terça-feira, 14 de novembro de 2006

Percorrer Góis

Situada em terrenos aplanados da fértil bacia do Ceira, junto à serra do Rabadão, a vila desenvolveu-se na margem direita do rio com a extensão ocidental do Bairro de São Paulo, na margem esquerda, em plano pegado à base da serra do Carvalhal, ligadas as duas zonas urbanas pela corcovada ponte manuelina.
Góis conserva praticamente o traçado topográfico quinhentista, só alterado em contados casos impostos por exigências naturais do trânsito moderno, como na Rua Conselheiro José Dias Ferreira, que vai da Praça à Ponte - a antiga Rua da Ponte, por demasiado estreita, mal permitia passagem a um carro e as demolições necessárias começaram pela própria velha Casa da Câmara, avançada sobre a rua.
Embora muitas das construções sejam de séculos mais próximos, ou mesmo do actual - e estas nem sempre acertadas -, ainda se conservam casas quinhentistas, lindíssiomos portais e janelas, alpendres, varandas, cunhais de cantaria, ombreando com muitas outras dos séculos XVII, XVIII e XIX, em saborosos conjuntos. Algumas lojas comerciais souberam também manter um delicioso carácter «fim de século» nas fachadas e no interior, cunho de dignidade e confiança.
Percorrer Góis é repousante, apaziguador, seja para norte pela Ribeirinha Rua da Torre Fundeira até à Rua da Roda, ou para sul, pela Rua de Santo António, Largo do Terreirinho, Rua dos Figueirais... Da muito característica praça sai a Rua de Pêro Rodrigues, algum tempo chamada Rua da Quinta por se abrir para ela a Quinta da Capela, magnífico solar de nobre frontaria e preciosos tectos pintados, hoje Paços do Concelho.
Por toda a volta oferecem-se outros e mais outros encontros com casas e recantos de muito agrado estético nas Ruas do Forno e do Celeiro, no Pé Salgado, na Lavra de baixo, no Largo do Pombal - composição de valores arquitecturais enquadrando uma antiga fonte revestida de magníficos azulejos hispano-árabes quinhentistas -, nas Ruas da Misericórdia e da Cruz, do Jogo, da Igreja, na de Além e na de Cima, de São Vicente, das Parreiras, na Quelha da Bota.
Podia continuar-se ainda a lista de encantos nesta toponímia de sabor tradicional bem relacionado com o espírito da sua arquitectura urbano-ruralista.
A igreja matriz, monumento nacional de estruturas ogivais e alguns trechos de elevada qualidade artística, possui uma obra-prima da nossa arte renascentista, o túmulo de D. Luís da Silveira, 17.º senhor de Góis e 1.º conde de Sortelha, a quem se deve um período de grande desenvolvimento da vila e seus lugares.
Ao cruzar a ponte para a margem ocidental e no seu próprio enfiamento ergue-se a linda capela hexagonal do mártir S. Sebastião, setecentista, encostada ao Morro do Castelo, em cujo cimo está uma original capela manuelina mandada construir por D. Luís da Silveira e uma das preciosidades arquitectónicas de Góis.
A norte da ponte fica o Bairro de São Paulo, com o antigo Solar dos Sanches, algo enterrado pela estrada, algumas casas de certo carácter e o Adro dos Cavalos, recinto murado, talvez «aparcamento» de equídeos nos velhos tempos de grandes feiras.
Continuam a ser, serão sempre, atractivos os passeios ao longo do Ceira em qualquer das margens e em qualquer dos sentidos, pelos terreiros e caminhos possíveis, pontos de mira de deliciosas perspectivas. Assim é Góis!
Fonte: As Mais Belas Vilas e Aldeias de Portugal, Editorial Verbo

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