sexta-feira, 15 de junho de 2007

Aniversário da Liga de Melhoramentos da Chã de Alvares

Dando cumprimento ao programa das comemorações do septuagésimo aniversário da Liga de Melhoramentos de Chã de Alvares, que se prolongará pelo ano fora, o povo desta aldeia viveu, no dia 19 de Maio último, um espectáculo de música portuguesa pouco comum, em termos de qualidade sonora, de vivência popular e de comunhão de sentimentos.
Causou espanto como uma só mulher, um homem e uma viola, naquele salão, conseguiram produzir um espectáculo com aquele nível musical, onde se destacava a voz potente e bem colocada de Deolinda Bernardo, acompanhada pelo viola de José Pires, nas canções de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira; nas músicas de Rão-Kyao, fados de Coimbra, bem como na música popular. Deixando no ar um desejo incontrolável de pedir sempre mais.
Escusado será dizer que o espectáculo, às tantas, descambou para um bailarico bem animado pela concertina do "lendário" Marcelo Francisco, que teve a oportunidade de, mais uma vez, mostrar os seus dotes de músico autodidacta (segundo a sua própria designação), não sem antes ter havido um espaço para a poesia do recente livro de Paxiano e de se ter ouvido palavras de agradecimento, por parte do presidente da Liga, dr. António Gomes Marques, pela grande assistência que ali se deslocou, seguindo-se depois os parabéns da parte da vice-presidente da Câmara de Góis, D. Helena Moniz, pelo belo espectáculo a que se tinha assistido, contributo válido e interessante para uma cultura feita pelo povo e para o povo.
Em boa verdade se pode dizer que se assistiu a um espectáculo bem ao gosto desta gente, altamente contagiante, onde a alma dum povo vem à tona da pele expressa pela música que cultiva, no modo que a vive e a transmite para além de si. A música não se exprime apenas pelo som que se emite, mas também pelo sentimento que suscita, empolga e arrebata a alma de quem a ouve. A facilidade com que se reage a esta música deriva tão só da sensibilidade de cada um de nós.
Queremos acreditar que a Liga de Melhoramentos, com o apoio da Câmara Municipal de Góis, vai comemorar condignamente os setenta anos da sua existência visível e marcada nos tempos, proporcionando a esta gente variados espectáculos que fogem à rotina das habituais festas anuais, honrando assim a memória dos seus fundadores, com boas recordações, deixadas na lembrança daqueles que lhe hão-de seguir as pisadas.
Mais uma vez lembramos que estes belos eventos, sendo comemorações de uma colectividade, ou de um grupo, deveriam ser entendidos como duma região inteira se tratasse, onde todos deveriam partilhar a mesma alegria, a mesma exaltação, dando-lhe um colorido de comunidade mais abrangente, ou de uma freguesia mais unida. Se assim não for, estes acontecimentos não irão além de meros actos isolados que, desesperadamente, tentam lutar contra uma visível a angustiante desertificação humana que nos asfixia.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 12/06/2007

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