sábado, 5 de abril de 2008

Em Vila Nova do Ceira - Desleixo ou distracção?!...

A Levada de Cima, sita em Vila Nova do Ceira é a mais extensa e a mais importante de toda a freguesia. É uma linha de água, que começa no Rio Sótão, limite do Vale do Soito e termina na Várzea Grande limite do que foi, o morgadio da Costeira, depois de regar as propriedades dos moradores dos lugares de Corte-Pisão, Casal da Ribeira, Monteira, Picarôtos, Teras, Gaia, Cruzinhas e toda a área da Várzea Grande. Não era difícil verem-se em todo o seu percurso, peixes dos que povoam o Rio Sótão, como trutas, barbos, vogas ou enguias e quantas vezes iam ter ao local da rega, junto do regante. Mas o que causava mais admiração aos nossos visitantes era ver uma linha de água cristalina em pleno Verão a atravessar Vila Nova do Ceira. Lembramo-nos de quando éramos crianças e eram mobilizados homens, mulheres e jovens com pequenas cestas redondas que enchiam de barro, para vedar a vala que se fazia no rio para captação de mais água que se escapava, por entre as areias. Para que não faltasse o precioso líquido em todo o seu percurso, que além do mais, servia para dar de beber aos animais, lavar a roupa visto que nesse tempo ainda não havia o luxo das máquinas de lavar roupa. No meio de todo este intróito, aparecia ainda o austero e tradicional juiz da água, de que nos falava o saudoso escrito de Barata Dias, na sua obra literária, digna de menção e que tem sido, inteiramente esquecido pelos políticos das últimas gerações, quando tem sido realçado e homenageado outros sem qualquer coisa, que se pareça com a sua obra literária. Mas esta figura do Juiz da água aparecia-nos com autoridade, para fazer respeitar os usos e costumes relacionados com as diversas questões das águas. Uma delas, talvez a mais importante era quando a água entrava na rolda; mas o que é a rolda? A rolda é o regulamento que organiza a ordem como os regantes tomam a sua vez, na rega das suas propriedades. Quem não estivesse, na hora e local para regar a água passava para o regante da frente e este só regava depois da rolda chegar ao fim. Mas havia alguns privilegiados que eram os senhores feudais, que tinham horas de rega extras e especiais para eles. Quando chegavam estas horas andasse a água onde andasse a rolda era interrompida para os senhores regarem. Era um verdadeiro feudalismo que felizmente acabou... Mas hoje o assunto que nos traz a este apontamento, para o "Jornal de Arganil" é a dita Levada de Cima, em Vila Nova do Ceira, antigamente na nossa terra havia duas entidades reconhecidas pelas autarquias que dirigem as águas de rega em toda a freguesia. Era a Comissão das Águas e os respectivos Juizes de cada uma das levadas destinadas a regar os terrenos de cultivo. Hoje não sabemos se estes serviços ainda existem ou não, sabemos apenas que estão inteiramente abandonados, apesar de ainda termos em Vila Nova do Ceira uma agricultura decadente., mas mesmo assim, ela ainda existe. Há dias estava um pequeno grupo de varzeenses a tomar café e falava-se de alguns problemas, que nos preocupam e tolhem o passo ao seu desenvolvimento endógeno e que para além dos prejuízos deixam uma má imagem a quem nos visita. Agora se este linha de água não for cuidada derivado à sua longa extensão, uma área muito grande e muito antiga que sempre foi de rega passará a ser de sequeiro e atinge a população de toda a freguesia. Mas apara além de todos os transtornos que nos afligem, há outros de grande importância, que é o facto, de quase todos os habitantes terem o seu quintal onde plantam uma pequena horta, uma alfaces e outros mimos que não tendo água de rega, vão usar a água domiciliária, irá aguentar este débito? Afigura-nos que estes gastos se vão reflectir no abastecimento público. Há uma forma simples e prática de resolver este grave problema. Era o presidente da Junta de Freguesia, na falta de melhor solução mandar um dos seus diversos empregados ao serviço da Junta de Freguesia inspeccionar a dita levada cada vez que falte a água na Várzea e resolver qualquer problema. E assim, prestava um bom serviço a toda a freguesia.
António Fernandes
in Jornal de Arganil, de 3/04/2008

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