domingo, 11 de fevereiro de 2007

Que solidariedade com os idosos

Longe vão os tempos em que os cuidados de saúde e higiene com os idosos eram prestados no calor do seio familiar, junto dos filhos e dos netos. Eles faziam parte integrante da família em todas as circunstâncias, a quem eram dispensados o aconchego e o zelo possíveis com toda a naturalidade. A família estava estruturada e mentalizada neste sentido, com maior ou menor dificuldade, a situação era aceite num contexto de escassez de recursos. Era assim...
Com o passar dos tempos essa estrutura familiar foi-se alterando, com as exigências e os compromissos sócio-laborais a ocuparem, a exigirem maior ocupação e dispersão dos braços de trabalho, espartilhando assim todo o grupo familiar e, consequentemente, o idoso ia sendo remetido para o isolamento do lar, o que trouxe à tona d'água a débil situação sócio-económica invisível e difícil de sustentar, especialmente, para os mais doentes e acamados.
Deste modo e com o dilatar do tempo médio de esperança de vida, graças a um conjunto de circunstâncias (tratamentos e cuidados de saúde continuados, tal como a Gerontologia indica), esta faixa etária passou a necessitar duma estrutura social mais sólida, com suporte administrativo e financeiro integrado no estado-social. Contudo, ele por si só, está longe de ter capacidade de resposta para todo o espaço nacional, já que os hospitais civis não têm capacidade nem estão vocacionados para lidar com esta situação e as instituições de solidariedade social (IPSS) estão ainda em fase de aperfeiçoamento.
Perante este estado de coisas e com a população a envelhecer a olhos vistos, os ditos "Lares" começaram a proliferar por toda a parte, nomeadamente nos grandes centros urbanos. Eles emergiram da iniciativa privada numa lógica de exploração, ou de negócio com os cuidados continuados com os idosos, tentando dar solução ao problema social surgido, o que nos explica bem o modelo em que esta nova actividade se movimenta, sabe-se lá com que qualidade, com que conhecimentos, mas de bons rendimentos.
Daqui resulta que o custo desta assistência permanente atinja valores incomportáveis para o idoso, uma vez que eles são incomparavelmente maiores que a sua magra pensão de reforma (?) o que obriga os seus descendentes a suportarem o excedente, muitas vezes fora das suas capacidades financeiras. Nestas circunstâncias e dadas as reais possibilidades disto acontecer, pergunta-se: qual é a solução concreta que é dada ao hipotético idoso?
E se a tudo isto acrescentarmos que esta situação acontece (ou pode acontecer) a uma pessoa que trabalhou uma vida inteira, fez os devidos descontos para a Segurança Social e contribuiu com a sua quota parte para a vida colectiva, ficamos sem saber qual é o conteúdo real que devemos atribuir à expressão solidariedade social. E, já agora, como é que vamos dar um fim de vida digno a este idoso?
O nosso léxico está cheio de palavras bonitas que são utilizadas, a toda a hora, sem o substancial conteúdo e com a maior despudorada ligeireza.
Certamente que devemos estar muito longe da sociedade justa e solidária que todos almejámos!...
Adriano Pacheco
in O Varzeense, de 30/01/2007