Reflectindo sobre as Festas de Verão
O Verão está a chegar ao fim. E com ele, chegam também ao fim as festas nas nossas vilas e aldeias. Esta questões das festas anuais que se realizam em quase todas as terras em honra do seu Santo Padroeiro deve-nos fazer pensar e reflectir profundamente. Na realidade, nestes últimos tempos, exceptuando os grandes eventos realizados ou patrocinados pelas câmaras municipais, já não se realizam as chamadas festas de arromba, onde actuavam os grandes artistas nacionais. Os motivos são óbvios. Devido ao facto das festas serem de entrada livre e tendo como principal fonte de receita a proveniente dos peditórios efectuados aos conterrâneos e amigos, nenhuma comissão de festas, hoje em dia, consegue suportar as largas dezenas de milhares de euros cobrados por estes artistas em cachets. Não nos esqueçamos também que as verbas apuradas nos peditórios não têm acompanhado a inflação, devido principalmente à crise financeira que o país está a atravessar há vários anos, e que é sentida e muito, na bolsa, principalmente da chamada classe média.
Assim, as comissões de festas são "obrigadas" a reduzir o número de artistas contratados, bem como a "socorrerem-se" de artistas menos famosos, ou de segundo plano.
Por sua vez, uma festa que tenha um conjunto de artistas mais reduzido e de segundo plano, não consegue mobilizar os chamados forasteiros, ou seja, quem reside ou está de férias em aldeias vizinhas acaba por não vir, transformando a dita festa num evento menos participativo e por conseguinte mais pobre, contribuindo assim para a diminuição ainda de outras fontes de receita como a proveniente dos bares e das quermesses.
Como consequência disto é provável ainda que se instale em certos conterrâneos alguma desmotivação, na altura de contribuírem monetariamente para a festa, por constatarem que a qualidade artística diminuiu, resultando daí uma menor comparticipação financeira.
Nota-se também, neste tipo de festas, uma grande falta de inovação, é tudo muito repetido, os programas são sempre os mesmos, há muito medo de arriscar em coisas novas.
Outro factor a ter em consideração é a grande dificuldade em conseguir nomear e formar as comissões ou mordomos que organizam estas festas. Veja-se o caso de Alvares que mesmo sendo a sede de Freguesia, esta ano não conseguiu organizar a festa do seu Padroeiro, S. Mateus. Também nos últimos anos em Chã de Alvares nomeiam-se 6 a 8 mordomos e normalmente só 3 ou 4 se disponibilizam. Ou seja, metade dos nomeados recusam fazer parte da comissão de festas.
Outro motivo de complexidade é a relação ou interligação entre o profano e o religioso.
Se é certo que todas estas festas têm as suas raízes nos Santos Padroeiros das respectivas terras, com a crescente agnosticidade e laicização das populações, o "divórcio" entre as comissões de festas e o clero (neste caso o pároco) tem vindo a crescer, fruto muitas vezes da ignorância e completa falta de formação ou informação das regras básicas das normas, prática e vivência religiosa.
A este propósito, tenho observado ultimamente, actos pouco dignos e sem o menor respeito, quer pelos lugares e momentos sagrados, quer por quem ali está num acto de fé e de devoção. Refiro-me concretamente ao comportamento de certas pessoas dentro da igreja e no decorrer da procissão. Dou-vos alguns exemplos: Falam e comportam-se dentro da Igreja como se estivessem no café ou na praça, na procissão de Santa Margarida já vi um adulto transportar um andor em calção de ir à praia, e ainda este ano, no final da procissão, as pessoas passavam descontraidamente e em amena cavaqueira à frente do altar, quando os sacerdotes procediam à bênção final. Bem sei que a maioria destas actos são praticados inconscientemente, e sem qualquer maleficência, mas seria de bom-tom que se observasse um comportamento mais digno e cuidado por quem participa em actos religiosos.
Para concluir esta reflexão, deixo algumas questões no ar:
Será que estes motivos e outros mais, põem em causa a continuação destas festas?
Será que este modelo está esgotado?
Será que devemos "emagrecer" ainda mais os programas de festas afim de não se gastar autênticas fortunas em apenas 3 ou 4 dias?
Devemos separar as festas religiosas das profanas?
Reflictamos em tudo isto. E já agora parabéns à Comissão de Festas de Santa Margarida de 2007 e boa sorte para a de 2008.
José Manuel Simões Anjos
in O Varzeense, de 15/09/2007
Assim, as comissões de festas são "obrigadas" a reduzir o número de artistas contratados, bem como a "socorrerem-se" de artistas menos famosos, ou de segundo plano.
Por sua vez, uma festa que tenha um conjunto de artistas mais reduzido e de segundo plano, não consegue mobilizar os chamados forasteiros, ou seja, quem reside ou está de férias em aldeias vizinhas acaba por não vir, transformando a dita festa num evento menos participativo e por conseguinte mais pobre, contribuindo assim para a diminuição ainda de outras fontes de receita como a proveniente dos bares e das quermesses.
Como consequência disto é provável ainda que se instale em certos conterrâneos alguma desmotivação, na altura de contribuírem monetariamente para a festa, por constatarem que a qualidade artística diminuiu, resultando daí uma menor comparticipação financeira.
Nota-se também, neste tipo de festas, uma grande falta de inovação, é tudo muito repetido, os programas são sempre os mesmos, há muito medo de arriscar em coisas novas.
Outro factor a ter em consideração é a grande dificuldade em conseguir nomear e formar as comissões ou mordomos que organizam estas festas. Veja-se o caso de Alvares que mesmo sendo a sede de Freguesia, esta ano não conseguiu organizar a festa do seu Padroeiro, S. Mateus. Também nos últimos anos em Chã de Alvares nomeiam-se 6 a 8 mordomos e normalmente só 3 ou 4 se disponibilizam. Ou seja, metade dos nomeados recusam fazer parte da comissão de festas.
Outro motivo de complexidade é a relação ou interligação entre o profano e o religioso.
Se é certo que todas estas festas têm as suas raízes nos Santos Padroeiros das respectivas terras, com a crescente agnosticidade e laicização das populações, o "divórcio" entre as comissões de festas e o clero (neste caso o pároco) tem vindo a crescer, fruto muitas vezes da ignorância e completa falta de formação ou informação das regras básicas das normas, prática e vivência religiosa.
A este propósito, tenho observado ultimamente, actos pouco dignos e sem o menor respeito, quer pelos lugares e momentos sagrados, quer por quem ali está num acto de fé e de devoção. Refiro-me concretamente ao comportamento de certas pessoas dentro da igreja e no decorrer da procissão. Dou-vos alguns exemplos: Falam e comportam-se dentro da Igreja como se estivessem no café ou na praça, na procissão de Santa Margarida já vi um adulto transportar um andor em calção de ir à praia, e ainda este ano, no final da procissão, as pessoas passavam descontraidamente e em amena cavaqueira à frente do altar, quando os sacerdotes procediam à bênção final. Bem sei que a maioria destas actos são praticados inconscientemente, e sem qualquer maleficência, mas seria de bom-tom que se observasse um comportamento mais digno e cuidado por quem participa em actos religiosos.
Para concluir esta reflexão, deixo algumas questões no ar:
Será que estes motivos e outros mais, põem em causa a continuação destas festas?
Será que este modelo está esgotado?
Será que devemos "emagrecer" ainda mais os programas de festas afim de não se gastar autênticas fortunas em apenas 3 ou 4 dias?
Devemos separar as festas religiosas das profanas?
Reflictamos em tudo isto. E já agora parabéns à Comissão de Festas de Santa Margarida de 2007 e boa sorte para a de 2008.
José Manuel Simões Anjos
in O Varzeense, de 15/09/2007
Etiquetas: alvares, chã de alvares
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