sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Milreu na mira de gatunos

Sempre que presto ouvidos aos nossos políticos, reparo tratar-se de conceituados especialistas em tentar fazer-nos acreditar que o triunfo nas aventuras da vida resulta, em primeiro passo, dos sacrossantos princípios da democracia, garante supremo da liberdade, da ordem e dos direitos humanos. Face ao magro nível da minha instrução, que pouco mais acima está da 4.ª classe, não sou pessoa importante e fico sem caução qualificada para rebater com proveito uma qualquer balela estrondosa. Na expressão plebeia, sou... um nabo! Muitos anos porém vividos ensinaram-me demasiadas coisas, entre elas vastos motivos para desconfiar de tal "democracia" tão levianamente apregoada. Na minha cabeça é já um regime caduco, posto a dieta e reduzido ao esqueleto, há muito levado ao aborrecimento devido aos inúmeros vícios alimentados.
Ao assunto.
Milreu é um ponto ignorado e perdido no Portugal do Meio-Dia, ocupando uma arriba no extremo sul do Concelho de Góis. Aldeia rústica, onde se adormece ao som da água da ribeira correndo ao fundo, onde os dias se fazem anunciar por uma luminosidade incerta dos lados do oriente serrano e as pessoas batem com os pés na laje da rua sacudindo o gelo penetrante das manhãs de Inverno, tem-se mantido relativamente imune à cobiça de ladrões e congéneres. Até há pouco; agora também passou a ser perturbada por gente sem escrúpulos, aproveitando-se do isolamento geográfico e duma atroz sangria demográfica.
O primeiro assalto rendeu a "esses visitantes" um balde com alguma ferramenta de trabalho, apesar de oculto com plástico na minha casa em obras de construção. Ultrapassa todavia largamente a confiança escassa que ainda possuía, o segundo assalto ocorrido no dia seguinte ao Domingo de Finados, em que desapareceu do mesmo sítio uma arca velha de pinho com ferramentas e arrumos diversos. Julgo ter indícios mais ou menos seguros para apontar um dedo certeiro ao autor do êxito; o "flagrante" por sua vez aconselha reserva. Suspeito entretanto que o intuito visado terá sido apenas um: angariar meia dúzia de cobres com rumo pouco honesto.
A ideia de construção da ponte ribeirinha nunca me entusiasmou. Os episódios relatados pressagiam que a concretização do projecto retirará, por reflexo, o apoio indispensável ao sossego dos residentes e à integridade das casas dos ausentes.
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Góis, o policiamento nestas bandas é nulo. Não se pode lançar alarme porque as esquadras estão longe. A população de Milreu agradece que as brigadas alarguem o perímetro de actividade, com visitas periódicas e regulares, a favor da paz e da segurança dos parcos cidadãos desta terra.
M.M.S.
in Jornal de Arganil, de 20/11/2008

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