terça-feira, 25 de março de 2008

Enterro do Bacalhau recriado pelos escoteiros de Góis

Com o objectivo de assinalar a passagem da Quaresma, altura em que as pessoas comem peixe, para a Páscoa, o Grupo de Escoteiros 74 de Góis levou a efeito, na sexta-feira santa, o Enterro do Bacalhau, uma tradição que foi retomada no ano passado, após 50 anos de interregno, e que teve lugar no Largo do Pombal, em Góis. Desta forma, cerca de 20 elementos, não só pertencentes aos escoteiros mas também à população, participaram na recriação de um tribunal no qual o bacalhau é condenado à morte para que depois se possa comer o pão, o vinho, o chouriço e a carne.
Esta iniciativa teve início com o visionamento de um filme sobre as actividades desenvolvidas pelo Grupo de Escoteiros desde o seu ressurgimento, há cerca de um ano, seguindo-se a recriação do Enterro do Bacalhau, uma procissão pelas ruas da vila, o enforcamento do bacalhau e um beberete oferecido pelo comércio local. Em declarações ao RCA NOTICIAS, a Chefe do Grupo 74 de Góis contou que este grupo se comprometeu no ano passado, com a população mais idosa, a cumprir todos os anos esta tradição que no fundo consiste num “texto que está escrito em quadras” e que é representado nesta quadra em que “se tem de comer o peixe à sexta-feira santa e vamos dar início à comida do presunto, carne, chouriço, pão e vinho”.
“É um pouco uma manifestação pagã”, explicou Sandra Marques, esclarecendo que neste tribunal estão presentes várias personagens, desde o juiz, o delegado, o advogado do bacalhau, o bacalhau, as duas filhas do bacalhau, as testemunhas, a quaresma, que “está do lado do bacalhau e já é muito velhinha”, e a Páscoa, que “está contra o bacalhau e quer que ele seja enforcado e que haja a troca do bacalhau pela carne”. “No fundo é um tribunal em que o bacalhau vai ser julgado pelas personagens que foram criadas pelo povo”, acrescentou, realçando que a própria população encarnou algumas das personagens e a assistência também participa “gritando pelo bacalhau ou pela Páscoa”.
Questionada sobre a origem desta tradição, a Chefe dos Escoteiros revelou ao RCA NOTICIAS que tiveram conhecimento desta iniciativa através das pessoas mais idosas “que se lembravam, de quando eram jovens, como era feito o grande Enterro do Bacalhau”. “São eles que nos estão a passar o testemunho para nós, dirigentes, conseguirmos passar aos escoteiros mais jovens esta tradição para não se perder novamente”, alegou, adiantando ainda que foi sobretudo um dos habitantes de Góis “já com alguma idade” que pediu aos escoteiros para que representassem esta peça, já que “o pai dele tinha sido sempre o bacalhau”. Este ano, “até é o senhor Humberto que vai fazer o papel que o pai fazia”, constatou, enaltecendo que participaram neste tribunal várias gerações de pessoas, nomeadamente a sua filha que representou a testemunha Zé Pacóbio.
Refira-se que segundo Sandra Marques “existem outras regiões que cumpem esta tradição e pensamos que tenha vindo até Góis da região de Viseu”. “Também fazemos isto um pouco para agradecer todo o apoio que a população goiense nos tem dado”, referiu, acrescentando que outro dos objectivos do Enterro do Bacalhau passa por animar a quadra pascal em que “está cá muita gente”. Ao RCA NOTICIAS, a Chefe dos Escoteiros garantiu que “vamos continuar com esta iniciativa porque é um compromisso escotista”.
Nesta ocasião, Sandra Marques anunciou que o Grupo de Escoteiros 74 de Góis já está a preparar o programa de comemoração do primeiro aniversário do seu ressurgimento que vai ser assinalado no próximo dia 23 de Maio. Para já, a dirigente revelou que neste dia os escoteiros vão realizar um sarau dirigido à comunidade “demonstrando o que os escoteiros costumam fazer”. Note-se que o grupo reabriu no dia 20 de Maio do ano passado, uma vez que estava inactivo há 20 anos, tendo neste momento como principal pojecto a conclusão da sua sede.
in www.rcarganil.com

Etiquetas: ,