sábado, 15 de março de 2008

Rosários de Amor

Rosários de Amor é o título do último livro de Clarisse Barata Sanches. Com esta obra atingiu a décima Segunda publicação. Um número que ilustra bem o trabalho, a persistência e a inspiração da autora.
Os temas escolhidos são de uma abrangência vastíssima. Completam-se, continuam-se e não se esgotam.
A família, os amigos, a terra natal, os eventos mais marcantes da actualidade e a fé que professa são uma presença constante em toda a sua poesia.
Clarisse Barata Sanches tem escrito muito e muito se tem escrito sobre ela.
Encontrámo-nos pessoalmente apenas uma vez e poucas palavras trocámos. Tenho, no entanto , a sensação de conhecer bastante bem a mulher que se revela nas páginas dos seus livros. É uma escrita transparente através da qual se apresenta a ela própria, envolvendo-se na sua teia de sentimentos e afectos. Apresenta-nos o mundo que a rodeia, retocando-o de sensibilidade, imprimindo-lhe traços que são fruto de uma vivência que é única para cada um de nós.
A autora cita António Aleixo: "A arte é força imanente/Não se ensina, não se aprende,/Não se compra não se vende/Nasce e morre com a gente."
A vida concedeu a Clarisse Barata Sanches o dom de ser poetisa. Ao seu jeito e da forma que entende, tem sabido partilhá-lo com os outros.
De entre as presenças marcantes neste livro, referir-me-ei apenas à de Judite Raquel- Há uns meses, encontrando-me na sala de espera de um consultório médico, na Lousã, fui abordada por uma jovem que, insistentemente, dizia conhecer-me, apesar de não se lembrar de onde. Tenho uma memória visual fraca, mas perecia-me nunca Ter visto aquele rosto. Acreditei, desde i início, tratar-se de um equívoco. Porém, a rapariga não desistia. Inesperadamente disse, em voz alta, com o ar de felicidade que associamos à descoberta de algo importante, que tinha visto a minha fotografia num jornal e tinha lido alguns dos meus livros, em casa da madrinha.
Continuou a falar com a certeza de que a memória não a tinha atraiçoado.
Na sequência da conversa soube que a madrinha era Clarisse Barata Sanches. Mais tarde conheci a história de ambas.
Judite é alguém que faz parte da sua vida, alguém muito próximo.
Transcrevo, parcialmente, um dos poemas que lhe é dedicado, intitulado "Um pouco de mim"... "Criámos a criança com amor,/Ela vinha do Céu em forma de asa/Comoveu-nos a cena e essa flor/Que fez pôr-lhe ao dispor a nossa casa:/
Agora, peço a Deus e a S. Miguel/Que a proteja de tanta coisa má/Quando eu morrer, ninguém seja cruel:/É um pouco de mi que deixo cá."/
Os afectos estão sempre presentes. Neste livro, alguns animais têm, também, o seu lugar entre familiares e amigos, carinhosamente incluídos num espaço que, sem dúvida, merecem.
Agradeço-lhe, mais uma vez, o poema "É tempo de florir".
Rosários de Amor guarda nas suas páginas trezentos e cinquenta e um poemas, numerosos pensamentos e um belíssimo prólogo de João de Castro Nunes.
A poetisa apresentou o seu trabalho: "Meus Rosários de Amor e do meu ser;/São lembranças, estrelas, dentro de mim./Um Universo imenso, sem confim.../Que me desperta a alma e faz viver!/.
Meus Rosários de Amor são diademas/Que deixo, aqui, em forma de poemas,/Num livro de luar... erguido aos Céus!/...
Mais palavras para quê? Admiro a coragem e a força que movem a autora, a sua persistência e a sua vonatde de partilhar com os leitores o dom que recebeu.
E passo a passo rasga o caminho e deixa pegadas. Ruma à estrela, à manhã clara, em busca de um lugar que só o coração conhece.
Maria Leonarda Tavares
in A Comarca de Arganil, de 4/03/2008

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