terça-feira, 1 de maio de 2007

A doença dos números

Se há doença mais problemática para uma população mesmo com tendência para se tornar em epidemia de proporções alarmantes é a “doença dos números” ou “sindrome da estatistica”.

Clinicamente inventada, mas socialmente importante trata-se de doença originada nos gabinetes dos politicos em particular dos que gerem a saúde dos portugueses. De carácter altamente contagiante tem tendência a alastrar por economistas, gestores da área da saúde, lideres de opinião e comentadores politico-sociais.

Como sintomas encontramos um carácter puramente economicista sobre a saúde dos portugueses, com dificuldades de visão sobre outros sistemas com provas dadas e um escárnio permanente sobre quem está doente.

Estamos neste momento a viver uma fase de epidemia, em que, o cidadão doente é visto como o terror do sistema de saúde, o mal de todos os problemas, esbanjador dos dinheiros públicos, ou seja, um cidadão de segunda.

Nos países desenvolvidos (que não Portugal com esta politica de saúde) o cidadão doente é visto como o centro do sistema. O cidadão doente é um doente com direitos e necessidades inerentes ao estado da sua doença. Mas, isso é na Europa civilizada.

Em Portugal o cidadão doente é logo apelidado de Utente sendo-lhe de imediato retirados todos os direitos mesmo os mais elementares e constitucionais como o direito aos seu nome, apelidos familiares e mesmo titulos académicos ou honorificos, passando o cidadão Manuel da Silva a ser o utente MS do serviço II cama 14. Não se questiona o estado da sua doença, mas, isso sim pergunta-se logo pelo seu estado de saúde, como se o cidadão doente fosse a praga do sistema, ou seja, lá vem mais um gastador.

É com este espirito que se fecham as Maternidades. Quem é que manda ao cidadão querer nascer onde não existe Maternidade, tem que ir nascer onde o politico quer.

É com este espirito que se fecham urgências hospitalares. Quem é que manda ao cidadão ter uma doença súbita nos confins do interior, quando as urgências que os politicos querem estão no litoral.

É com este espirito que se fecham SAP’s (Serviços de Atendimento Permanente) que cometeram a imprudência de não terem mais de 10 consultas (utentes doentes) por noite. Quem é que manda ao cidadão querer ter um médico quando mais precisa dele.
Como solução rápida para inverter rápidamente os números, cidadãos deste país, vamos a correr ás urgências e aos SAP. Rápido, vamos inverter rápidamente as estatisticas antes que as estatisticas nos fechem as portas da saúde, impedindo assim os politicos de se valerem dos números como razão que os assiste.

Iremos, a par do terceiro mundo, assistir a mais nascimentos em ambulâncias e com a tradicional imaginação portuguesa ainda vamos ter nomes originais nas nossas crianças: Maria Km 23 da A14 da Silva, Sandra Bombeiros Ferreira ou mesmo António Ambulância Nascido Antunes.

Não nos enganem. Quando lemos noticias de projectos de Maternidades e Clinicas Privadas nas regiões onde as estatais encerraram, sabemos de antemão que esta politica serve os Privados a quem teremos de pagar a saúde em detrimento de já a termos pago em impostos ao Estado que agora se demite das suas responsabilidades.

Como exemplo posso referir o eventual futuro encerramento de vários Atendimentos Permanentes na região Centro de onde destaco da nossa região os seguintes: Góis, Oliveira do Hospital, Lousã, Miranda do Corvo, e Poiares. Este já famoso, Estudo de Peritos de Saúde sobre as urgências, pretende, na minha opinião, concentrar as urgências desta região em Arganil, saturando estas e baixando substâncialmente a sua qualidade e tempo de atendimento.

Preocupante é o facto dos governantes dizerem que estas populações estão a cerca de 30 minutos do SAP mais próximo. Preocupante porque populações envelhecidas com dificuldades várias de darem um passo, querem que estas se desloquem vários quilómetros. Como ? pergunta-se. E mais. Normalmente estas contas fazem-se a partir da sede do Concelho. E quem vive na serra nos limítrofes do Concelho, com mais outros 30 minutos para chegar, também não têm direito à saúde ?

Será que estes cidadãos agora considerados gastadores dos dinheiros públicos não tiveram já uma vida activa de trabalho e de descontos para a Segurança Social ? Ou temos que dizer aos nossos jovens que os seus impostos estão a contribuir para a sua futura Insegurança Social ?

O que mais dói é também o facto dos nossos autarcas pouco ou nada fazerem para defenderem os escassos recursos de saúde que têm e com esta subserviência governativa ou de côr partidária colocarem em causa a qualidade de vida das suas populações.

Podemos ler todos os Jornais da nossa região, mas em nenhum deles encontramos qualquer referência ou informação sobre eventais reuniões no Ministério da Saúde sobre este tema ou mesmo pedidos de audiência dos Presidentes da Câmara desta região. Com calma e serenidade aguardemos pois o encerramento deste governo.

Sejam muito felizes, com saúde.
in Jornal de Arganil

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