sábado, 29 de dezembro de 2007

Aos que partiram e não voltaram à Aldeia

Todos nós, ou quase todos, um dia tivemos de partir. "Partir, partir e sonhar...". (1) Mas toda a partida implica um regresso de corpo presente, se assim não acontecer, não estamos a falar de partida, mas sim de abalada, de fuga ou simplesmente de abandono de alguém ou de alguma coisa.
Com esta abordagem, acode-nos à ideia a situação daqueles que, como nós, engrossaram a longa lista dos beirões que tiveram de deixar o seu torrão natal, em busca duma vida melhor. Adivinhamos que esse lista, se tivesse havido registo, seria hoje enorme e, mais completa seria, se contivesse a localização e a sua actividade profissional. Mau grado a invasão da privacidade individual que isso acarretaria...
Acontece que não sabemos se esta ideia, a nível concelhio dentro da região da Beira Serra, teria pernas para andar. Mas que seria um projecto interessante e com longo alcance, disso não temos dúvidas. Pode ser que, no entanto, alguma entidade queira agarrar a ideia.
Retomando a linha inicial destas simples palavras, gostaríamos de situar o início da diáspora beirã, na décadas de 30 e 40 do século passado, mas o grosso da coluna terá acontecido nas décadas de 50 e 60 o que nos dá a ideia que hoje já existirão muitos beirões de segunda e terceira gerações dispersos por aí. Entre os quais, muitos deles, perderam os laços afectivos com as origens dos seus antepassados. O que de resto se nos apresenta como uma enorme pena.
Desenvolvendo este raciocínio e estendendo-o aos mais recônditos lugares, acreditamos perfeitamente que houve, ou há muitas famílias beirãs, cujos progenitores nunca mais voltaram à sua terra-natal e quantos deles chegaram ao fim das suas vidas com o pensamento na sua aldeia. Sem querermos ser paternalistas, entendemos que isto nunca fez parte das preocupações de todos nós. Acontece que o retorno às terras de origem ainda com vitalidade, como forma de repovoamento, devia ser um método a considerar por quem de direito.
Como exercício mental deixamos, ao cuidado dos nossos leitores, o trabalho de imaginarem quantos beirões já perderam o contacto com a sua aldeia de origem, por mil e uma razões, entre as quais, o facto de já não possuírem um "poiso" tido como herança, ou algo que o pudesse substituir. Mais fácil se torna falar de desertificação, ou despovoamento.
Aos que partiram e não voltaram à sua aldeia podem assistir razões de peso, quiçá plausíveis, o que só eles o poderão saber, porém, algo deveria ser feito para trazer aqueles que gostassem de voltar.
(1) In poema de Manuel Alegre
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 27/12/2007

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Sou bisneto de um daqueles que partiram, pouco sei sobre o lugar de onde sairam meus antepassados e onde ainda permanecem alguns que tem o mesmo sangue...

30 dezembro, 2007 16:41  

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