quarta-feira, 11 de abril de 2007

Defendamos as nossas escolas

Com o ar mais delico-doce que consegue, a ministra da Educação chega-se à frente, aproxima-se estrategicamente dos microfones, olha em direcção às câmaras e afirma, convicta, que o Governo quer encerrar, este ano, mais 900 escolas.

De passagem, para que não existam alarmismos e se evitem manifestações e protestos sempre desagradáveis, vai dizendo que "quando se encontra uma solução que seja melhor, que ofereça às crianças melhores condições, encerra-se a escola."

Para que saibamos que uma parte da despesa com os medicamentos em Portugal se deve às preocupações que pairam no ministério da 5 de Outubro, explica que "se elas se encerrarem, nós" (ministra e seu séquito, presume-se) "temos menos essa dor de cabeça". Evita-se, assim, o consumo em excesso de paracetamol, ainda que não tenha grandes contra-indicações.

Mas, como ministra não é só para as minudências do dia-a-dia, projecta o futuro garantindo que "então [o país, depois de encerradas as escolas] está em condições de enfrentar o desafio da construção dos centros escolares." No concelho de Coimbra estão na mira 20 dessas escolas do 1.º Ciclo e 2 jardins-de-infância. A receita é simples pega-se em todas as escolas com menos de 20 alunos e riscam-se do mapa. As criancinhas envolvidas serão transportadas como Deus queira e enxertadas noutra escola ali ao lado.

Para o Ministério da Educação não importa que, como é o caso do Ameal, haja freguesias a ficar sem qualquer escola. Não importa, como a vida mostra, e apesar das pias declarações da ministra, que as escolas para onde as criancinhas vão tenham as mesmas ou até piores condições que as que vão encerrar.

Não importa que os centros escolares - os tais que garantiriam melhores condições às criancinhas - não passem nesta fase de boas intenções incluídas nas cartas educativas, cuja concretização depende dos meios financeiros a disponibilizar pelos fundos comunitários que, como é fácil de perceber, não chegarão para todas e tantas encomendas.

Não importa que, em muitas localidades, depois de encerrados postos de correios, estações e linhas de caminho-de-ferro, postos da GNR, unidades de saúde e outros serviços públicos, a escola - a nossa escolinha - seja a última fonte de vida.

Não importa que, perante esta façanha destruidora dos sucessivos governos e designadamente do Governo PS, os jovens casais sejam empurrados a decidir por instalar a sua vida nas freguesias urbanas do Litoral do país, com as consequências negativas que daí advêm para a qualidade de vida nestas zonas.

Para o Governo PS nada disso parece importar, pois quando a ministra da Educação afirma que 900 escolas lhe causam dor de cabeça, que acaba com o seu encerramento, o que quer dizer é que assim se poupam uns quantos euros, abrindo ao mesmo tempo uma vasta área de negócio para os privados, que já representam, no concelho de Coimbra, 26 % do total das escolas básicas. Os alertas e avisos estão todos feitos. Perante o autismo do Governo, resta o protesto e a luta. Se há, aqui e ali, problemas nas escolas, há que exigir que elas sejam melhoradas. Há que agir por melhores escolas perto de casa!
João Frazão
in Jornal de Notícias, de 11/04/2007

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