sábado, 17 de março de 2007

Pouso as mãos no teclado, quase Chopin
Fecho os olhos, subo o aperto de peito
Procuro a nota exacta.
Nem sempre a encontro.
Ela confunde-se entre várias notas certas
É necessária a nota exacta, só essa serve.
E as mãos começam a percorrer o teclado.
A nota solta-se...
Nada mais parará a sinfonia de palavras
Uma depois da outra: uma frase.
Uma atrás da outra: uma quadra.
Uma depois da outra: um poema.

As palavras tomam conta dos sentidos
E os sentidos flúem em palavras
Espirais de frases
Imparáveis
Que se sobrepõem à força das mãos
E dos pensamentos
Que são tão fortes quanto as emoções
Que as tocam
Que as provocam
E que as usam
E que não lhes bastam
E que não se bastam

Nota atrás de nota
Compasso sobre compasso
A sinfonia não pára
Toca no teclado
Toca na mente
Toca no peito
E é uma orquestra.
Os dedos
As ilusões
Os sentimentos
As dores
A ansiedade
O coração
Todos tocam
Todos se tocam
Regidos pela vontade
Encontrada na primeira nota
E que não acaba
Não quer acabar
Porque há sempre mais uma palavra
Uma frase
Um pensamento
A dizer...

E as notas soltas
Prendem-se nos momentos
da composição...

E as palavras soltas
Desprendem-se nos pensamentos
De toda a emoção

E tudo é música e poesia

Abílio Bandeira Cardoso

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