quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O 80.º aniversário do Regionalismo goiense e as Concertinas da Carrasqueira

Na Casa do Concelho de Góis tem estado a ser comemorado o 80.º aniversário do Regionalismo goiense, tendo em consideração que a primeira colectividade regionalista do concelho de Góis, a Sociedade de Melhoramentos de Roda Cimeira, foi fundada em 1 de Novembro de 1928.
Considerando, como o entendemos, que o Movimento Regionalista foi o que se iniciou com a fundação em Lisboa de colectividades por naturais da região arganilense que tinham vindo para a cidade, o Regionalismo arganilense está próximo de fazer 90 anos, com a fundação da Assistência Folquense em 2 de Abril de 1919, a que se seguiu, no ano seguinte, a fundação da Sociedade de Melhoramentos de Pomares, a 22 de Abril de 1920.
O nosso Movimento Regionalista consolidou-se com a designação de «Comarca de Arganil», que englobava os três concelhos vizinhos que a constituíam, ou seja, Arganil, Góis e Pampilhosa da Serra, que se juntaram em 1929 para fundarem a Casa da Comarca de Arganil, então designada por «Grémio», em 8 de Dezembro.
A Casa da Comarca de Arganil veio assim a dar corpo mais alargado a um movimento colectivo que já funcionava com a criação de colectividades existentes: Assistência Folquense (1919), Sociedade de Melhoramentos de Pomares (1920), Liga Regional Cojense (1927) e Sociedade de Melhoramentos de Roda Cimeira (Alvares) (1928).
Os goienses consideram assim que foi esta a colectividade que primeiro nasceu e deu início ao Movimento Regionalista no seu concelho e daí que estejam este ano a comemorar o seu 80.º aniversário. Isto a nível oficial, já que outras iniciativas isoladas e «comissões» terão surgido e movido sem se chegar a oficializar e a terem continuidade.
Numa região serrana, cada vez mais desertificada, carenciada e longe de tudo, a freguesia de Alvares deixou de ser concelho, tal como a sua vizinha freguesia de Fajão, quando da Reforma Administrativa de Mouzinho da Silveira em meados do século XIX, que reduziu drasticamente o número de concelhos no país.
Foram, por conseguinte, as muitas carências que levaram os seus naturais que haviam partido para outras terras distantes, a pensar na formação de colectividades regionalistas que os unissem e aproximassem, associando-se e mobilizando-os a favor de iniciativas tendentes a entre-ajudar-se e especialmente a ajudar as populações locais nas suas mais prementes necessidades. E na generalidade dos casos, estava o abastecimento de água potável, indispensável à vida, que levou as comunidades a associar-se como aconteceu com a Roda Cimeira.
E como estas coisas influenciam e contagiam os vizinhos, a freguesia de Alvares foi a pioneira no Movimento Regionalista no concelho de Góis, se em 1928 foram os da Roda Cimeira a dar o exemplo, em 1929 foram os vizinhos de Amioso Cimeiro e em 1930 os de Cortes, e só em 1931 aparecem os de Vila Nova do Ceira e do Colmeal e em 1934 os da Roda Fundeira e do Cadafaz, quanto ao concelho de Góis.


* * *


Com as boas instalações de que dispõe, no último sábado, na Casa do Concelho de Góis foi devidamente comemorado o 80.º aniversário do Regionalismo goiense, com larga participação da freguesia de Alvares, como seria de esperar. E na festa, que encheu por completo a casa, não faltaram os alvarenses que vieram da terra e as autarquias (a Câmara e a Assembleia Municipal de Góis e a Junta de Freguesia de Alvares) que habitualmente gostam e devem participar nestas coisas.
Meticulosamente preparado o programa dele faziam parte uma apresentação do «Hino da Roda Cimeira», após sessão de abertura com a participação do Conselho Regional da Casa e Junta de Freguesia de Alvares, autarcas e dirigentes regionalistas.
Falou-se de Regionalismo, como não podia deixar de ser, dado o que estava em causa ali, com a participação do redactor em Lisboa de A Comarca de Arganil e dirigentes da colectividade da Roda Cimeira, Libânio Simões Oliveira e João Baeta, em que se falou de muita coisa e se recordaram o Claudino e o «tio» Luís, que deram apreciável colaboração à imprensa regional em tempos antigos e sem a qual o Movimento Regionalista não teria atingido a relevância que teve.
Vieram depois os «Cantares da Roda» e a poesia de Alvares de Adriano Pacheco com introdução do seu amigo eng. João Coelho.
Mas o que mais entusiasmou a assistência, foi sem dúvida o Grupo de Concertinas da Carrasqueira, com mestre Marcelo, Mário Victor e outros, porque eram sete.
As Concertinas da Carrasqueira são conhecidas e já fizeram história com a sua música e apresentação alegre que tem levado a tanto lado.
O Marcelo, só por si, vale um espectáculo inteiro, e como é da Carrasqueira dá o nome ao Grupo, mas todos os outros são da freguesia de Alvares também, e o Mário, com a mulher e a filha também por outro lado, formavam um conjunto capaz de abrilhantar uma festa sozinhos.
Foi uma festa bonita que não perdeu as genuínas características regionalistas, inclusivamente no aspecto cultural e recreativo, que embora não tendo estado no início da criação do Movimento Regionalista de há 80 anos, não falta quem entenda que é nesse caminho que deve encaminhar-se no presente, dado que em todos estes anos as coisas mudaram muito e o Regionalismo não pode deixar de acompanhar as tendências do nosso tempo.
E no fim de tudo, vieram «Os Sabores da Roda Cimeira» com os magníficos petiscos e aperitivos que constituíram um agradável jantar colectivo. Isto é Regionalismo e que ninguém pense que ele está a morrer. Alguém ali disse que o Regionalismo são as pessoas, isto é aquilo que elas querem e estão dispostas a fazer.
António Lopes Machado
in A Comarca de Arganil, de 19/11/2008

Etiquetas: , ,