segunda-feira, 21 de abril de 2008

Associações florestais preocupadas com a doença do pinheiro

É preocupante, dizem as associações florestais de Arganil e Lousã, exigindo medidas para travar a doença do pinheiro que já chegou à região e pode rapidamente alastrar a toda a mancha de pinhal

A situação não foi ainda oficialmente transmitida pelo Ministério da Agricultura, mas as associações florestais dos concelhos de Arganil e Lousã já estão preocupadas com a doença do pinheiro que, se não for travada quanto antes, alastrará a toda a restante mancha de pinhais. O nemátodo do pinheiro (que ataca os pinheiros bravos) já foi detectado nas freguesias de Sarzedo (Arganil) e Lousã, por isso urge travar a invasão da doença. Caso contrário, parte da economia destes concelhos pode estar em causa.
A Associação de Produtores Florestais do Concelho de Arganil (APFCA) vai hoje, junto da Direcção Geral dos Recursos Florestais (DGRF), saber quais as consequências da situação que, segundo Rui Dinis, «trará, de certeza, consequências a médio e longo prazo, dependendo da mancha florestal afectada». O presidente da APFCA, que não foi ainda oficialmente informado da presença da praga, diz que a situação é grave e até já tinha sido detectada pela associação há alguns meses. «Alguns proprietários florestais queixaram-se de que os pinheiros estavam a secar sem explicação, por isso pedimos pareceres técnicos ao Instituto Nacional de Recursos Biológicos e estávamos já para dar conhecimento aos produtores», conta, manifestando-se algo surpreendido com a nota emitida sexta-feira pelo Ministério da Agricultura, tendo em conta que a associação, e apesar de já ter dado o alerta, «não foi ouvida pelas estruturas nacionais e locais da DGRF».

Exigem-se medidas

A preocupação da APFCA surge pela existência da doença, que tem necessariamente de ser erradicada, mas também pelas dificuldades com que se vai deparar aquando do abate e destruição das árvores, a única medida (correctiva) conhecida para travar a praga. É que, segundo Rui Dinis, em Arganil predomina a propriedade de minifúndio, pelo que, dependendo da extensão da área afectada, poderão estar em causa «muitos proprietários florestais». A mesma preocupação revela Augusto Simões, da Aflopinhal, Associação Florestal do Pinhal, Lousã, que afirma mesmo que a floresta no concelho é constituída pela «pequeníssima propriedade», o que «dificultará qualquer medida que se possa vir a tomar».
Classificando a situação de «muito preocupante», que «pode levar ao desaparecimento da floresta», Augusto Simões, que também não teve ainda conhecimento oficial da presença da doença no concelho, entende que «têm de ser tomadas medidas governamentais que permitam alguma intervenção».
A nota emitida sexta-feira pelo Ministério da Agricultura dá conta da delimitação de duas áreas de pinhal, totalizando 6500 hectares, nas freguesias de Sarzedo e Lousã, onde serão aplicadas medidas especiais, que passam pelo abate e destruição das árvores. O nemátodo da madeira do pinheiro foi detectado pela primeira vez em Portugal em 1999, na península de Setúbal, onde, por imposição da União Europeia, tem estado a decorrer um plano que visa a erradicação da praga, evitando a sua propagação ao resto da floresta nacional. A praga não foi destruída e está agora a atacar os pinheiros bravos de Arganil e Lousã, onde a economia local pode ser afectada, visto tratar-se de dois concelhos onde a mancha florestal é grande e a actividade florestal é intensa.
O presidente da Câmara de Arganil revelou ao Diário de Coimbra que a autarquia que lidera já tinha alertado o Ministério da Agricultura para a presença da praga no concelho. «Agora aguardamos as medidas necessárias para fazer face a este flagelo», diz Ricardo Pereira Alves, manifestando a «total disponibilidade» da autarquia para colaborar no que for necessário, até porque Arganil «tem mais de dois terços de área florestal e a floresta tem um impacto muito grande na economia do concelho».
in Diário de Coimbra, de 21/04/2008

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