sexta-feira, 30 de março de 2007

Estátuas mudas, de Abílio Bandeira Cardoso

Estátuas mudas em multidão
Polidas, trabalhadas
Quase jóias de filigrana
Polidas, trabalhadas

Estátuas esquecidas
Que são feitas da mesma pedra,
Que pisam,
Das calçadas
Polidas, trabalhadas…

Estátuas escondidas
De todas as estátuas –
– Polidas, trabalhadas –
– Que as rodeiam,
Esquecidas
De que são feitas da mesma pedra
De todas as outras estátuas
Polidas, trabalhadas…

Estátuas isoladas
De todas as outras estátuas
Polidas, trabalhadas.
Suportes do mesmo pedestal
Lembrando o rochedo
Donde foram lavradas
E que preferem esquecer
Porque agora são
Polidas, trabalhadas

Eu sou rochedo
No cume da montanha
Não polido ou trabalhado
Durante o dia converso com os pássaros
Durante a noite falo às estrelas
No ocaso digo adeus ao pôr-do-sol
E sorrio às flores no orvalho da manhã.
Abraço todos os outros rochedos
Não polidos ou trabalhados
Do topo das outras montanhas
Sou esculpido
Pela chuva, pelo vento
Pelo sol, pelo tempo
Não sou polido ou trabalhado…
Nem mudo…

Abílio Bandeira Cardoso

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