segunda-feira, 17 de março de 2008

Clarisse, na graça de todos nós...

Na nossa vida que passa
Como um foguete veloz,
Só vale viver em graça
Na graça de todos nós.


Clarisse Barata Sanches
in, Rosários de Amor


A Mimosa poetisa de Góis quis ter a extrema amabilidade de me brindar, mais uma vez, com um dos seus livros, neste particular, o último: "Rosários de Amor", que é, pela sua delicadeza poética, um manancial de vida, onde perpassam memórias e factos, amorosamente burilados pelo cinzel literário da artista, Clarisse, que em cada página nos deixa as pétalas perfumadas dos seus rosários de vida.
Rosário, se nos abstrair-mos do seu significado religioso, quer dizer, série de coisas ou factos seguidos, como se fossem contas de um verdadeiro rosário, e que são, afinal, os Rosários de Amor da Clarisse, que, como contas poéticas emolduram este livro, que apetece ler e rezar, depois de ler e meditar uma dessas contas, (pág. 110)

Se eu fosse juiz atento
A questões de inimizade,
Eu daria em julgamento,
Penas de fraternidade!

É por isto que a Clarisse se agiganta, porque neste mundo frívolo, a alma do Poeta continua a ter ideias de fraternidade, dando-nos a alegria de sentirmos que vale a pena lutar por este ideal, porque se o perdermos, deixamos perder a nossa humanidade, razão que me leva a dizer, que este livro não é apenas para ler, é, também, para rezar, no sentido altruista que devemos Ter, que rezar, não é, apenas, recitar orações eclesiais, mas falar a Deus das coisas da vida concreta, onde a fraternidade é, na linha do amor de que Ele falou, possivelmente, uma das virtudes mais altas.
A poetisa não se esqueceu disto, como não se esqueceu, continuando a desfiar as contas dos seus Rosários de Amor, onde voam pombas mansas, de nos dizer o seguinte: (pág. 173)

Eu queria um mundo branco... sem mazelas,
Onde qualquer ser fosse pomba mansa
Sem precisar de guardas, sentinelas,
Para termos na vida, segurança.


Pelo sonho é que vamos, disse Sebastião da Gama, porque o sonho comanda a vida, sentenciou, António Gedeão, a que Clarisse junta esta quadra, que é, também um sonho, quando nos diz, Eu queria um mundo branco... sem mazelas, quando sabemos, o mundo que temos ... mas, que não deve inibir o Poeta de continuar a sonhar num mundo melhor, que é essa um dos seus melhores atributos: continuar a lutar por um mundo onde qualquer ser fosse pomba branca... embora lhe doa a alma, por ver tanta hipocrisia, um facto que não passou despercebido à Clarisse, que num dos seus momentos, em que o sonho se rendeu à realidade concreta das coisas - um poeta vive neste mundo - com alguma amargura, nos diz (pág. 50)

Neste mundo de louca fantasia,
Enquanto reinar tanta hipocrisia,
Não morrerá, jamais, o Carnaval!...

Obrigado, Clarisse, pelo sonho e pela realidade do seu livro.
Harmoniosamente, este dois factores cruzam-se e completam-se e todos são contas do mesmo "Rosário de Amor", porque ama sempre aquela que sonha e não deixa de amar aquele que pinta a realidade.
Continue a deliciar-nos com mais poemas.
Fica à espera o seu incondicional leitor, que sente e sabe de ciência certa, e tirando o chapéu ao que nos diz, que nesta vida que passa como um foguete veloz, só vale viver em graça... na graça de todos nós.
É deste modo que a Clarisse vive nos seus leitores: na graça de todos nós!
Teodoro A. Mendes
in A Comarca de Arganil, de 13/03/2008

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