sábado, 19 de abril de 2008

A sempre eterna Vila de Alvares

Escrever sobre a eterna Vila de Alvares é algo que se pode desencadear em qualquer momento sem o mínimo constrangimento, mas se entretanto ocorrer uma visita àquela terra para matar saudades, então essa vontade desabrocha ao correr da pena de maneira incontrolável e vertiginosa.
Desta vez fomos encontrar um vagaroso e manso dia-a-dia que nos pode ajudar a prolongar no tempo, um alegre nascer do sol que nos pode bafejar com a renovação de energias tão necessária. Depois do ajustamento ao novo ritmo, misturado com um pouco de sossego, tudo se tornou mais fácil e se encaminhou para um novo estado de espírito; um olhar mais atento e um sorriso para os que, como nós, estavam de volta em busca de algo que lhes faltava. Somos assim como as aves de arribação, estamos sempre de regresso e de partida.
Este vaivém permite-nos um olhar mais atento sobre o que vai sendo feito, numa perspectiva de vir, mais tarde, a ser melhorado. O alindamento do espaço contíguo ao soito, convida-nos a um exercício matinal tão cativante quanto retemperador, não só pelo que os olhos podem desfrutar ao raiar do sol, mas também pelo que os ouvidos podem registar vindo do murmúrio das águas. Sem nos darmos conta que estamos num recanto do Portugal desconhecido.
Não está ainda concluído, mas a sua configuração leva-nos a imaginação para outros voos. Quem sabe se não seria possível uma ponte pedonal que nos pudesse levar à outra margem, onde um caminho à beira-rio nos pudesse conduzir ao poço da maquia, em tardes quentes de Verão? É sempre assim, o bom é inimigo do óptimo. Mas que o recinto tem esse ar aprazível que nos leva a sonhar alto, isso é verdade. Talvez por isso possa a vir a merecer o topónimo duma figura alvarense ilustre. Quem sabe?
Além da beneficiação deste espaço ribeirinho, tivemos também oportunidade de apreciar as obras de reajustamento às necessidades do Centro de Saúde, que tão carenciado estava. O acesso às instalações foi de tal modo readaptado que hoje, qualquer deficiente ou idoso, pode aceder ao posto médico sem qualquer dificuldade ou constrangimento. Trata-se de um caso de tal necessidade que, só quem era obrigado a subir aquela escadaria antiga e inadequada, poderia avaliar de quatro estas alterações se tornavam indispensáveis.
Certamente que estas obras obrigarão a um enorme esforço financeiro da parte da autarquia, mas elas representam um grande benefício para o povo, especialmente para os mais debilitados, por conseguinte serão muito mais úteis e prioritárias do que qualquer outra obra de beneficiação que por aí possam aparecer. Não se trata de obras de fachada, antes pelo contrário, são de extrema utilidade, pelo que é sempre importante saber estabelecer ordem de prioridades.
Por último, tivemos conhecimento de que a autarquia tem em mãos um projecto de homenagem ao resineiro; projecto esse que vai perpetuar não só a tenacidade do trabalhador da floresta como, acima de tudo, a tarefa penosa e fatigante que ajudava a alimentar tantas famílias durante o estio e que obrigava esse homem a ser madrugador, para livrar os costados da canícula que o pino do sol lhe trazia. Era um trabalho árduo, próprio da montanha e da floresta de onde era extraída matéria-prima importante, mas nem sempre devidamente valorizada.
Foi assim que encontramos a nossa terra cheia de retoques necessários e de beneficiações indispensáveis que vai acrescentar algo que lhe fazia falta. Pese embora o silêncio confrangedor do despovoamento, é sempre reconfortante e agradável registar o que de positivo vai acontecendo nesta terra.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 17/04/2008

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