Dez Réis de Gente
"O tempo conta-me tanto que a primeira lembrança chega-me desse paraíso da infância, tão diferente e tão terno, que não cansa de me perseguir."
Adriano Pacheco
Feliz ideia teve o destino quando permitiu que Adriano Pacheco, na fase madura da sua existência, tivesse tempo para acordar as suas memórias. Escritor de maturidade "comecei a escrever aos 50 anos quando passei a ter tempo livre". As memórias acordaram e tomaram conta de si, transformando-se em prosa e poesia.
O espaço citadino foi o seu quotidiano, mas a serra alimentou-lhe a alma "os que pensam têm a distância e vivem saudade", disse ao Jornal de Arganil. Ela cria laços fortes e ajuda a preservar na memória os sons, os cheiros, as gentes. "O cheiro da terra molhada fumegando, no mês de Maio; o odor a lenha na lareira quando o lume crepitava nos longos serões de Inverno; ruído dos tamancos quando pisavam as fragas escorregadias de limos; o borregar dos animais quando iam para a pastagem nas courelas verdejantes; os silvos angustiantes do vento, e noites de invernia; já faziam parte das suas coloridas lembranças bem impregnadas" (Dez Réis de Gente, pág. 99); "Ninguém como nós, mas ninguém/ sorveu o cheiro da giesta/ o aroma da resina do pinheiro/ memórias e fragrâncias/ alimentadas pela distância(...)Ninguém como nós, mas ninguém/ Retém o sentido da vida dura/ E como nós se entrega, se esmaga/ Ao mais simples gesto de ternura (in Silvos Agudos, 2005).
Ao longo da narrativa "Dez Réis de Gente", que Adriano Pacheco apresentará no dia 13 de Outubro em Vila Nova do Ceira, encontramos a mescla de sentimentos que dominava quem partia - a vontade de partir leva João a Lisboa "o desejo de conhecer a cidade era desmedido" (Dez Réis de Gente, pág. 51) mas o coração ficou, com a "Lindinha de olhos cor de fogo e brilho cintilante" (Dez Réis de Gente, pág. 6).
O homem da serra, reflectiu o escritor, foi moldado pela natureza agreste que fez dele "rude mas generoso, desconfiado mas fiel". Foram seres assim esculpidos que enfrentaram o mundo num percurso tão solitário como solidário.
Quando voltam "à terra" já não são como partiram, concluem as mulheres (em diálogos de cumplicidade feminina que o autor bem traduziu), elas confessam-se, sem azedume, sempre de "província como se fosse... uma praga" (Dez Réis de Gente, pág. 101).
Mas o gosto pela "terra" nunca esmorece e desejo de colaborar é persistente. Adriano Pacheco recorda a importância que tiveram as Comissões de Melhoramentos, por isso as inclui na sua ficção. Foram estes homens que partiram a olhar para trás que estão na origem das casas de concelho, como o fazem as suas personagens.
"Dez Réis de Gente" pretende contribuir para a preservação de um património que é o da história comum de um povo. Como afirma João Coelho no Prefácio "Um livro para ler e reler. Para confrontar e analisar na Beira Serra, colectivamente". Até porque são Dez Réis de Gente e... um folgo de gato."
"Dez Réis de Gente", Adriano Pacheco, ed. ADIBER,
Lisboa, Julho de 2007.
gravuras de M. H. Mourato
fotos de Dr. Aires Henriques
Maria da Conceição Oliveira
in Jornal de Arganil, de 4/10/2007
Adriano Pacheco
Feliz ideia teve o destino quando permitiu que Adriano Pacheco, na fase madura da sua existência, tivesse tempo para acordar as suas memórias. Escritor de maturidade "comecei a escrever aos 50 anos quando passei a ter tempo livre". As memórias acordaram e tomaram conta de si, transformando-se em prosa e poesia.
O espaço citadino foi o seu quotidiano, mas a serra alimentou-lhe a alma "os que pensam têm a distância e vivem saudade", disse ao Jornal de Arganil. Ela cria laços fortes e ajuda a preservar na memória os sons, os cheiros, as gentes. "O cheiro da terra molhada fumegando, no mês de Maio; o odor a lenha na lareira quando o lume crepitava nos longos serões de Inverno; ruído dos tamancos quando pisavam as fragas escorregadias de limos; o borregar dos animais quando iam para a pastagem nas courelas verdejantes; os silvos angustiantes do vento, e noites de invernia; já faziam parte das suas coloridas lembranças bem impregnadas" (Dez Réis de Gente, pág. 99); "Ninguém como nós, mas ninguém/ sorveu o cheiro da giesta/ o aroma da resina do pinheiro/ memórias e fragrâncias/ alimentadas pela distância(...)Ninguém como nós, mas ninguém/ Retém o sentido da vida dura/ E como nós se entrega, se esmaga/ Ao mais simples gesto de ternura (in Silvos Agudos, 2005).
Ao longo da narrativa "Dez Réis de Gente", que Adriano Pacheco apresentará no dia 13 de Outubro em Vila Nova do Ceira, encontramos a mescla de sentimentos que dominava quem partia - a vontade de partir leva João a Lisboa "o desejo de conhecer a cidade era desmedido" (Dez Réis de Gente, pág. 51) mas o coração ficou, com a "Lindinha de olhos cor de fogo e brilho cintilante" (Dez Réis de Gente, pág. 6).
O homem da serra, reflectiu o escritor, foi moldado pela natureza agreste que fez dele "rude mas generoso, desconfiado mas fiel". Foram seres assim esculpidos que enfrentaram o mundo num percurso tão solitário como solidário.
Quando voltam "à terra" já não são como partiram, concluem as mulheres (em diálogos de cumplicidade feminina que o autor bem traduziu), elas confessam-se, sem azedume, sempre de "província como se fosse... uma praga" (Dez Réis de Gente, pág. 101).
Mas o gosto pela "terra" nunca esmorece e desejo de colaborar é persistente. Adriano Pacheco recorda a importância que tiveram as Comissões de Melhoramentos, por isso as inclui na sua ficção. Foram estes homens que partiram a olhar para trás que estão na origem das casas de concelho, como o fazem as suas personagens.
"Dez Réis de Gente" pretende contribuir para a preservação de um património que é o da história comum de um povo. Como afirma João Coelho no Prefácio "Um livro para ler e reler. Para confrontar e analisar na Beira Serra, colectivamente". Até porque são Dez Réis de Gente e... um folgo de gato."
"Dez Réis de Gente", Adriano Pacheco, ed. ADIBER,
Lisboa, Julho de 2007.
gravuras de M. H. Mourato
fotos de Dr. Aires Henriques
Maria da Conceição Oliveira
in Jornal de Arganil, de 4/10/2007
Etiquetas: adriano pacheco, livro
2 Comments:
Não, posso!!! Outro livro deste Sr.??? Não será que agora temos de levar com este também, as pessoas imaginam quantas arvores são necessarias para fazer um livro, ainda por cima desta qualidade?
Coitados de nós alguém tenha a coragem de dizer ao Sr, que ele não sabe escrever.
Ainda por cima não é nada nem ninguém, nem Curso Superior tem...
Devia deixar de escrever artigos para os jornais e escrever livros nem pensar.
Gasta a ADIBER o nosso dinheiro com coisas destas...
M. Garcia (VNC)
Mas que vergonha de Lançamento!
Foi tudo uma vergonha, assim se gasta o nosso dinheiro, com tristezas destas.
O Lançamento tem a mesma qualidade do Livro e é uma verdadeira vergonha!
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