A Misericórdia de Góis e a sua Igreja

As Misericórdias foram sendo fundadas nos burgos de maior importância sociocultural e económica, onde por vezes já existia uma tradição assistencial forte, com várias irmandades ou confrarias a prestarem assistência a pobres e a presos, em pequenos hospitais ou albergues, e que as Misericórdias aglutinaram e passaram a administrar; podem ter surgido ainda através da fundação de membros importantes da nobreza.
Localizavam-se no centro do núcleo urbano, ainda no interior da zona medieval ou já nas zonas de expansão, quase sempre nas principais vias ou praças, o mais próximo possível dos dois pólos do poder local: os paços do concelho e a igreja matriz.
As irmandades das Misericórdias do distrito de Coimbra foram, na sua grande maioria, instituídas no século XVI.
Apesar de a maioria da bibliografia referir que a Misericórdia de Góis foi instituída em 1498 e a própria instituição já ter festejado os 500 anos, apresentando na fachada um painel luminoso com essa alusão, a verdade é que a irmandade foi criada em 1596. Este erro histórico deve-se ao facto de o título do Compromisso da Misericórdia referir, por engano, 1498 como data da sua fundação, tendo levado Costa Goodophim, sem ler o resto do documento, a apontar esse ano para a instituição da irmandade. O lapso já foi anteriormente apontado por António Francisco Barata, mas continua a ser repetido e perpetuado por outros autores e pela própria Misericórdia.
A planimetria da igreja permanece numa incógnita, devido a ter sofrido grande adulteração, possuindo, no entanto, volume único que poderá indiciar a tipologia de nave e presbitério, tendo ainda um pequeno vão semicircular, possivelmente para encaixe do antigo retábulo-mor.
Relativamente à organização da fachada principal, verificamos que a igreja termina em empena, com cornija. Esta foi muito alteada devido a uma reforma oitocentista e foi integrado o sino no seu centro.
Os vãos e os diversos elementos estruturais e decorativos escultóricos, típicos da região de Coimbra, dispõem-se num eixo central composto pelo portal, em arco de volta perfeita, resultante de uma reforma novecentista, enquadrado por colunas.
À igreja adossavam-se outras construções, como a sacristia, a casa da cera, o cartório e a Casa do Despacho, onde a irmandade realizava as suas sessões e encontros semanais. Estes anexos e a Casa do Despacho dispõem-se à esquerda da igreja, com a sua fachada principal desenvolvida na mesma orientação daquela.
As tribunas da Misericórdia, desenvolvidas junto ao coro e com ele formando um "U", constituem uma excepção no distrito e datam de 1848.
Fonte: Revista Monumentos, DGEMN