Da Lousã a Góis
À saída da Lousã, a estrada aproxima-se da encosta e tem por isso de ir cortando ou subindo os esporões rochosos que dos flancos da serra vêm morrer ao vale do Ceira. O percurso faz-se sempre, passada a região do Freixo e Vilarinho, através de curvas apertadas e de algumas rampas fortes. À direita, a encosta cai a pique, revestida de pinhais em raros pontos, geralmente escalvada; os flancos apresentam sinais de violenta erosão, leitos torrenciais que fazem lembrar rastos de pedreiras em actividade. Quando a estrada desce aos vales há frescura, alguns castanheiros e, persistentemente, oliveiras. Nos pontos elevados - Alto da Boavista, Portela de Albergaria - abrange-se para a esquerda um panorama que tem as baixas cultivadas junto ao rio, lá longe, e os campos e aldeias que se divisam numa aberta.
O revestimento florestal dos pinhais de Serpins começa a impor-se e a dar com a sua regularidade oficial uma mancha muito característica. A descida para a Ponte de Sótão passa na base do Penedo de Góis, que melhor se apreende a estrada da Pampilhosa da Serra. Aqui, olhando para o alto, pode sentir-se apenas a angústia de quem está no fundo dum poço a esboroar-se.
Sobe-se depois até à Portela de Góis, onde a estrada cruza para o Farropo e Pampilhosa da Serra. É um ponto de vista curioso porque nele se toma - como no alto de Olho Marinho ou no alto de S. Pedro Dias - o primeiro contacto com uma zona que se apercebe ser separada da que se acaba de percorrer por uma divisória imponderável, que se passa por estes cimos. Quem descer saberá que tudo o que ficou para trás morreu de vez e depois, se se voltar para poente, será a linha que une os três sítios indicados o que encontrará quase sempre a limitar-lhe o horizonte. Daqui se divisam quase sempre todos os elementos paisagísticos permanentes que vão reencontra-se nos outros miradoiros da periferia ou do interior da região agora descoberta: as serranias desnudadas que correm desde a Estrela, o Caramulo, as terras onduladas que estas serras limitam.
Baixando para Góis, - estendida como um «papagaio» na planície, diz Raul Proença - a estrada, que é toda em curva e contracurva, vai fundir-se, junto à vila, com a que vem do Entroncamento de Poiares.
Góis, é uma vila situada no sopé de um alcantilado morro de natureza silúrica. Quando observado do NO., esse penhasco apresenta o aspecto de uma gigantesca pirâmide (1045m).
A povoação propriamente dita está na margem direita do Ceira. Uma ponte manuelina, de dorso em corcova e com três arcos visíveis, liga com a outra margem. Encosta-se à base das montanhas do Carvalhal e Rabadão, no extremo de uma várzea que se alarga para N. e NO., cortada pelo rio. Góis tem alguns aspectos que a tornam única entre as localidades desta região: água abundante, ruas limpas e casas rigorosamente caiadas de branco; recolhida e silênciosa, parece não ter sofrido alterações desde há séculos. As cantarias dos portados e janelas, os balcões exteriores, as varandas, as grades de ferro forjado, certos monumentos artísticos notáveis dão-lhe um ar antigo, que o aspecto desarticulado e moderno das terras vizinhas mais realça. Lembra algumas vilas alentejanas, quietas, unidas e um pouco mortas.
in Guia de Portugal
1 Comments:
Pois, e antes do Farropo há a Catraia do Azevedo, e ali à direita sai uma estrada para Algares, Telhada, Pessegueiro, Coelhal, Carvoeiro, Coelhosa e mais umas quantas aldeias.
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