sábado, 22 de setembro de 2007

Colmeal - A União voltou ao Douro Vinhateiro

Na mais antiga região demarcada de vinhos do mundo, cuja beleza arrebatou em 2001 os especialistas da UNESCO, o Douro é, para quem viaja, um dos conjuntos mais belos que vêem no mundo inteiro.
Como dizia Miguel Torga "No Verão, um calor de forja seca o rio e caldeia o xisto; no Inverno, as próprias cepas choram de frio. Beleza não falta em nenhuma estação, porque onde haja uma vela de barco e um amontanha - ela existe".
E foi para ver ou voltar a ver este anfiteatro do teatro mais belo belo do mundo, que a 15 e 16 de Setembro a União proporcionou a sessenta sócios e amigos do Colmeal, este fim-de-semana de lazer e cultural.
Com um programa muito idêntico ao do passeio anterior, fomos almoçar a Viseu, após uma visita guiada à parte antiga da cidade. Uma autêntica viagem no tempo naquele emaranhado tortuoso de vielas e escadinhas típicas de uma cidade medieval. A Sé Catedral cuja construção remonta ao século XII. Um interior magnífico de três naves, revestimento a talha dourada, um pátio lateral com diversos motivos de interesse e um espectacular painel de azulejo.
Mesmo ali ao lado, num belo edifício de granito, o Museu Grão Vasco que alberga belíssimas obras de pintores como Columbano, José Malhoa, Silva Porto ou do próprio Vasco Fernandes, o mestre que deu nome ao museu.
Depois, um paregem junto à casa onde viveu um nome grande do fado de Coimbra e que muitos recordam porque "Quando Hilário cantava / alta noite no choupal / toda a tricana escutava / a sua voz de cristal".
Numa passagem pela zona histórica de Lamego, foi possível admirar a Sé Catedral cuja origem se considerava anterior à fundação da nacionalidade e a enorme escadaria do ex-libris da cidade, o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios.
Com uma paisagem cada vez mais deslumbrante em que os nossos olhos, tal como os de um águia, viam de cima os socalcos de vinha, visitámos as Caves Santa Marta onde enormes filas de tractores e outros veículos aguardavam a sua vez para descarregar as uvas que irão originar aquele precioso néctar, mundialmente conhecido e tão do nosso agrado, o vinho do Porto.
Passando por Vila Real, com o rio Corgo por perto, uma visita considerada obrigatória - o Palácio de Mateus.
De arquitectura barroca, situa-se numa ampla propriedade e a sua construção de meados do século XVIII, atribui-se ao arquitecto italiano Nicolau Nasoni.
Será dos palácios portugueses, talvez o mais conhecido no mundo inteiro, graças ao rótulo de um vinho rosé comercializado em mais de cento e sessenta países.
Os seus magníficos jardins, demoradamente apreciados, foram também fotografados e filmados dos mais diversos ângulos.
Mesmo ao lado, a Estalagem do Paço, casa senhorial do século XVIII que mais uma vez nos acolheu e de onde partimos na manhã seguinte para o ansiado cruzeiro no Douro.
A passagem das eclusas, ultrapassando desníveis que ajudam a regular o caudal e possibilitam a navegabilidade de um rio que "foi cavando o seu leito por entre muralhas petrificadas e estranguladas gargantas" no dizer de Guilherme Felgueiras, suscitava a curiosidade de todos e o receio injustificado de alguns.
A paisagem envolvente de montes em socalcos, debruados pelos renques de videiras que do cimo vêm quase beijar as águas, toma ainda uma cor mais variada depois dos tempos de vindima e que um pintor tem dificuldade em reproduzir na tela.
Nenhuma outra paisagem encaixa tão bem num postal ilustrado. Tem rio, montes e vales. Paisagem feita de retalhos, socalcos e vinha, amendoeiras e oliveiras, que deverá ser admirada, passeada e partilhada.
Foi bom voltar ao Douro. E como um bom guia pode ditar a fortuna de uma viagem, podemos dizer que todos viemos mais ricos.
Lisboa, 17 de Setembro de 2007
P'la Direcção
A. Domingos Santos
in Jornal de Arganil, de 20/09/2007

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