quarta-feira, 2 de abril de 2008

Recordar


O número 5 de “O Colmeal” data de 15 de Junho de 1960. Na 1ª página uma fotografia de Santo António é acompanha todo um texto dedicado ao santo do mês. Junho designa-se por “dos santos populares” Santo António, São João Baptista e São Pedro. Mas “O Colmeal” lamenta o facto de muitos os conhecerem apenas como padroeiros de romarias, a presidem do alto dos seus tronos e conta-nos a história do Santo do mês. Junto da Sé de Lisboa, em frente da sua porta principal encontrava-se a residência do cavaleiro Fernando Martins de Bulhão, onde em 1190 nasceu seu filho de nome Fernando. Fernando de Bulhão cresceu como todas as crianças, seus pais eram abastados e sua mãe, mulher de grandes sentimentos e socorro dos pobrezinhos das redondezas. Fernando, na escola imitava a sua mãe no carinho com que tratava os colegas mais desfavorecidos. Foi aluno na Sé de Lisboa e aos 15 anos saiu da capital indo estudar para o convento de São Vicente e fez-se noviço da Ordem de Santo Agostinho onde mais tarde foi construída a Igreja de São Vicente. Fernando preferiu a vida do sacrifício às honras que podia vir a ter na Corte. Para se entregar a Deus transferiu-se para Coimbra, para o convento de Santa Cruz. Além de atender os pobres que todos os dias lá iam pedir esmolas, estudou muito, rezava e aludia aos pobres. Certo dia chegaram da Itália cinco frades franciscanos que iam para Marrocos pregar o Evangelho aos mouros e Fernando falou com eles. Passado algum tempo chegaram a Coimbra os restos mortais dos cinco frades que tinham sido mortos pelos mouros. Então, Fernando teve de Deus a inspiração de os substituir na pregação a África tornando-se franciscano indo morar para os Olivais nas ruínas do antigo convento de Santo Antão. Aí mudou de nome e em homenagem a Santo Antão que em latim se diz António, passou a chamar-se António. Em Setembro de 1220 Frei António parte para África mas adoeceu devido à viagem tormentosa que fez e voltou a Portugal. No regresso, um furacão levou o barco para a Sicília. António dirigiu-se a Assis onde vivia São Francisco, fundador dos franciscanos. Ninguém lhe deu importância pois era um frade estrangeiro, mal-encarado pelas doenças e viagens, todo esfarrapado e não sabia falar a língua daquela terra. O Frei António lava loiça a limpava a hortaliça até um dia em que preciso fazer um brinde em homenagem a uns novos sacerdotes que nesse dia eram hóspedes. O superior do convento escolheu António para falar e para grande surpresa de todos, António falou em latim clássico, citou a Sagrada Escritura e os grandes doutores da Igreja. São Francisco, nomeou-o então mestre de toda a ordem e então começou a pregar em Itália e sul de França sendo seguido por multidões para o ouvir e criar seus milagres. António faleceu em Pádua e daí alguns lhe chamarem Santo António de Pádua mas para nós portugueses é Santo António de Portugal.
Neste 5º número de “O Colmeal” é anunciado que a festa está marcada para dia 14 de Agosto, assim como a Comunhão Solene das crianças e dá conta de mais pessoas que assinaram o jornal. Destaca o envio de uma carta do Dr. Marcelo Caetano dizendo que “O Colmeal” é um precioso documento que arquiva que tanto bem pode fazer naquelas paragens serranas… A campanha para a compra de um sino chama-se desde este número de “Badaladas” e publica os nomes de quem contribuiu assim como os respectivos valores.
Continuando com “Os nomes da nossa terra”, nesta edição, Carvalhal vem de carvalho. Muitas pessoas conheciam pelo nome de Carvalha e Sarnoa. Como existem muitas povoações com esse nome, para distinguir esta da freguesia do Colmeal, chamaram-lhe do “Sapo”, talvez por ser a alcunha dada ao nome da mata… Aldeia Velha, diz-se que havia lá um casal com esse nome… Safredo vem de sáfaro que significa lugar inculto, cheio de penhascos… Porto-Chão significa porto/sitio abrigado e chão quer dizer plano. Porto-Chão é portanto uma propriedade plana num sítio abrigado… Coiços é a curva do rio ou ribeiro onde a água quer ir sempre em frente dando encontrões nas paredes que a obrigam a dar curvas… Roçaio vem de roça que significa matagal. Diziam os agricultores que o mato do Roçaio era melhor de “botar” por ser mais leve. Nesse mato havia muitos tojos brancos, o que dava bom estrume.
“Marco de Correio” deste mês dá conta que:
Colmeal: Os trabalhos de pintura e douramento do altar-mor da igreja foram feitos pela oficina “Gomes-Arte” (Coimbra) já estão completos. No dia 29 de Maio foi baptizado… Rui Manuel dos Santos Lopes…
Malhada: … 5 de Junho recebeu o Sacramento do Baptismo Maria Helena Marque Olivença…
Sobral: Contraíram matrimónio… António de Almeida e Dionísia Vicente…
Carvalhal: 24 e 25 realiza-se a festa em honra de S. João Baptista… haverá terço e sermão de promessa N. S. do Bom Parto… mordomos; Srs. José Marques Costa e Manuel Pedro…
Para terminar, “O Colmeal” noticia que nos limites do Soito e de Foz da Cova trabalha-se activamente na terraplanagem e reparação de terrenos para elaboração de uma grande propriedade com o nome de “Quinta das Águias” pertencente ao Senhor Manuel Nunes de Almeida onde pretende valorizar a enorme extensão de terreno onde não irá escassear o trabalho diário de muitos homens.
Colmealenses, por agora é tudo, até breve.
Henrique Miguel Mendes
in O Varzeense, de 30/03/2008

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