A nossa terra
Saltitando de dúvida em dúvida, vamos caminhando em busca da perfeição, juízo de valor, ou raciocínio que melhor se ajuste à realidade e ao sentimento dele emergente, sem nunca termos a certeza de o alcançar. É um desígnio natural da condição humana.
Porém as certezas são sempre certezas a curto prazo. Os passos certos de hoje, podem estar desajustados amanhã, os próprios valores se vão alterando com o tempo. A relatividade das coisas e dos tempos parecem cada vez mais, um dado a ter em conta. Já que "o tempo é feito de mudança", verdade inexorável.
Esta dúvida constante, esta inquietação permanente, leva-nos a uma reflexão sobre a nossa aldeia que nos obriga a pôr a seguinte questão:
Quando falamos da nossa terra estamos a falar de quê? Do lugar físico composto de casas alinhadas e da paisagem circundante, das árvores que nos dão sombra, da água fresca que nos mata a sede; ou falamos das pessoas que proporcionam convívio partilhandp alegrias do quotidiano e, lá de vez em quando, deixam cair uma chalaça, uma pilhéria, remoque ou motejo mesmo contra a corrente do vento?
Quando falamos da nossa aldeia estamos a falar de quê? Do entusiasmo ferveroso com que se ajuda a erguer uma obra donde apenas recolhemos o benefício da sua realização, duma filiação onde estamos inseridos convictos de que todos juntos chegaremos a bom porto; ou estaremos apenas embevecidos pelas belas lembranças da infância onde desfilam recantos iluminados e sonhos já desfeitos, memórias dos ricos sabores da comida hoje desaproveitada, aromas da resina do pinheiro, da flor da acácia e do verde da carqueja?
Quando falamos da nossa terra estamos a falar de quê? Estaremos também a falar daqueles que tiveram de procurar outras paragens por não encontrarem espaço, aceitação ou carinho no beco onde nasceram, nem no poço da ribeira onde aprenderam a nadar e no campo onde jogaram à bola; ou estaremos a falar apenas das gerações que conheceram os recantos já tisnados de histórias, lugares de memória onde encontraram rasgos de uma esperança inabalável, lavrada nas pedras da calçada e nas esquinas da vida?
Estaremos a falar de uma só coisa, ou das partes que completam um todo? E a parte em si tem algum peso específico, ou só terá significado quando somado ao todo?
Estas são questões que podem ser entendidas como pertinentes, as quais, às vezes, nos assaltam o espírito e nos obrigam a olhar para trás, encontrando no caminho percorrido uma perspectiva algo confusa, para não dizer enublada.
Na verdade as aldeias são, transitoriamente, aquilo que as gerações quiserem, ou entenderem, que leas sejam. Contudo, o que está em primeiro lugar é a preservação da sua identidade construída através dos tempos, dentro da sua autenticidade.
O esforço deve ir no sentido de fazer perdurar os marcos históricos que se vão semeando, sem outros interesses que não sejam apenas e só, o amor ao cantinho que os viu nascer.
Adriano Pacheco
in O Varzeense, de 15/05/2006
Porém as certezas são sempre certezas a curto prazo. Os passos certos de hoje, podem estar desajustados amanhã, os próprios valores se vão alterando com o tempo. A relatividade das coisas e dos tempos parecem cada vez mais, um dado a ter em conta. Já que "o tempo é feito de mudança", verdade inexorável.
Esta dúvida constante, esta inquietação permanente, leva-nos a uma reflexão sobre a nossa aldeia que nos obriga a pôr a seguinte questão:
Quando falamos da nossa terra estamos a falar de quê? Do lugar físico composto de casas alinhadas e da paisagem circundante, das árvores que nos dão sombra, da água fresca que nos mata a sede; ou falamos das pessoas que proporcionam convívio partilhandp alegrias do quotidiano e, lá de vez em quando, deixam cair uma chalaça, uma pilhéria, remoque ou motejo mesmo contra a corrente do vento?
Quando falamos da nossa aldeia estamos a falar de quê? Do entusiasmo ferveroso com que se ajuda a erguer uma obra donde apenas recolhemos o benefício da sua realização, duma filiação onde estamos inseridos convictos de que todos juntos chegaremos a bom porto; ou estaremos apenas embevecidos pelas belas lembranças da infância onde desfilam recantos iluminados e sonhos já desfeitos, memórias dos ricos sabores da comida hoje desaproveitada, aromas da resina do pinheiro, da flor da acácia e do verde da carqueja?
Quando falamos da nossa terra estamos a falar de quê? Estaremos também a falar daqueles que tiveram de procurar outras paragens por não encontrarem espaço, aceitação ou carinho no beco onde nasceram, nem no poço da ribeira onde aprenderam a nadar e no campo onde jogaram à bola; ou estaremos a falar apenas das gerações que conheceram os recantos já tisnados de histórias, lugares de memória onde encontraram rasgos de uma esperança inabalável, lavrada nas pedras da calçada e nas esquinas da vida?
Estaremos a falar de uma só coisa, ou das partes que completam um todo? E a parte em si tem algum peso específico, ou só terá significado quando somado ao todo?
Estas são questões que podem ser entendidas como pertinentes, as quais, às vezes, nos assaltam o espírito e nos obrigam a olhar para trás, encontrando no caminho percorrido uma perspectiva algo confusa, para não dizer enublada.
Na verdade as aldeias são, transitoriamente, aquilo que as gerações quiserem, ou entenderem, que leas sejam. Contudo, o que está em primeiro lugar é a preservação da sua identidade construída através dos tempos, dentro da sua autenticidade.
O esforço deve ir no sentido de fazer perdurar os marcos históricos que se vão semeando, sem outros interesses que não sejam apenas e só, o amor ao cantinho que os viu nascer.
Adriano Pacheco
in O Varzeense, de 15/05/2006
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