Carrasqueira: Um Tesouro Esquecido
Nunca as nossas deslocações a Alvares foram em vão, elas próprias trazem consigo um retorno apreciável de conhecimento, quer no domínio do regionalismo, quer no aspecto social com vivências inesquecíveis, quer ainda em novas descobertas que o acaso nos oferece assim do pé para a mão, sem que isso implique grande esforço, basta estar disponível e dar um pouco de atenção às pessoas.
Incluída no roteiro das aldeias que queríamos pesquisar, fomos desta vez calcorrear a povoação da Carrasqueira bem conhecida na freguesia e por quase todos esquecida. A curiosidade de quem admira a natureza levou-nos aos seus recantos mais escondidos, às sombras dos becos mais sinuosos e às ruelas de ângulos encantadores, bordeadas de casario coberto de telha serrana e lousa, erguido em pedra nua e bem conservada, seguido de muros já marcados pelos ventos da história, todos ou quase todos construídos de xisto cinzento ou rosáceo que lhe dá um colorido próprio.
Pasmados com este raro património ancestral com alguns fornos e casas em ruínas, fomos em busca de outras raridades esquecidas numa aldeia despida daquela gente alegre que em tempos lhe dava vida. Mas agora está cheia, muito cheia de pedras que em tempos foram bancos de gente que contava e ouvia histórias, à sombra duma carvalha centenária de porte invulgar, assustador e de frondosa ramagem. Trata-se duma raridade na nossa região que nos quis presentear com esta inesperada e inesquecível surpresa e que, teimosamente, continua a crescer sob o olhar indiferente de todos.
Para quem se enfronha numa comunidade e ama a natureza, não pode deixar-se abater pela primeira surpresa e logo partimos em busca de algo mais reconfortante. Pelo caminho encontrámos um santuário no sítio e na medida certa. Concebido e arquitectado em conformidade com o local escolhido, construído num estilo simples e harmonioso, utilizando materiais próprios da região para não destoar no lugar cheio de silêncio. Fugindo assim aos estereótipos que por aí proliferam, numa apologia não se sabe bem de quê, mas que semeiam uma garradice despropositada no meio duma serra sóbria, vetusta e de costumes regionais.
Por tudo o que conseguimos ver e interiorizar, ficou-nos a bailar no espírito várias inquietações, para as quais não encontramos resposta. Poucas, ou nenhuma aldeia da freguesia de Alvares terá conseguido manter, tão fielmente, o seu traçado original, onde a casa de pedra nua e barro dá o colorido e o tom dominante de aldeia tipicamente serrana que nos faz reviver o passado. Face a tudo isto questionamo-nos por que será que a Carrasqueira não faz parte das aldeias do xisto? Por que não é declarado património público aquela centenária e frondosa carvalha?
Há coisas que não custando dinheiro valorizam tanto o património histórico, como as próprias entidades que tiveram esse desvelo.
Estamos em crer que não faltará aos carrasqueirenses vontade própria, amor à sua terra-natal, nem recursos apreciáveis para fazerem da sua aldeia aquilo que ela bem merece. Falta-lhes talvez um pouco de organização e liderança para poderem dar o primeiro passo em frente. Aquele passo que faz mudar o mundo e a face das coisas, num rasgo tal que faça os olhares virarem-se para ela, de tal forma que ela própria seja encarada como uma proposta válida e credível. Algo que represente uma mais valia para o engrandecimento do património concelhio, mas terão de ser eles próprios a darem o primeiro passo. Caso contrário...
As potencialidades que esta aldeia reúne, são demasiadamente preciosas, para que fiquem assim na penumbra do esquecimento.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 7/08/2008
Incluída no roteiro das aldeias que queríamos pesquisar, fomos desta vez calcorrear a povoação da Carrasqueira bem conhecida na freguesia e por quase todos esquecida. A curiosidade de quem admira a natureza levou-nos aos seus recantos mais escondidos, às sombras dos becos mais sinuosos e às ruelas de ângulos encantadores, bordeadas de casario coberto de telha serrana e lousa, erguido em pedra nua e bem conservada, seguido de muros já marcados pelos ventos da história, todos ou quase todos construídos de xisto cinzento ou rosáceo que lhe dá um colorido próprio.
Pasmados com este raro património ancestral com alguns fornos e casas em ruínas, fomos em busca de outras raridades esquecidas numa aldeia despida daquela gente alegre que em tempos lhe dava vida. Mas agora está cheia, muito cheia de pedras que em tempos foram bancos de gente que contava e ouvia histórias, à sombra duma carvalha centenária de porte invulgar, assustador e de frondosa ramagem. Trata-se duma raridade na nossa região que nos quis presentear com esta inesperada e inesquecível surpresa e que, teimosamente, continua a crescer sob o olhar indiferente de todos.
Para quem se enfronha numa comunidade e ama a natureza, não pode deixar-se abater pela primeira surpresa e logo partimos em busca de algo mais reconfortante. Pelo caminho encontrámos um santuário no sítio e na medida certa. Concebido e arquitectado em conformidade com o local escolhido, construído num estilo simples e harmonioso, utilizando materiais próprios da região para não destoar no lugar cheio de silêncio. Fugindo assim aos estereótipos que por aí proliferam, numa apologia não se sabe bem de quê, mas que semeiam uma garradice despropositada no meio duma serra sóbria, vetusta e de costumes regionais.
Por tudo o que conseguimos ver e interiorizar, ficou-nos a bailar no espírito várias inquietações, para as quais não encontramos resposta. Poucas, ou nenhuma aldeia da freguesia de Alvares terá conseguido manter, tão fielmente, o seu traçado original, onde a casa de pedra nua e barro dá o colorido e o tom dominante de aldeia tipicamente serrana que nos faz reviver o passado. Face a tudo isto questionamo-nos por que será que a Carrasqueira não faz parte das aldeias do xisto? Por que não é declarado património público aquela centenária e frondosa carvalha?
Há coisas que não custando dinheiro valorizam tanto o património histórico, como as próprias entidades que tiveram esse desvelo.
Estamos em crer que não faltará aos carrasqueirenses vontade própria, amor à sua terra-natal, nem recursos apreciáveis para fazerem da sua aldeia aquilo que ela bem merece. Falta-lhes talvez um pouco de organização e liderança para poderem dar o primeiro passo em frente. Aquele passo que faz mudar o mundo e a face das coisas, num rasgo tal que faça os olhares virarem-se para ela, de tal forma que ela própria seja encarada como uma proposta válida e credível. Algo que represente uma mais valia para o engrandecimento do património concelhio, mas terão de ser eles próprios a darem o primeiro passo. Caso contrário...
As potencialidades que esta aldeia reúne, são demasiadamente preciosas, para que fiquem assim na penumbra do esquecimento.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 7/08/2008
Etiquetas: adriano pacheco, carrasqueira
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