Património natural do concelho de Góis
O concelho de Góis oferece ao visitante cenários de rara beleza, contendo um valioso património natural e histórico-cultural que podem ser contemplados de acordo com os mais variados interesses e motivações. Para além dos cursos de água cristalina que serpenteiam e banham esta magnífica região destaca-se a imponência do afloramento quartzítico do Ordovício, vulgarmente conhecido por Penedos de Góis com uma altitude de 1040 metros, bem como o canhão quartzítico da Senhora da Candosa, com cerca de 100 metros de profundidade, rasgado pelas águas do rio Ceira. Estas características naturais permitem a prática de algumas modalidades de desporto aventura.
O Pinhal Interior é uma zona serrana característica de relevo bastante quebrado, xistosa, de marcada influência atlântica com variações hipsométricas e climáticas bem vincadas. Trata-se um território extenso e homogéneo, colonizado fundamentalmente pelo pinhal. A agricultura reduz-se às várzeas férteis, de reduzida superfície, ou envolve as aldeias em socalco, no fundo das encostas. Na vegetação natural pontuam o carvalho-roble (Quercus robur) e o medronheiro (Arbutus unedo). Orlando Ribeiro (1995) descreve-a do seguinte modo: "Estas serranias de xisto dão uma paisagem de formas confusas: cimos pontiagudos ou em cúpula, nesgas de planaltos, lombas de encostas convexas, vales profundos e apertados, tudo de uma desoladora nudez. Na Primavera há matizes preciosos de roxo e verde, enquanto as urzes florescem. Mas no Verão, por um calor atroz, quando as estevas rescendem a ládano, tudo é cinzento ou acastanhado, banhado numa luz baça e uniforme." Este autor refere-se sobretudo aos cerros cobertos por um manto arbustivo. Mas a descrição que é feita ganha cada vez mais actualidade dado que, nos últimos anos, os múltiplos incêndios que devastaram o concelho fizeram alastrar as áreas de matagal.
O coberto vegetal primitivo estaria revestido por um bosque no qual pontuariam os carvalhos (género Quercus). Com a crescente influência humana vieram o fogo, o pastoreio e o corte que foram desbravando o bosque, acabando por alterá-lo por completo. A vegetação terá depois passado por diversas fases de degradação/regeneração que culminaram, no século XIX, num imenso "mar" arbustivo - a charneca - recobrindo sucessivos cerros. Contudo, no princípio do século XX, algumas encostas serranas estavam ainda cobertas por soutos, cujos castanheiros começaram a ser plantados no reinado de D. Dinis. A partir da década de 20, estes acabaram por desaparecer, atacados pela doença. Foi então que se deu início à invasão em massa do pinheiro-bravo (Pinus pinaster). Esta transformação veio modificar profundamente os hábitos das gentes cuja economia estava baseada na castanha. Hoje, os soutos são raros e, como se sabe, o pinhal tomou conta da paisagem.
Por força da introdução maciça do pinheiro-bravo, esta área geográfica apresenta globalmente uma grande uniformidade ambiental. Com efeito, a homogeneidade de ambientes trouxe um correspondente decréscimo na diversidade e riqueza de espécies. Apesar de ser, no essencial, uma região serrana, ela é biologicamente bastante mais pobre do que a Estrela, que está muito próxima. Esta situação relaciona-se directamente com a variedade e/ou representatividade de ambientes existentes num e noutro território.
O Pinhal Interior, apesar da sua dimensão, reina a homogeneidade ambiental. As linhas de água que atravessam a serra, e a sua proximidade imediata, constituem os ambientes de maior relevo, em especial no que se refere às comunidades faunísticas. Nelas vivem duas espécies endémicas peninsulares - o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) e a salamandra-lusitânia (Chioglossa lusitanica), encontrando-se esta última ameaçada. Regra geral, as galerias repícolas são densas e ricas de vegetação. O amieiro (Alnus glutinosa) é dominante, ocorrendo ainda o loureiro (Laurus nobilis), o carvalho-roble, sabugueiros (Sambuccus sp.), bordos (Acer sp.), o ulmeiro (Ulmus minor) e o sanguinho (Frangula alnus). Nas áreas agrícolas, localizadas nos vales fertéis e no fundo das encostas, obserrvaremos o chapim-azul (Panus caerulus), a escrevedeira-de-garganta-preta (Emberiza cirlus) e o pardal-montês (Passer montanus). Recobrindo algumas ladeiras, a baixa altitude, vamos encontrar um agrupamento arbustivo denso e variado, no qual já se inclui a carvalhiça (Quercus lusitanica), um carvalho de porte arbustivo próprio do Centro e Sul de Portugal. Nas encostas do Ceira, o matagal inclui a azinheira (Quercus ilex), o que sugere a vigência de um microclima menos húmido. Nas zonas mais baixas, para além de árvores como o carvalho-roble, o sobreiro e o castanheiro - por vezes sob a forma de pequenos soutos - também ocorre, embora escasso, o carvalho-cerquinho (Quercus faginea). À excepção do carvalhedo (Quercus canariensis), próprio do Algarve, esta área geográfica alberga todas as outras espécies de carvalhos portugueses. No Pinhal Interior, o medronheiro marca forte presença, não raras vezes acompanhado pelo estevão (Cistus populifolius). Nos vales mais soalheiros, a azinheira vai ocorrendo com alguma regularidade e o carvalho-roble deixa de aparecer. A presença de elementos da vegetação natural espalhados pelo território, com maior ou menor representatividade, muitas das vezes sob o pinhal, vai-nos ajudando a perceber o tipo de coberto potencial e suas variantes naturais, ao longo de toda a área serrana.
O pinhal evidencia diferenças quer na idade dos povoamentos (há bastantes pinhais de implantação recente) quer sobretudo ao nível do seu sub-bosque (em função da altitude e das nuances microclimáticas em geral). Algumas espécies são próprias de zonas baixas - a esteva (Cistus ladanifer) -, enquanto outras se desenvolvem a qualquer altitude - o medronheiro -, embora variem consideravelmente em abundância. A avifauna florestal é, das comunidades animais, a mais expressiva. Contudo, não demonstra nem complexidade estrutural, nem numerosa riqueza específica. Destacam-se espécies como o gavião (Accipiter nisus), o pombo-torcaz (Columba palumbus), a gralha-preta (Corvus corone), o gaio (Garrulus glandarius), a coruja-do-mato (Strix aluco), o pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), o chapim-preto (Parus ater), o chapim-de-poupa (Parus cristanus), a trepadeira-comum (Certhia brachydactyla) e, em locais de maior humidade, geralmente em altitude, a estrelinha-real (Regulus ignicapillus).
O terrível flagelo que representam os incêndios florestais tem, do ponto de vista ecológico, uma consequência óbvia - a diversificação do habitat. Assim, onde num passado recente apenas existia um manto contínuo de pinhal, abrem-se agora clareiras mais ou menos extensas de matos baixos. Nelas vêm nidificar aves que aproveitaram com sucesso as novas condições ambientais. Estamos a pensar, em particular, na petinha-dos-campos (Anthus campestris) e na laverca (Alauda arvensis). Outras, como a ferreirinha (Prunella modularis), a felosa-do-mato (Sylvia undata), a toutinegra-carrasqueira (Sylvia cantillans) e a cia (Emberiza cia)- residentes na área -, aqui aparecem vindas dos meios contíguos. O rabirruivo-preto (Phoenicurus ochuros)procura antes as aldeias para se estabelecer e daí parte à procura de alimento nos campos envolventes. Os cabeços e cimos de encostas cobertos de urzes-vermelha (Erica australis), pela carqueija (Genista tridentada), pela acácia (Acacia dealbata) e pelo Halimium alyssoides constituem boas zonas de caça para aves de rapina como o peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus), a águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) e a águia-cobreira (Circaetus gallicus). Estas aves caçam sobretudo o coelho bravo (Oryctolagus cuniculus), a perdiz (Alectoris rufa), e a cobra-rateira (Malpolon monspessulanus) - o maior ofídio da nossa fauna. Característico destas zonas são também a raposa (Vulpes vulpes), e o javali (Sus srofa). Na população piscícola destacam-se a truta (Salmo trutta), o barbo (Barbus barbus) e a boga (Chondrostoma nasus).
O Pinhal Interior é uma zona serrana característica de relevo bastante quebrado, xistosa, de marcada influência atlântica com variações hipsométricas e climáticas bem vincadas. Trata-se um território extenso e homogéneo, colonizado fundamentalmente pelo pinhal. A agricultura reduz-se às várzeas férteis, de reduzida superfície, ou envolve as aldeias em socalco, no fundo das encostas. Na vegetação natural pontuam o carvalho-roble (Quercus robur) e o medronheiro (Arbutus unedo). Orlando Ribeiro (1995) descreve-a do seguinte modo: "Estas serranias de xisto dão uma paisagem de formas confusas: cimos pontiagudos ou em cúpula, nesgas de planaltos, lombas de encostas convexas, vales profundos e apertados, tudo de uma desoladora nudez. Na Primavera há matizes preciosos de roxo e verde, enquanto as urzes florescem. Mas no Verão, por um calor atroz, quando as estevas rescendem a ládano, tudo é cinzento ou acastanhado, banhado numa luz baça e uniforme." Este autor refere-se sobretudo aos cerros cobertos por um manto arbustivo. Mas a descrição que é feita ganha cada vez mais actualidade dado que, nos últimos anos, os múltiplos incêndios que devastaram o concelho fizeram alastrar as áreas de matagal.
O coberto vegetal primitivo estaria revestido por um bosque no qual pontuariam os carvalhos (género Quercus). Com a crescente influência humana vieram o fogo, o pastoreio e o corte que foram desbravando o bosque, acabando por alterá-lo por completo. A vegetação terá depois passado por diversas fases de degradação/regeneração que culminaram, no século XIX, num imenso "mar" arbustivo - a charneca - recobrindo sucessivos cerros. Contudo, no princípio do século XX, algumas encostas serranas estavam ainda cobertas por soutos, cujos castanheiros começaram a ser plantados no reinado de D. Dinis. A partir da década de 20, estes acabaram por desaparecer, atacados pela doença. Foi então que se deu início à invasão em massa do pinheiro-bravo (Pinus pinaster). Esta transformação veio modificar profundamente os hábitos das gentes cuja economia estava baseada na castanha. Hoje, os soutos são raros e, como se sabe, o pinhal tomou conta da paisagem.
Por força da introdução maciça do pinheiro-bravo, esta área geográfica apresenta globalmente uma grande uniformidade ambiental. Com efeito, a homogeneidade de ambientes trouxe um correspondente decréscimo na diversidade e riqueza de espécies. Apesar de ser, no essencial, uma região serrana, ela é biologicamente bastante mais pobre do que a Estrela, que está muito próxima. Esta situação relaciona-se directamente com a variedade e/ou representatividade de ambientes existentes num e noutro território.
O Pinhal Interior, apesar da sua dimensão, reina a homogeneidade ambiental. As linhas de água que atravessam a serra, e a sua proximidade imediata, constituem os ambientes de maior relevo, em especial no que se refere às comunidades faunísticas. Nelas vivem duas espécies endémicas peninsulares - o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) e a salamandra-lusitânia (Chioglossa lusitanica), encontrando-se esta última ameaçada. Regra geral, as galerias repícolas são densas e ricas de vegetação. O amieiro (Alnus glutinosa) é dominante, ocorrendo ainda o loureiro (Laurus nobilis), o carvalho-roble, sabugueiros (Sambuccus sp.), bordos (Acer sp.), o ulmeiro (Ulmus minor) e o sanguinho (Frangula alnus). Nas áreas agrícolas, localizadas nos vales fertéis e no fundo das encostas, obserrvaremos o chapim-azul (Panus caerulus), a escrevedeira-de-garganta-preta (Emberiza cirlus) e o pardal-montês (Passer montanus). Recobrindo algumas ladeiras, a baixa altitude, vamos encontrar um agrupamento arbustivo denso e variado, no qual já se inclui a carvalhiça (Quercus lusitanica), um carvalho de porte arbustivo próprio do Centro e Sul de Portugal. Nas encostas do Ceira, o matagal inclui a azinheira (Quercus ilex), o que sugere a vigência de um microclima menos húmido. Nas zonas mais baixas, para além de árvores como o carvalho-roble, o sobreiro e o castanheiro - por vezes sob a forma de pequenos soutos - também ocorre, embora escasso, o carvalho-cerquinho (Quercus faginea). À excepção do carvalhedo (Quercus canariensis), próprio do Algarve, esta área geográfica alberga todas as outras espécies de carvalhos portugueses. No Pinhal Interior, o medronheiro marca forte presença, não raras vezes acompanhado pelo estevão (Cistus populifolius). Nos vales mais soalheiros, a azinheira vai ocorrendo com alguma regularidade e o carvalho-roble deixa de aparecer. A presença de elementos da vegetação natural espalhados pelo território, com maior ou menor representatividade, muitas das vezes sob o pinhal, vai-nos ajudando a perceber o tipo de coberto potencial e suas variantes naturais, ao longo de toda a área serrana.
O pinhal evidencia diferenças quer na idade dos povoamentos (há bastantes pinhais de implantação recente) quer sobretudo ao nível do seu sub-bosque (em função da altitude e das nuances microclimáticas em geral). Algumas espécies são próprias de zonas baixas - a esteva (Cistus ladanifer) -, enquanto outras se desenvolvem a qualquer altitude - o medronheiro -, embora variem consideravelmente em abundância. A avifauna florestal é, das comunidades animais, a mais expressiva. Contudo, não demonstra nem complexidade estrutural, nem numerosa riqueza específica. Destacam-se espécies como o gavião (Accipiter nisus), o pombo-torcaz (Columba palumbus), a gralha-preta (Corvus corone), o gaio (Garrulus glandarius), a coruja-do-mato (Strix aluco), o pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), o chapim-preto (Parus ater), o chapim-de-poupa (Parus cristanus), a trepadeira-comum (Certhia brachydactyla) e, em locais de maior humidade, geralmente em altitude, a estrelinha-real (Regulus ignicapillus).
O terrível flagelo que representam os incêndios florestais tem, do ponto de vista ecológico, uma consequência óbvia - a diversificação do habitat. Assim, onde num passado recente apenas existia um manto contínuo de pinhal, abrem-se agora clareiras mais ou menos extensas de matos baixos. Nelas vêm nidificar aves que aproveitaram com sucesso as novas condições ambientais. Estamos a pensar, em particular, na petinha-dos-campos (Anthus campestris) e na laverca (Alauda arvensis). Outras, como a ferreirinha (Prunella modularis), a felosa-do-mato (Sylvia undata), a toutinegra-carrasqueira (Sylvia cantillans) e a cia (Emberiza cia)- residentes na área -, aqui aparecem vindas dos meios contíguos. O rabirruivo-preto (Phoenicurus ochuros)procura antes as aldeias para se estabelecer e daí parte à procura de alimento nos campos envolventes. Os cabeços e cimos de encostas cobertos de urzes-vermelha (Erica australis), pela carqueija (Genista tridentada), pela acácia (Acacia dealbata) e pelo Halimium alyssoides constituem boas zonas de caça para aves de rapina como o peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus), a águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) e a águia-cobreira (Circaetus gallicus). Estas aves caçam sobretudo o coelho bravo (Oryctolagus cuniculus), a perdiz (Alectoris rufa), e a cobra-rateira (Malpolon monspessulanus) - o maior ofídio da nossa fauna. Característico destas zonas são também a raposa (Vulpes vulpes), e o javali (Sus srofa). Na população piscícola destacam-se a truta (Salmo trutta), o barbo (Barbus barbus) e a boga (Chondrostoma nasus).
Etiquetas: ceira, fotografia, góis, penedos
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