sexta-feira, 4 de maio de 2007

Homengem de Clarisse Barata Sanches a Eugénio de Andrade

Clarisse Barata Sanches é poeta e contista de alma campestre o que significa ser escritora de modo diferente se vivesse numa cidade onde os sinos funcionam de miragem de uma aldeia (como nostalgicamente sonhou Fernando Pessoa, nascido ao lado de uma igreja lisboeta e a ter saudades da "aldeia" onde não veio ao mundo). A Clarisse nasceu e vive numa pequena vila, Góis, à beira de um manso rio. Tem ouvido para a vozinha do rio e até ao seu livro de contos o singular título de "Murmúrios do Ceira" – seja contista ou poeta ela, por virtude deviver na santidade de uma vilazinha tão encantadora, é sempre poeta.

E poeta foi ao olhar para a rosa do "Improviso" de Eugénio de Andrade de um modo diverso ao da numerosa maioria que concorre a esta homenagem.

Ela intitulou o seu poema "De rosa na mão, pela paz". Na verdade o que não é senão o sublime da paz o apetite maior existente no peito unânime e cordial de Eugénio de Andrade? Se a sua poesia não ardesse pela paz entre os homens através do amor a todas as coisas da natura, acaso produziria a felicidade que nos dão os seus poemas? Eis o poema, outro murmúrio do rio Ceira:


De Rosa na Mão, pela Paz

A neve caiu na serra,
Onde f´loriu uma rosa...
Apesar de ser tão bela,
Que vamos fazer com ela
Num inverno de tremer...
De que serve ser formosa,
Se, neste mundo as Nações,
Querem pôr a Terra a arder...
Com Arsenais de canhões?!...
Vamos, de rosa na mão,
Dar uma a cada criança,
Que nada tem para comer,
Neste mundo pertinaz.
Cai neve no coração...
Ninguém vive na Esperança...
E os tristes pensam morrer,
Sem ver a Pomba da Paz!...

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