quarta-feira, 2 de abril de 2008

Maternidade de Árvores quer ser escola de formação e sensibilização

Proteger a Serra da Lousã e desenvolver a consciência ambiental são os pressupostos básicos da Maternidade de Árvores, que hoje é inaugurada na aldeia do xisto de Aigra Norte, no concelho de Góis. Um projecto da Liga dos Amigos da Serra da Lousã

Já há quatro anos que a Lousitânea – Liga dos Amigos da Serra da Lousã concentrou as suas atenções na protecção da floresta autóctone e na defesa da Serra da Lousã, um espaço integrado na Rede Natura 2000 que urge preservar. Caminhadas, plantação de árvores, projectos de reflorestação, têm marcado a actuação daquela Liga, que dá agora um “passo de gigante” naquilo que são os seus objectivos e razão de ser, tendo como meta a preservação do habitat da Serra da Lousã e a sensibilização para um desenvolvimento sustentável, alertando adultos e crianças para a importância da árvore e da floresta.
Em causa está a Maternidade de Árvores, que hoje é inaugurada na aldeia do xisto de Aigra Nova, no concelho de Góis. «A Maternidade de Árvores é um espaço de educação ambiental que estamos a construir na Serra da Lousã. Um espaço onde vamos ter muitos “bebés” para tomar conta e para transplantar para zonas que estejam carenciadas». Palavras de Sandra Marques, da Lousitânea, que enquadra o projecto no trabalho feito esporadicamente ao longo dos últimos anos por parte da associação, mas, sobretudo, na necessidade «de criação de uma cultura de preservação da floresta». «Muitas vezes – explica – as pessoas não entendem a árvore como um ser vivo, encaram-na como uma coisa, e era fundamental criar um espaço de afectos com as árvores».
Nasceu, assim, a ideia da Maternidade de Árvores, um espaço que, sublinha, está organizado da mesma forma que uma maternidade. Assim, Sandra Marques apresenta a “sala de inseminação”, um espaço onde as crianças – porque é muito a elas, numa perspectiva de formação para o futuro, que o projecto se dirige – podem fazer sementeiras. Há, depois, a “sala de partos”, o espaço onde as sementes começam a mostrar a vida que encerram dentro de si, com os primeiros rebentos das árvores a verem a luz do dia. Segue-se o “berçário”, onde se encontram as árvores com um ano de idade; a “creche”, que reúne as árvores com dois anos” e ainda o “ATL”, onde se reúnem as árvores já mais “entroncadas”. A maternidade tem ainda o “exame da quarta classe”, um local onde as árvores são ou não aprovadas para o processo de transplante que se segue, averiguando, este exame, se reúnem as necessárias condições para se proceder à sua transplantação para um local onde sejam necessárias, de forma a contribuir para a reflorestação da serra.
«As pessoas vão poder percorrer todo o campo e perceber o tempo de crescimento das árvores», compreendendo as várias etapas de um processo longo e moroso, refere Sandra Marques, sublinhando que, dependendo das espécies, uma árvore atinge a maturidade certa para a sua transplantação quadro anos depois de ter sido semeada. O próprio transplante, enfatiza, é um momento de grande revelância. «A árvore sofre quando é transplantada», diz, acrescentando a necessidade de «criar condições para que essa mudança tenha o menor impacto possível.

“Deixar um mundo melhor”

«Vamos tentar explicar, na Maternidade de Árvores, tudo isto às pessoas, não só às crianças, mas também aos adultos, porque temos a responsabilidade de ser modelos para os mais novos e de deixar um mundo melhor às gerações vindouras», afirma aquela responsável. O espaço pretende, por isso, ser simultaneamente apelativo e pedagógico e criar elos de relação afectiva com os visitantes. Nesse sentido, é possível proceder ao apadrinhamento de árvores, logo na sementeira, ou então, em alternativa, seleccionar uma que já exista e apadrinhá-la. Para viabilizar esse apadrinhamento, está prevista a doação de um valor, donativo que, no mínimo, é de 15 euros e cujos limites máximos apenas dependem da “bolsa” dos padrinhos e da sua capacidade económica. A maioria dessas árvores serão, depois, transplantadas, mas também existem outras, localizadas no chamado “espaço das árvores magníficas”. Trata-se de árvores já com algum porte, explica Sandra Marques, que no dia da inauguração vão ser apadrinhadas pelas diferentes entidades presentes na cerimónia. Estas árvores “residentes” serão como que as guardiãs da maternidade e podem ser, depois, apadrinhadas por outras pessoas interessadas em ter o seu nome ou empresa ligada à protecção do ambiente. A propósito Sandra Marques refere a consciência ecológica que começa a fazer-se sentir, com várias empresas a «quererem limar o que de menos bom têm feito ao ambiente, contactando-nos para promovermos sessões e proceder à plantação de árvores».
A Maternidade vai ter , ainda, um espaço dedicado às ervas aromáticas, de forma a mostrar que é possível ter um jardim aromático e útil, sem ter necessariamente que recorrer a plantas exóticas. A urze, que dá ao mel da Lousã o sabor e cor característicos, é um dos ingredientes deste jardim, onde se juntam o alecrim, a hotelã, a lúcia-lima, manjericão, salsa, entre outras espécies.
Relativamente às espécies às quais a maternidade vai dedicar especial cuidado, Sandra Marques refere os azereiros, teichos e azevinho, castanheiros, nogueiras, cerejeiras, carvalho, alvarinho e também ulmeiros, uma espécies que está praticamente extinta na região e que a Lousitânea quer recuperar. A estas árvores juntam-se ainda vários arbustos, como os pilrreteiros, folhados e tramazeiros, entre outros. Trata-se de espécies autóctones, que têm lutado contra a invasão de outras, que ameaçam o equilíbrio da Serra da Lousã, como a mimosa, a acácia ou o eucalipto. Aquela responsável lembra a importância de manter o equilíbrio da biodiversidade, uma vez que, o bosque da Lousã é o habitat por excelência de algumas espécies animais, como acontece com a salamandra lusitânica.
in Diário de Coimbra, de 2/04/2008

Etiquetas: ,