua grande maioria de Xisto, cosntruíram os pavimentos das ruas em granito, vulgo paralelos, e não contentes ainda acrecentaram passeios com lancis em cimento, como se de uma qualquer vila ou cidade se tratasse, não tenho ideia de que existissem, pelo menos eu nunca vi passeios assim, nas nossas Aldeias.
Esta Aldeia está num dos locais mais lindos do Concelho de Góis com uma paisagem envolvente que é difícil de igualar, as grandes rochas do Penedo, principalmente o penedo da abelha é de uma beleza impar e que nos deixa estupefactos e a ribeira que corre à entrada da povoação e que tem o seu nome, possui locais dos mais espectaculares que eu conheço, quase no estado selvagem.
Já que fazem mal, segundo o meu ponto de vista, então que não façam passeios, não são necessários e são aberrações, há um chafariz e um bebedouro para animais que ficaram quase soterrados, onde, para se beber água temos que nos pôr de joelhos, é incrível.
Até os postes de iluminação, que em ambos os casos são do mesmo material, na Cerdeira, os candeeiros que lhes aplicaram dão um aspecto completamente diferente ao conjunto, para melhor.
Tenho para mim, que quem não sabe fazer, talvez porque nunca aprendeu ou nunca viu nada idêntico, o melhor que tem a fazer, é procurar informar-se, e se necessário, copiar quem já fez bem e resultou, inventar (quando não se tem capacidade) é a pior alternativa.
Não é desta maneira que atrairemos turistas para o nosso Concelho, pois estes preferirão passear por locais que lhe farão lembrar as Aldeias de antigamente e a essas sim, eles voltarão, ninguém vem duas vezes a um sítio que tem aberrações arquitectónicas. É triste ver gastar tanto dinheiro, quando com o mesmo investimento o resultado final podia ser espectacular.
Quando temos locais bonitos e de beleza inigualável, não devemos alterar os mesmos, mas se o fizermos, terá que ser com as maiores das cautelas, porque, provavelmente, o resultado final será um desastre.
Ao ver estas obras, fico com a ideia de que os nossos antepassados, mesmo sem qualquer instrução, eram na realidade grandes Arquitectos e Engenheiros.
Para terminar: Não se esqueçam de falar e mobilizar todos os vossos familiares e amigos para que mudem o recenseamento para Góis.
José Manuel Bandeira
in O Varzeense, de 30/11/2006

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