quinta-feira, 20 de novembro de 2008

80 Anos do Regionalismo Goiense

Falar do Regionalismo dos últimos 80 anos, é uma tarefa ingrata e votada um pouco ao fracasso porque a esta distância já pouco se vislumbram as suas raízes, as motivações dos seus obreiros e menos ainda os alicerces de uma obra que, apesar de tudo, ainda é hoje bem visível nas aldeias do Concelho de Góis.
Na verdade este movimento tornou-se numa força aglutinadora de vontades capazes de remover obstáculos, unindo os homens num desejo comum, o de transformarem em obra um sonho de muitas décadas, virem a ter condições dignas para viverem e poderem ligar-se a outras gentes.
Nas comemorações do dia do Concelho de Góis, 13 de Agosto, foram realçadas estas virtudes, mas também foi focada como ideia comum que muito há ainda para fazer. As Colectividades Regionalistas continuam a ter um papel importante a desempenhar, funcionando como Associações aglutinadoras de vontades, dispostas a contribuir para novos conceitos de trabalho e de entreajuda no seio de uma Comunidade.
Permito-me transcrever parte do que dissemos no encontro de Góis, pretendendo com isso contribuir para uma simples reflexão sobre o Regionalismo do futuro.
"Não esqueço o quanto foram determinantes as Comissões de Melhoramentos para a formação do sentimento de entreajuda que todos sentimos e que levou à execução de obras que contribuíram decisivamente para o desenvolvimento de região de Góis, onde tudo estava por fazer, minimizando esses efeitos.
O Regionalismo nasceu em 1923 em Roda Cimeira e foi concretizado a 1 de Novembro de 1928 com a constituição da Sociedade de Melhoramentos de Roda Cimeira.
Os homens desse tempo sentiram necessidade de se unirem e trabalharem com objectivos comuns, tendo em vista as necessidades mais prementes da Povoação. E desse trabalho nasce a obra. Abertura de caminhos pedestres, pontes para ligar as margens das Ribeiras, como a da Ribeira do Sinhel, ligação da rede de água potável, construção da Sede e casa de Convívio.
Estes foram os "chamados" primeiros melhoramentos da Sociedade de Melhoramentos da Roda Cimeira.
Seguiram-se muitos outros, que não vamos aqui enumerar, pois o mesmo foi acontecendo noutras Aldeias, onde entretanto, se formaram Comissões de Melhoramentos.
Para suportar os custos destas obras, as Colectividades diversificaram actividades. cresceram os bailes regionais, as excursões às Aldeias, angariação de fundos por contributo pessoal e exploração das actividades nas casas de Convívio.
Por aqui passou muito da ligação à terra natal que ainda hoje se mantém mas que vemos, com algum desencanto, definhar-se todos os anos.
Conclui-se que o Regionalismo ao contrário do que alguns defendem, nasce para dar respostas ao atraso em que viviam as populações das Aldeias onde tudo faltava.
O Regionalismo nova era, chega entretanto.
Actualmente sente-se o Regionalismo "descaracterizado" vivendo mais da acção de uns quantos "carolas" que por ligação afectiva ou familiar teimam em manter viva a tradição com eventos que já pouco cativam a juventude.
É altura de nos questionarmos de como vai ser o Regionalismo, se para além de nós, aqueles que nasceram nele trabalharam e entusiasmaram-se num projecto cativante, cujos resultados saboreávamos nos Convívios e no usufruir dos muitos Melhoramentos que encontrávamos em cada regresso à Terra.
É urgente questionar como vai ser o Regionalismo do futuro. Tem condições de sobrevivência no Século XXI?
Faz sentido existirem Comissões de Melhoramentos?
Se faz, em que moldes? O que é preciso mudar?
A resposta estará talvez num grande debate que cada colectividade tem de fazer sobre o Regionalismo de hoje, e que futuro oferece às novas gerações.
Propomos para além disso, que se realize um debate sobre o Regionalismo na forma de reflexão ou Congresso com todas as Comissões de Melhoramentos do Concelho, onde, para além das conclusões de cada Colectividade, tudo possa ser posto em causa. O resultado poderá ser aproveitado ou não para um outro encontro que englobe todas as Comissões do Distrito.
Hoje questionamo-nos muito sobre qual o papel reservado às Colectividades Regionalistas, em especial, no que respeita à ligação aos poderes constituídos: Autarquias, Estado central, etc...
A nossa existência tem que ser sentida como uma necessidade ou como complemento junto do Poder Local. É urgente definir algumas regras de trabalho em comum. Se somos parceiros credíveis então temos de ser mais ouvidos. Por isso há que envolver mais as populações locais nas acções realizadas. Há necessidade de mais Dirigentes. Dirigentes entusiasmados pela força do Regionalismo motivados para causas e aglutinadores de vontades.
É necessário aumentar a nossa credibilidade para que possamos ser voz sempre presente e não só em momentos especiais.
Cada Colectividade contacta regularmente com milhares de conterrâneos os seus associados a quem podem fazer chegar mensagens de interesse colectivo, que as Autarquias têm alguma dificuldade em fazer. Somos um canal privilegiado para o contacto com os naturais e oriundos do Concelho.
Em conclusão diria que, o Regionalismo como está aparece não ter futuro. Fazer com que o tenha depende muito de nós.
A Sociedade de Melhoramentos de Roda Cimeira comemorou em 1 de Novembro de 2008, 80 anos de existência e é um exemplo vivo do bom que no Regionalismo se fez.
A verdade é que também por cá grassa algum desanimo, pelo desinteresse e falta de apoio dos Associados e pelas promessas que nos fazem e que, por razões várias, não são cumpridas. Sentimos algum reconhecimento pelo trabalho realizado, mas sabe a pouco, é preciso ouvirem-nos mais.
Apesar de tudo o que atrás foi dito, continuam a existir razões para acreditar nos Homens e que unidos, sem excluir ninguém, possamos contribuir para a construção de uma Sociedade mais justa, mais capaz e mais solidária.
A união, o diálogo, a troca de experiências, o apoio solidário, são os ingredientes necessários para mudar ou alterar o panorama no Regionalismo do futuro.
É nosso dever dar continuidade ao sonho que motivou os homens de há 80 anos".
Góis, Agosto de 2008
João Henriques Baeta, Presidente da Assembleia Geral da Sociedade de Melhoramentos de Roda Cimeira
in O Varzeense, de 15/11/2008

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