sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O Regionalismo não pode contribuir para a desertificação

A desertificação humana no interior do país, e particularmente na Beira Serra, é um flagelo que começou a sentir-se ainda na primeira metade do século passado.
Até agora, nenhum governo - por desleixe ou incapacidade - conseguiu inverter esta situação que ao longo de décadas se tem vindo a agravar, atingindo neste momento graves proporções que afectam vários sectores da sociedade, como o desequilíbrio demográfico, a exclusão social, o caos urbanístico, a degradação ambiental, o abandono da actividade agrícola, o aumento da criminalidade, entre outros.
Se os nossos governantes, desde o poder central ao poder local, pouco ou muito pouco têm feito para estancar o despovoamento das nossas aldeias, o movimento regionalista - de que a Beira Serra é um orgulhoso bastião - bem como o cidadão comum, também têm a obrigação de tudo fazerem para denunciar, combater e até evitar este verdadeiro flagelo.
Vem isto a propósito de algumas colectividades nomeadamente Ligas e Comissões de Melhoramentos da nossa região, enveredarem pela exploração com bares, restaurantes e outras actividades empresariais, em vez de as utilizarem exclusivamente para fins desportivos, culturais, recreativos e sociais.
Claro que, em localidades onde não existe nenhum estabelecimento comercial, é lógico haver nas instalações dessas colectividades um pequeno bar para se beber um café ou outra bebida. Mas em localidades, onde exista este género de comércio, não podem nem devem as colectividades fazer concorrência a uma actividade empresarial, que além de pagar impostos e taxas, ainda gera emprego, cria riqueza e promove o desenvolvimento. O que seria normal e salutar era essas colectividades, nomeadamente as regionalistas, estabelecerem parcerias com os empresários que estão devidamente colectados e instalados, e em conjunto colaborarem na organização e realização de eventos e actividades de vária ordem de forma que todos contribuíssem para o conhecimento, dinamização, enriquecimento e bem-estar de toda a vasta e bela região da Beira Serra.
Sei que em Chã de Alvares também há quem defenda que se devia transformar as instalações da Liga de Melhoramentos num espaço comercial permanentemente aberto ao público, com um bar-restaurante. Ora isso além de transformar a referida instituição num concorrente desleal com o único comércio de restauração existente na povoação, e até de outras povoações vizinhas, iria certamente contribuir para o desaparecimento e encerramento do que ali existe, arrastando quem ali trabalha para o desemprego e para a emigração, e consequentemente para um ainda maior empobrecimento, envelhecimento e despovoamento da nossa terra.
O que seria interessante e de louvar era que as instalações da Liga de Melhoramentos pudessem estar abertas com regularidade para poderem ser utilizadas com algumas actividades, tanto culturais como recreativas, ou mesmo desportivas e sociais, desde que houvesse utentes e dinamizadores para as realizar. Mas nunca para a actividade comercial de restauração, ou outras que colidissem com actividades já instaladas. Mesmo que esse negócio fosse uma boa fonte de rendimento para a Liga só o seria a curto prazo, pois mais tarde ou mais cedo tornar-se-ia num negócio ruinoso, onde todos sairíamos a perder.
Esperemos que isso não venha a acontecer, a bem de Chã de Alvares e das suas gentes, e contra o despovoamento e a desertificação.
José Manuel Simões Anjos
in O Varzeense, de 30/01/2009

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