Conhecer Góis 8
O património natural. Dois ex-libris do concelho. 2
O Rio Ceira
Permitam-me que endosse a palavra ao nosso rio, que, melhor do que nós, saberá transmitir-vos um pouco da sua vida.
“Os antigos chamavam-me “Célia”, outros “Celium”, mas ainda ninguém me explicou porquê. Atravesso as quatro freguesias do núcleo antigo do concelho, e por isso me terem considerado sempre como traço de união entre os goienses, do que muito me orgulho.
Através dos meus vinte e cinco quilómetros dentro do concelho, passo por baixo de uma dezena de pontes, desde a manuelina, em pedra, de três arcos, a mais velha, já com cinco séculos de vida, até à noviça, aquela de madeira, elegante e de ar moderno, a seguir ao Cerejal (aqui para nós, são as duas de que mais gosto), e penso que deixo por toda a parte um rasto forte da minha personalidade. Sei que tenho encantos, que sou prazenteiro, mas também, por vezes, arrebatado, quando a isso me obrigam, chegando mesmo a ser torrencial, e então, claro, sujeito-me a um monte de lamúrias e de queixumes, que reconheço serem justas. Mas, entre amores e desavenças, não deixo de me comportar como anjo protector.
Nas freguesias serranas, do Colmeal e Cadafaz, serpenteando por montes e vales, vão-se-me revelando vestígios de um passado antigo, moinhos, as “Buracas dos Mouros”, covas talhadas em rocha, talvez minas exploradas noutros tempos, a extensa “Levada dos Mouros”, também ela talhada na rocha, que, segundo a lenda, teria sido aberta por um cavaleiro, para levar a água até Bobadela, onde estava a princesa sua amada, coisasque vou ouvindo, por aqui e por ali, e com que me delicio no meu trajecto.
Antes da Cabreira, um conjunto de antigos lagares e tulhas, junto ao rio, é uma autêntica relíquia do passado, memória do espírito comunitário da vida destas gentes. Com estatutos aprovados pela população, e com uma Comissão de Lagares administrando-os democraticamente, a vida era feita de maneira ordenada, de modo a todos beneficiar e dentro da maior justiça. Era um bom exemplo de vida comunitária.
Acontece que aqui, na encosta da minha margem direita, se situa uma daquelas áreas de mineralização de estanho e volfrâmio, onde, durante a Segunda Guerra Mundial, se processaria uma exploração mineira muito intensa.
Pois foi ali mesmo, junto às tulhas, na junção que a ribeira do Lagar faz comigo, que se tornou um local abundante de minério de aluvião. Com o preço do volfrâmio a galopar para valores nunca antes imagináveis, a cabeça de muita boa gente rodopiou demasiado. E fiquei de boca aberta, a ver aquele enxame todo, uns da casa, outros forasteiros, conspurcando (e de que maneira) as minhas águas e sacando avidamente das minhas entranhas o ouro negro.
Onde era um local ordeiro e pacato, agora centenas de “mineiros” amontoavam-se, sem rei nem roque, uns procurando trabalho honesto, para equilibrar o seu orçamento familiar, mas outros com subtis artimanhas, ludibriando as autoridades e o próximo. Que me fez compreender como é volúvel a mente humana, quando a tentação se lhes apresenta, vislumbrando pontes sedutoras, por vezes em miragens de falsos horizontes,
Por sobre o que Eu não sou há grandes pontes
Que um outro, só metade, quer passar
Em miragens de falsos horizontes,
Um outro que eu não posso acorrentar...
Prosseguindo o caminho, as minhas águas vão passar mais abaixo pela Central de Monte Redondo, obrigando-me agora a grandes esforços. Nada que seja extraordinário, mas sempre alimento duas unidades, uma de 400 KVA e outra de 175 KVA. Foram instaladas pela extinta Companhia de Papel de Góis e agora exploradas por uma empresa de fora. Mas o meu esforço é compensado pela vaidade que tenho de os meus antepassados terem gerado electricidade e fornecido iluminação pública à vila de Góis, ainda antes de Coimbra a ter. Segundo conta a minha avó, o Mondego jamais nos terá perdoado. Daqui a cinco anos, completar-se-á um século que realizamos essa proeza, a vila de Góis iluminada a lâmpadas incandescentes.
Saindo das turbinas, vou descendo para jusante, a caminho da vila, retemperando forças. Cortejo respeitosamente os três arcos da Ponte Manuelina, embora já tenha sido concluída no tempo do seu filho D. João III, e entro no meu troço final, lentamente, julgo que de um modo majestoso, em terreno chão de fundo largo, tentando animar os turistas e deliciar os meus amantes.
Depois de um cúmplice pestanejo a Santo António (de cuja capela os nossos historiadores ainda não conseguiram saber a idade), torno-me galanteador, aos pés do irresistível Cerejal. E ali fico, enamorando-o por uns aprazíveis momentos, não me esquecendo que se trata de um parque classificado de Interesse Público.
Agora mais sereno, chega a Vila Nova do Ceira, espreguiçando-me nas suas várzeas e espraiando-me pelas belas margens com que me quiseram presentear.
E depois, a despedida. No sítio do Cabril, no Cerro da Candosa, com a sua pequena ermida lá no alto, onde o povo vai adorar a Virgem, invocando-a com o nome de Nossa Senhora das Candeias, ou, para outros, Nossa Senhora da Candosa. Padroeira dos varzeenses, é motivo para no local se realizar anualmente, em meados de Agosto, uma tradicional festa que, desde há muito, é pertença da memória do concelho.
A partir de ligeiros vestígios encontrados, há quem questione se ali não teria havido uma fortaleza ou uma povoação, para defesa daquele vale majestoso de horizontes sem fim.
E ouvi contar uma história, talvez seja lenda, em que o grande rochedo estaria outrora fechado, com a água tombando em cascata por cima dele. Existia então uma grande lagoa, estendendo-se desde a Candosa até Góis, bordando as povoações de Bordeiro e Alagoa, que justificavam assim a sua denominação. Na carta de doação de Serpins, passada por D. Afonso Henriques, é referido a lagoa de Sacões, o que dá credibilidade a essa suposição. Mais tarde, ter-se-á cortado o rochedo, com intuito de desfazer a lagoa, e, com o abaixamento das águas, obter-se aquelas terras férteis que conformam as várzeas.
Ouvi também de outra lenda, que a imaginação do povo é muito fértil, que a Senhora das Candeias, linda como sempre, protegida de capuz e de candeia na mão, ia pela calada da noite destruir a muralha que os mouros tentavam sucessivamente erguer para refazer a lagoa. E assim, desse modo, os varzeenses conseguiram conservar as suas boas terras, ao mesmo tempo que baptizavam carinhosamente a sua santa padroeira.
Seja obra do homem ou da natureza, seja ou não com a participação bondosa de Nossa Senhora, é nesse local aprazível, o Cerro da Candosa, que me despeço com ternura e emoção do concelho de Góis, a caminho do Mondego, a quem não deixarei depois de segredar, baixinho, “haver sereias sem ser no mar”, como nos diz o poema do hino dos goienses e como eu próprio tenho tido ocasião de verificar.
Para trás, fica a consciência do dever cumprido, de ter proporcionado melhoria de vida aos goienses. Ora irrigando as várzeas e os campos verdejantes, ora dando força às mós e às turbinas, ora alimentando os salmonídeos, ora proporcionando momentos de prazer a quem tenha querido deliciar-se, com pescarias, com velejo, com desporto, com amor, ou apenas com o dolce fare niente. E leguei-lhes um espólio de encantos e de belezas, de lendas e de fantasias, onde os poetas se podem inspirar.
Sei que, nas suas margens, frente ao lindo palácio que mandou edificar, para os Senhores e para o prestígio da terra, e para onde se tinha acolhido, fugindo ás amarguras e aos enganos da Corte, já lá vão quase cinco séculos!, Luís da Silveira um dia poetisou:
Ao longo desta ribeira
vivo vida descansada
e a derradeira,
esta é vida descansada
para quem já não quer nada.
(...)
Não me deis, quer mo creiais
quer se me, senhor, não creia,
mas eu folgo de ser mais
o primeiro desta aldeia
que o segundo donde estais.
Para defesa da minha honra, peço licença para lembrar que ribeira não é forçosamente um rio pequeno, pois igualmente tem o significado (sobretudo em tempos idos) de margem, de porção de terreno banhado pelo rio.
Obrigado pela vossa atenção.”
O Penedo e o rio Ceira são bem representativos das belezas naturais do património natural do concelho. A montanha e o rio. Simbiose de alturas e de várzeas.
Região montanhosa, entre as serras da Gatucha, do Vieiro, de Egas, do Rabadão, do Carvalhal, de Sacões, das Caveiras, das Malhadas, de Entre Capelos, das Pedras do Lumiar, da Neve, do Trevim, dos Picos, do Vale de Chão. Onde as antenas eólicas vão marcando as paisagens bucólicas, lembrando que a qualidade de vida vai exigindo cada vez mais uma vivência inteligente entre o ambiente e a tecnologia.
Região de floresta e, por enquanto, ainda de pastorícia e apicultura. E também de minério, guardado que está no subsolo, para um dia, quem sabe, vir a ser novamente revolvido.
Região fluvial dividindo-se por duas redes hidrográficas distintas. Pele vertente norte, em direcção ao Mondego, através das ribeiras de Ádela, de Carrimá, da Sandinha, do Lagar, das Mestras, de Celavisa, do Alvém, do Sotam; e, pela vertente sul, a caminho do Zêzere, através das ribeiras da Simantorta, de Sinhel, do Amioso, de Mega, dos Unhais.
Uma extensa rede fluvial, com a água correndo pelas encostas, escapulindo-se por refúgios ou saltando sobre pequenos açudes, proporcionando por vezes paisagens idílicas.
A montanha e o rio. As alturas e as chãs, os planaltos e os vales.
O silêncio e o murmurejar. A pureza e a transparência. A liberdade.
A imensidão e o recanto. O céu e a terra
O Penedo e o Ceira. Dois símbolos. Dois ex-libris do concelho.
João Nogueira Ramos
in www.portaldomovimento.com
O Rio Ceira
Permitam-me que endosse a palavra ao nosso rio, que, melhor do que nós, saberá transmitir-vos um pouco da sua vida.
“Os antigos chamavam-me “Célia”, outros “Celium”, mas ainda ninguém me explicou porquê. Atravesso as quatro freguesias do núcleo antigo do concelho, e por isso me terem considerado sempre como traço de união entre os goienses, do que muito me orgulho.
Através dos meus vinte e cinco quilómetros dentro do concelho, passo por baixo de uma dezena de pontes, desde a manuelina, em pedra, de três arcos, a mais velha, já com cinco séculos de vida, até à noviça, aquela de madeira, elegante e de ar moderno, a seguir ao Cerejal (aqui para nós, são as duas de que mais gosto), e penso que deixo por toda a parte um rasto forte da minha personalidade. Sei que tenho encantos, que sou prazenteiro, mas também, por vezes, arrebatado, quando a isso me obrigam, chegando mesmo a ser torrencial, e então, claro, sujeito-me a um monte de lamúrias e de queixumes, que reconheço serem justas. Mas, entre amores e desavenças, não deixo de me comportar como anjo protector.
Nas freguesias serranas, do Colmeal e Cadafaz, serpenteando por montes e vales, vão-se-me revelando vestígios de um passado antigo, moinhos, as “Buracas dos Mouros”, covas talhadas em rocha, talvez minas exploradas noutros tempos, a extensa “Levada dos Mouros”, também ela talhada na rocha, que, segundo a lenda, teria sido aberta por um cavaleiro, para levar a água até Bobadela, onde estava a princesa sua amada, coisasque vou ouvindo, por aqui e por ali, e com que me delicio no meu trajecto.
Antes da Cabreira, um conjunto de antigos lagares e tulhas, junto ao rio, é uma autêntica relíquia do passado, memória do espírito comunitário da vida destas gentes. Com estatutos aprovados pela população, e com uma Comissão de Lagares administrando-os democraticamente, a vida era feita de maneira ordenada, de modo a todos beneficiar e dentro da maior justiça. Era um bom exemplo de vida comunitária.
Acontece que aqui, na encosta da minha margem direita, se situa uma daquelas áreas de mineralização de estanho e volfrâmio, onde, durante a Segunda Guerra Mundial, se processaria uma exploração mineira muito intensa.
Pois foi ali mesmo, junto às tulhas, na junção que a ribeira do Lagar faz comigo, que se tornou um local abundante de minério de aluvião. Com o preço do volfrâmio a galopar para valores nunca antes imagináveis, a cabeça de muita boa gente rodopiou demasiado. E fiquei de boca aberta, a ver aquele enxame todo, uns da casa, outros forasteiros, conspurcando (e de que maneira) as minhas águas e sacando avidamente das minhas entranhas o ouro negro.
Onde era um local ordeiro e pacato, agora centenas de “mineiros” amontoavam-se, sem rei nem roque, uns procurando trabalho honesto, para equilibrar o seu orçamento familiar, mas outros com subtis artimanhas, ludibriando as autoridades e o próximo. Que me fez compreender como é volúvel a mente humana, quando a tentação se lhes apresenta, vislumbrando pontes sedutoras, por vezes em miragens de falsos horizontes,
Por sobre o que Eu não sou há grandes pontes
Que um outro, só metade, quer passar
Em miragens de falsos horizontes,
Um outro que eu não posso acorrentar...
Prosseguindo o caminho, as minhas águas vão passar mais abaixo pela Central de Monte Redondo, obrigando-me agora a grandes esforços. Nada que seja extraordinário, mas sempre alimento duas unidades, uma de 400 KVA e outra de 175 KVA. Foram instaladas pela extinta Companhia de Papel de Góis e agora exploradas por uma empresa de fora. Mas o meu esforço é compensado pela vaidade que tenho de os meus antepassados terem gerado electricidade e fornecido iluminação pública à vila de Góis, ainda antes de Coimbra a ter. Segundo conta a minha avó, o Mondego jamais nos terá perdoado. Daqui a cinco anos, completar-se-á um século que realizamos essa proeza, a vila de Góis iluminada a lâmpadas incandescentes.
Saindo das turbinas, vou descendo para jusante, a caminho da vila, retemperando forças. Cortejo respeitosamente os três arcos da Ponte Manuelina, embora já tenha sido concluída no tempo do seu filho D. João III, e entro no meu troço final, lentamente, julgo que de um modo majestoso, em terreno chão de fundo largo, tentando animar os turistas e deliciar os meus amantes.
Depois de um cúmplice pestanejo a Santo António (de cuja capela os nossos historiadores ainda não conseguiram saber a idade), torno-me galanteador, aos pés do irresistível Cerejal. E ali fico, enamorando-o por uns aprazíveis momentos, não me esquecendo que se trata de um parque classificado de Interesse Público.
Agora mais sereno, chega a Vila Nova do Ceira, espreguiçando-me nas suas várzeas e espraiando-me pelas belas margens com que me quiseram presentear.
E depois, a despedida. No sítio do Cabril, no Cerro da Candosa, com a sua pequena ermida lá no alto, onde o povo vai adorar a Virgem, invocando-a com o nome de Nossa Senhora das Candeias, ou, para outros, Nossa Senhora da Candosa. Padroeira dos varzeenses, é motivo para no local se realizar anualmente, em meados de Agosto, uma tradicional festa que, desde há muito, é pertença da memória do concelho.
A partir de ligeiros vestígios encontrados, há quem questione se ali não teria havido uma fortaleza ou uma povoação, para defesa daquele vale majestoso de horizontes sem fim.
E ouvi contar uma história, talvez seja lenda, em que o grande rochedo estaria outrora fechado, com a água tombando em cascata por cima dele. Existia então uma grande lagoa, estendendo-se desde a Candosa até Góis, bordando as povoações de Bordeiro e Alagoa, que justificavam assim a sua denominação. Na carta de doação de Serpins, passada por D. Afonso Henriques, é referido a lagoa de Sacões, o que dá credibilidade a essa suposição. Mais tarde, ter-se-á cortado o rochedo, com intuito de desfazer a lagoa, e, com o abaixamento das águas, obter-se aquelas terras férteis que conformam as várzeas.
Ouvi também de outra lenda, que a imaginação do povo é muito fértil, que a Senhora das Candeias, linda como sempre, protegida de capuz e de candeia na mão, ia pela calada da noite destruir a muralha que os mouros tentavam sucessivamente erguer para refazer a lagoa. E assim, desse modo, os varzeenses conseguiram conservar as suas boas terras, ao mesmo tempo que baptizavam carinhosamente a sua santa padroeira.
Seja obra do homem ou da natureza, seja ou não com a participação bondosa de Nossa Senhora, é nesse local aprazível, o Cerro da Candosa, que me despeço com ternura e emoção do concelho de Góis, a caminho do Mondego, a quem não deixarei depois de segredar, baixinho, “haver sereias sem ser no mar”, como nos diz o poema do hino dos goienses e como eu próprio tenho tido ocasião de verificar.
Para trás, fica a consciência do dever cumprido, de ter proporcionado melhoria de vida aos goienses. Ora irrigando as várzeas e os campos verdejantes, ora dando força às mós e às turbinas, ora alimentando os salmonídeos, ora proporcionando momentos de prazer a quem tenha querido deliciar-se, com pescarias, com velejo, com desporto, com amor, ou apenas com o dolce fare niente. E leguei-lhes um espólio de encantos e de belezas, de lendas e de fantasias, onde os poetas se podem inspirar.
Sei que, nas suas margens, frente ao lindo palácio que mandou edificar, para os Senhores e para o prestígio da terra, e para onde se tinha acolhido, fugindo ás amarguras e aos enganos da Corte, já lá vão quase cinco séculos!, Luís da Silveira um dia poetisou:
Ao longo desta ribeira
vivo vida descansada
e a derradeira,
esta é vida descansada
para quem já não quer nada.
(...)
Não me deis, quer mo creiais
quer se me, senhor, não creia,
mas eu folgo de ser mais
o primeiro desta aldeia
que o segundo donde estais.
Para defesa da minha honra, peço licença para lembrar que ribeira não é forçosamente um rio pequeno, pois igualmente tem o significado (sobretudo em tempos idos) de margem, de porção de terreno banhado pelo rio.
Obrigado pela vossa atenção.”
O Penedo e o rio Ceira são bem representativos das belezas naturais do património natural do concelho. A montanha e o rio. Simbiose de alturas e de várzeas.
Região montanhosa, entre as serras da Gatucha, do Vieiro, de Egas, do Rabadão, do Carvalhal, de Sacões, das Caveiras, das Malhadas, de Entre Capelos, das Pedras do Lumiar, da Neve, do Trevim, dos Picos, do Vale de Chão. Onde as antenas eólicas vão marcando as paisagens bucólicas, lembrando que a qualidade de vida vai exigindo cada vez mais uma vivência inteligente entre o ambiente e a tecnologia.
Região de floresta e, por enquanto, ainda de pastorícia e apicultura. E também de minério, guardado que está no subsolo, para um dia, quem sabe, vir a ser novamente revolvido.
Região fluvial dividindo-se por duas redes hidrográficas distintas. Pele vertente norte, em direcção ao Mondego, através das ribeiras de Ádela, de Carrimá, da Sandinha, do Lagar, das Mestras, de Celavisa, do Alvém, do Sotam; e, pela vertente sul, a caminho do Zêzere, através das ribeiras da Simantorta, de Sinhel, do Amioso, de Mega, dos Unhais.
Uma extensa rede fluvial, com a água correndo pelas encostas, escapulindo-se por refúgios ou saltando sobre pequenos açudes, proporcionando por vezes paisagens idílicas.
A montanha e o rio. As alturas e as chãs, os planaltos e os vales.
O silêncio e o murmurejar. A pureza e a transparência. A liberdade.
A imensidão e o recanto. O céu e a terra
O Penedo e o Ceira. Dois símbolos. Dois ex-libris do concelho.
João Nogueira Ramos
in www.portaldomovimento.com
1 Comments:
Permitam-me que felicite o Engº Nogueira Ramos pelos diversos textos publicados sob o título "Conhecer Góis", que revelam uma aturada investigação sobre a história e o património natural do Concelho de Góis, enriquecendo-nos a todos e especialmente àqueles que como eu amam a nossa terra.
A propósito do rio ceira, que como eu costumo dizer é uma rio onde ainda se pode mergulhar e beber água, sobretudo na zona da Freguesia do Colmeal, é também importante dizer que a sua importância económica para as gentes do Concelho, para além de força motriz de moinhos e lagares, da irrigação das terras nas suas margens e da pesca, se revelou também na sua utilização como meio de transporte para levar para sítios mais acessíveis, as madeiras exploradas nas encostas adjacentes.
Na sua entrada no Concelho de Góis, junto à foz da Ribeira de Carrimá, juntam-se os três Concelhos mais emblemáticos da Beira Serra, a Norte o Concelho de Arganil (Cepos), a nascente o Concelho da Pampilhosa da Serra (Fajão) e a poente o Concelho de Góis (Colmeal / Soito).
Cerca de 200 metros a sul deste local, o antigo açude do "Boiço", actualmente já destruído, bem como os respectivos moinhos, é o local de início da lendária levada dos Mouros referida no texto em apreço, a qual ainda hoje é bem visível nas rochas, do lado de Arganil (Freguesia de Cepos).
Infelizmente o rio, para além do fornecimento de água para consumo doméstico, sobretudo a partir de Góis e da sua utilização como local de lazer, é praticamente desaproveitado, desperdiçando-se durante o Inverno muita água que poderia ser utilizada para produção de energia limpa e também para o incremento do turismo. Julgamos que a não ser feito o aproveitamento adequado destes recursos e dada a irregularidades das chuvas nos anos mais recentes, tal poderá afectar o desenvolvimento do futuro turístico de Góis, por não ser garantida durante o verão a quantidade de água suficiente para o efeito.
A centralização de esgotos de pequenas aldeias, para posterior descarga no rio, ainda que sujeitos a algum tratamento prévio, como actualmente já acontece na Cabreira, em vez de se encontrarem soluções ecológicas mais adequadas a estes pequenos agregados populacionais), é uma ameaça que urge ter em conta porque afecta naturalmente a qualidade da água, sobretudo nos pequenos caudais do Verão.
António Duarte
Enviar um comentário
<< Home