Alvares debruçada sobre um espelho d'água
Nas décadas de quarenta e cinquenta, tempos da nossa meninice, era difícil imaginar o soito onde se jogava a bola, o chamado quintal dos "Baetas" e o areal, transformados em espaço público de lazer, tal como agora se encontra, deixando antever potencialidades enormes para vir a ser não só a sala de visitas, mas uma zona apetecível para a prática de muitas e variadas actividades desportivas em Alvares. Assim as restantes beneficiações se venham a concretizar.
Nessa época o "meu reino era pequeno e valia apenas dois patacos", mas deixou-me imagens imorredouras que ainda hoje pulverizam a minha memória: o areal tem, actualmente, uma roupagem de altivo fidalgo, perdeu aquela pacatez da fonte de chafurdo onde a gente humilde enchia o cântaro; o soito, esse estendeu-se à beira do Sinhel de forma senhorial que já não lhe vejo o recanto onde jogava a bola, se ferravam os animais e à tarde se enchia de moscas; o quintal hoje é circundado por uma gargantilha prateada que desperta inveja, mas perdeu aquele ar campestre duma realidade profunda, onde a nora tirava água para o verdejante milho, ao som do cantarolar da mocinha.
Tudo isto são imagens que o homem e o tempo foram moldando ao sabor do gosto das épocas, sempre numa perspectiva de melhorar as condições difíceis do antigamente, de tal forma que até nós já podemos contar estórias desses tempos, onde tudo era tão simples e pequeno que se quedava pela nossa medida. Actualmente tudo é diferente, ganhou-se com isso o brilho e o estatuto da modernidade, deixando para trás aquele ar apagadinho dum país medíocre e ruralizado, mas perdeu-se, há muito tempo, o sombreado das antigas ruelas com argolas para amarrar os muares. Aquilo hoje seria o centro histórico!... Enfim... perdeu-se o traço original! Não se pode ter tudo...
Vejam só como era possível imaginar, nesses tempos do preto e branco, um espelho d'água em forma de L, circundante à antiga e esquecida Vila de Alvares, numa extensão de acerca de mil metros (desde o poço da maquia à fábrica do bure!!),
sustentado por quatro açudes de retenção de água num sistema de vasos comunicantes em declive, bordejando por uma exuberante vegetação! Onde é que se pode ver tal encanto feito apenas do aproveitamento da natureza?
Não sei se todos os alvarenses já se deram bem conta deste paraíso feito de espaço ribeirinho, água límpida e calor quando for caso disso e estiver arranjadinho, murado e protegido!... Claro que não será o propagandeado luxo asiático da Piscina das Rocas, em termos de modernidade e apetrechamento, mas é nele que corre a água mais límpida, despoluída e retemperadora, com espaço onde toda a gente se pode refrescar, expor ou recatar sem pagar um cêntimo! Pasme-se... Isto já não se vê em lado nenhum...
Não está tudo pronto nem ornamentado, é certo. Mas para quem tem olhos pode ver que está ali muito trabalho feito e potencialidades reunidas para vir a ser um grande parque de lazer e, curiosamente, ainda não lemos, nem ouvimos uma palavra sobre esta grande obra que aos poucos vai tomando forma. Será que este melhoramento veio incomodar ou ofuscar alguém? Esperamos bem que não, porque caso contrário, ficamos sem saber de que lado chove ou faz sol.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 6/09/2007
Nessa época o "meu reino era pequeno e valia apenas dois patacos", mas deixou-me imagens imorredouras que ainda hoje pulverizam a minha memória: o areal tem, actualmente, uma roupagem de altivo fidalgo, perdeu aquela pacatez da fonte de chafurdo onde a gente humilde enchia o cântaro; o soito, esse estendeu-se à beira do Sinhel de forma senhorial que já não lhe vejo o recanto onde jogava a bola, se ferravam os animais e à tarde se enchia de moscas; o quintal hoje é circundado por uma gargantilha prateada que desperta inveja, mas perdeu aquele ar campestre duma realidade profunda, onde a nora tirava água para o verdejante milho, ao som do cantarolar da mocinha.
Tudo isto são imagens que o homem e o tempo foram moldando ao sabor do gosto das épocas, sempre numa perspectiva de melhorar as condições difíceis do antigamente, de tal forma que até nós já podemos contar estórias desses tempos, onde tudo era tão simples e pequeno que se quedava pela nossa medida. Actualmente tudo é diferente, ganhou-se com isso o brilho e o estatuto da modernidade, deixando para trás aquele ar apagadinho dum país medíocre e ruralizado, mas perdeu-se, há muito tempo, o sombreado das antigas ruelas com argolas para amarrar os muares. Aquilo hoje seria o centro histórico!... Enfim... perdeu-se o traço original! Não se pode ter tudo...
Vejam só como era possível imaginar, nesses tempos do preto e branco, um espelho d'água em forma de L, circundante à antiga e esquecida Vila de Alvares, numa extensão de acerca de mil metros (desde o poço da maquia à fábrica do bure!!),
sustentado por quatro açudes de retenção de água num sistema de vasos comunicantes em declive, bordejando por uma exuberante vegetação! Onde é que se pode ver tal encanto feito apenas do aproveitamento da natureza?
Não sei se todos os alvarenses já se deram bem conta deste paraíso feito de espaço ribeirinho, água límpida e calor quando for caso disso e estiver arranjadinho, murado e protegido!... Claro que não será o propagandeado luxo asiático da Piscina das Rocas, em termos de modernidade e apetrechamento, mas é nele que corre a água mais límpida, despoluída e retemperadora, com espaço onde toda a gente se pode refrescar, expor ou recatar sem pagar um cêntimo! Pasme-se... Isto já não se vê em lado nenhum...
Não está tudo pronto nem ornamentado, é certo. Mas para quem tem olhos pode ver que está ali muito trabalho feito e potencialidades reunidas para vir a ser um grande parque de lazer e, curiosamente, ainda não lemos, nem ouvimos uma palavra sobre esta grande obra que aos poucos vai tomando forma. Será que este melhoramento veio incomodar ou ofuscar alguém? Esperamos bem que não, porque caso contrário, ficamos sem saber de que lado chove ou faz sol.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 6/09/2007
Etiquetas: adriano pacheco, alvares
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