Acabaram com a agricultura, faltam os alimentos
Ultimamente tem-se verificado um aumento brutal no preço dos produtos alimentares e nos combustíveis. Embora normalmente o aumento dos primeiros esteja associado ao dos segundos, desta vez não é apenas este o factor a contribuir para o que está a acontecer. O principal factor reside na escassez de produtos alimentares que se verifica em todo o mundo.
Efectivamente, além de uma maior procura de alimentos, que também é fruto da mudança de hábitos alimentares, consequência directa da melhoria da qualidade de vida em vários países nomeadamente na China e na Índia - outros factores contribuíram para que a escassez de alimentos e consequente aumento do preço dos mesmos se tenha verificado.
Um deles tem sido o cultivo desenfreado de plantas oleaginosas para a produção de bio-diesel, fazendo com que vastos terrenos antes utilizados para produzir alimentos, hoje produzam plantas para combustível.
Outro dos factores resultou do facto de alguns países, nomeadamente Portugal, não terem conseguido ou pretendido criar condições para promoverem a sua própria produção de reservas alimentares, através do apoio a uma agricultura moderna, virada para a produção efectiva e que não permitisse o fomento dos subsídios ao absentismo, ao abate de meios de produção e ao abandono dos campos. Aliado a este último factor vendeu-se a ideia que Portugal não estava vocacionado para a agricultura, ficando sempre mais barato comprar alimentos no estrangeiro em vez de os produzirmos.
No que respeita ainda ao nosso país, não foram só as directivas europeias através da PAC - Política Agrícola Comum - e do Ministério da Agricultura, que originaram toda esta crise, foram também as sucessivas medidas erradas e desastrosas, que a nível social, do ordenamento do território, da economia e outras mais, contribuíram para o abandono generalizado da ágricultura e subsequente desertificação do mundo rural, nomeadamente do interior do país.
Realmente que podemos esperar de um país, onde as únicas actividades eéonómico-empresariais promovidas e estimuladas, são as obras públicas (muitas delas inúteis e autênticos elefantes brancos), a banca, os centros comercias e o turismo de sol e praia? Que podemos esperar de um país que não defende o mundo rural é a agricultura, a paisagem e o meio ambiente, a indústria e a investigação, o património e a cultura? Que podemos esperar de um país que encerra tudo o que é serviço público no interior, como centros de saúde, hospitais, maternidades, tribunais e escolas? Que podemos esperar de um país que não promove a discriminação positiva para quem vive no interior, muito pelo contrário, obriga quem ali vive a fugir para os grandes centros urbanos do litoral, cada vez mais densamente povoados, urbanisticamente desordenados e com elevadas taxas de exclusão social e criminalidade?
Um sector que tem vindo a ter uma procura considerável é o turismo em espaço rural, que poderia ser um óptimo complemento à agricultura tomando-se uma alavanca para o desenvolvimento, principalmente das terras do interior. No entanto, a continuarmos a trilhar os caminhos que trilhamos esta actividade poderá estar votada ao fracasso. Ou será. que alguém gosta de visitar locais abandonados, terras não cultivadas, aldeias desabitadas, tudo transformado em autênticos desertos, n9 pior sentido do termo?
Que interesse terá para um turista visitar por exemplo a nossa Beira-Serra e verificar que pelos montes e vales onde antes predominava a floresta mediterrânica, como as oliveiras, os castanheiros e os medronheiros; onde se semeava o milho e o centeio; onde se pastoreavam rebanhos de ovelhas e cabras, e se podiam observar aqui e acolá apiários de colmeias, de onde se colectava o melhor mel do mundo, proveniente da flor da urze e da queiró, estejam hoje reduzidos unicamente a uma extensa mancha de eucaliptos. Que prazer terá um turista verificar que as margens dos nossos rios e ribeiras estão cobertas de silvas, não permitindo usufruir deles para pescar, passear ou tomar banho, ou ainda, ao percorrer as nossas aldeias descobrir que estão desertas, sem crianças, jovens e onde os velhos começam já a escassear.
Sinceramente, não sei se vamos a tempo de remediar tanta incompetência e asneira que fizeram à agricultura e ao mundo rural deste país, nomeadamente nestas últimas décadas. No entanto já ficava feliz se a escassez de alimentos que se verifica e que está a provocar uma subida monumental dos preços, fosse resolvida de forma a que o fantasma da fome não passasse disso mesmo, um fantasma.
José Manuel Simões Anjos
in O Varzeense, de 15/06/2008
Efectivamente, além de uma maior procura de alimentos, que também é fruto da mudança de hábitos alimentares, consequência directa da melhoria da qualidade de vida em vários países nomeadamente na China e na Índia - outros factores contribuíram para que a escassez de alimentos e consequente aumento do preço dos mesmos se tenha verificado.
Um deles tem sido o cultivo desenfreado de plantas oleaginosas para a produção de bio-diesel, fazendo com que vastos terrenos antes utilizados para produzir alimentos, hoje produzam plantas para combustível.
Outro dos factores resultou do facto de alguns países, nomeadamente Portugal, não terem conseguido ou pretendido criar condições para promoverem a sua própria produção de reservas alimentares, através do apoio a uma agricultura moderna, virada para a produção efectiva e que não permitisse o fomento dos subsídios ao absentismo, ao abate de meios de produção e ao abandono dos campos. Aliado a este último factor vendeu-se a ideia que Portugal não estava vocacionado para a agricultura, ficando sempre mais barato comprar alimentos no estrangeiro em vez de os produzirmos.
No que respeita ainda ao nosso país, não foram só as directivas europeias através da PAC - Política Agrícola Comum - e do Ministério da Agricultura, que originaram toda esta crise, foram também as sucessivas medidas erradas e desastrosas, que a nível social, do ordenamento do território, da economia e outras mais, contribuíram para o abandono generalizado da ágricultura e subsequente desertificação do mundo rural, nomeadamente do interior do país.
Realmente que podemos esperar de um país, onde as únicas actividades eéonómico-empresariais promovidas e estimuladas, são as obras públicas (muitas delas inúteis e autênticos elefantes brancos), a banca, os centros comercias e o turismo de sol e praia? Que podemos esperar de um país que não defende o mundo rural é a agricultura, a paisagem e o meio ambiente, a indústria e a investigação, o património e a cultura? Que podemos esperar de um país que encerra tudo o que é serviço público no interior, como centros de saúde, hospitais, maternidades, tribunais e escolas? Que podemos esperar de um país que não promove a discriminação positiva para quem vive no interior, muito pelo contrário, obriga quem ali vive a fugir para os grandes centros urbanos do litoral, cada vez mais densamente povoados, urbanisticamente desordenados e com elevadas taxas de exclusão social e criminalidade?
Um sector que tem vindo a ter uma procura considerável é o turismo em espaço rural, que poderia ser um óptimo complemento à agricultura tomando-se uma alavanca para o desenvolvimento, principalmente das terras do interior. No entanto, a continuarmos a trilhar os caminhos que trilhamos esta actividade poderá estar votada ao fracasso. Ou será. que alguém gosta de visitar locais abandonados, terras não cultivadas, aldeias desabitadas, tudo transformado em autênticos desertos, n9 pior sentido do termo?
Que interesse terá para um turista visitar por exemplo a nossa Beira-Serra e verificar que pelos montes e vales onde antes predominava a floresta mediterrânica, como as oliveiras, os castanheiros e os medronheiros; onde se semeava o milho e o centeio; onde se pastoreavam rebanhos de ovelhas e cabras, e se podiam observar aqui e acolá apiários de colmeias, de onde se colectava o melhor mel do mundo, proveniente da flor da urze e da queiró, estejam hoje reduzidos unicamente a uma extensa mancha de eucaliptos. Que prazer terá um turista verificar que as margens dos nossos rios e ribeiras estão cobertas de silvas, não permitindo usufruir deles para pescar, passear ou tomar banho, ou ainda, ao percorrer as nossas aldeias descobrir que estão desertas, sem crianças, jovens e onde os velhos começam já a escassear.
Sinceramente, não sei se vamos a tempo de remediar tanta incompetência e asneira que fizeram à agricultura e ao mundo rural deste país, nomeadamente nestas últimas décadas. No entanto já ficava feliz se a escassez de alimentos que se verifica e que está a provocar uma subida monumental dos preços, fosse resolvida de forma a que o fantasma da fome não passasse disso mesmo, um fantasma.
José Manuel Simões Anjos
in O Varzeense, de 15/06/2008
Etiquetas: beira serra, chã de alvares
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