sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Eu, pernada de tronco do abismo
Lanço-te meus braços absolutos
Cimentados em direcção a ti.
Mais nada me pode chegar...
Pois que sequem!
E gelem assim apontados!
E se houver de morrer
Que eles simbolizem meu querer
Até que meu tronco se derrube
E num imortal abraço
Caia sobre ti.
E que nossas cinzas se confundam
E se misturem na eternidade.
E que delas se alimentem novos seres,
Produto de nós dois
Unindo-nos nas gerações
Que outros braços queiram tocar.
Se a vida nos deixou presos
A raízes ou segredos
A medos ou distâncias
Que a morte nos sossegue
e meu corpo no teu se entregue...



E eu, pernada que no vento espero
Por só naquele sopro te tocar,
Espero teu abraço no tempo...
E de tua boca anseio
Apenas palavras
Que são tudo por ora
O que na minha posso receber...
Desejo a morte em qualquer hora
Com ou sem luar
Na alvorada ou no ocaso
Teus braços são tudo o que quero
Num abraço
Meu corpo ao teu juntar...
Vem e cai sobre mim
Que a demora me consome
Num tempo que nao é nosso
Que nos impede de ficar
Que nos impede de beijar
Que nos afasta presos a raízes
Que apenas nossa vida mantêm
E nos impedem de tombar.
Deixemos nossas raízes morrer
Para que num sopro de mar
Eu caia sobre ti
Ou num suspiro de montanha
Teu corpo no meu se despenhe...

Abílio Bandeira Cardoso