Renúncia, de Abílio Bandeira Cardoso
Vou renunciar…
Vou renunciar a todas as palavras que te disse
E que nunca ouviste
Vou renunciar…
Vou renunciar a todas as palavras que me ouviste
Mas nunca deste importância.
Vou renunciar…
Vou renunciar a todas as palavras que me apeteceu gritar
Mas que nunca tive coragem… coragem, sequer, de sussurrar.
Vou renunciar…
Vou renunciar a todas as palavras que me cresceram no peito
Mas nunca tiveram força para passar da garganta.
Vou renunciar…
Vou renunciar a todas as palavras que me escorreram na face
E que ninguém… ninguém limpou.
Vou renunciar…
E vou renunciar a todas as renúncias que nunca fiz
Recriar-me numa lua cheia plena de sombras ,
Sombras vivas em folhagens imparáveis
Tocadas pelas brisas dos sentidos e…
Trocadas pelos sentidos das brisas, iluminados.
E ser mais eu!
Um eu irrenunciável!
Capaz de soltar em cada palavra presente
A dádiva perdida em cada renúncia passada.
Capaz de agarrar em cada palavra de timidez
E construir um verso vitorioso.
Capaz de agarrar em cada verso cicatrizado
E torná-lo um poema em sangue,
Que grite ao mundo do papel branco
A cor…
Todas as cores
(mesmo a cor da renúncia, que é cinza:
A cinza de cigarros mal apagados
Abandonados em cinzeiros negros
Cheios de beatas espremidas…)
O papel branco,
Abandonado da cor uniforme e primitiva,
Toma o cinza
(O cinza abandonado da cor da renúncia)
E acende-se num primeiro cigarro
Tomando a cor do fogo aprisionado
Que arde em espaços de loucura
Liberta num eu são…
E depois renuncio!
Renuncio a todos os momentos de renúncia…
E à própria renuncia transformadora…
E solto-me!
Solto-me nas palavras reinventadas
(que mais não são do que as mesmas letras,
As letras em que sempre me omiti
No medo da pontuação e do tom)
E deixo-as voar
...Sim, voar!
As palavras têm asas,
Asas que se impulsionam para a frente,
Cheias da força rasgada num peito que quer mais ar…
E que tantas vezes se sufocam
… Se sufocam nas rajadas de vento não favorável
Que as esmaga na garganta,
…e das quais apenas ouvimos um breve soluço…
Não haverá mais palavras esmagadas !
Nem soluços !
Nem letras omitidas incapazes !
Nem palavras sem tom !
Nem renúncias !
…Nem renúncias de renúncias!...
Haverá palavras soltas,
Mesmo que imprudentes,
Capazes de respirar
E até fabricar ar.
Palavras… mesmo gestuais
Porque mais nada será motivo de silêncio,
Nem o vazio…
Nem este vazio de palavras mal articuladas
Prenhes de sentidos difusos
Que buscam um único sentido:
O sentido de uma vida.
Tantas vezes ignorado...
Por outras vidas sem sentido,
Ou por sentidos de outras vidas...
E encontro-me, por fim,
Na dobragem de uma esquina,
Reflexo do que fui e do que poderia ter sido..
Esquecido
Que sou!
Que sou palavras… mesmo gestuais!
Porque mais nada será motivo de silêncio,
Nem o vazio…
Abílio Bandeira Cardoso
Vou renunciar a todas as palavras que te disse
E que nunca ouviste
Vou renunciar…
Vou renunciar a todas as palavras que me ouviste
Mas nunca deste importância.
Vou renunciar…
Vou renunciar a todas as palavras que me apeteceu gritar
Mas que nunca tive coragem… coragem, sequer, de sussurrar.
Vou renunciar…
Vou renunciar a todas as palavras que me cresceram no peito
Mas nunca tiveram força para passar da garganta.
Vou renunciar…
Vou renunciar a todas as palavras que me escorreram na face
E que ninguém… ninguém limpou.
Vou renunciar…
E vou renunciar a todas as renúncias que nunca fiz
Recriar-me numa lua cheia plena de sombras ,
Sombras vivas em folhagens imparáveis
Tocadas pelas brisas dos sentidos e…
Trocadas pelos sentidos das brisas, iluminados.
E ser mais eu!
Um eu irrenunciável!
Capaz de soltar em cada palavra presente
A dádiva perdida em cada renúncia passada.
Capaz de agarrar em cada palavra de timidez
E construir um verso vitorioso.
Capaz de agarrar em cada verso cicatrizado
E torná-lo um poema em sangue,
Que grite ao mundo do papel branco
A cor…
Todas as cores
(mesmo a cor da renúncia, que é cinza:
A cinza de cigarros mal apagados
Abandonados em cinzeiros negros
Cheios de beatas espremidas…)
O papel branco,
Abandonado da cor uniforme e primitiva,
Toma o cinza
(O cinza abandonado da cor da renúncia)
E acende-se num primeiro cigarro
Tomando a cor do fogo aprisionado
Que arde em espaços de loucura
Liberta num eu são…
E depois renuncio!
Renuncio a todos os momentos de renúncia…
E à própria renuncia transformadora…
E solto-me!
Solto-me nas palavras reinventadas
(que mais não são do que as mesmas letras,
As letras em que sempre me omiti
No medo da pontuação e do tom)
E deixo-as voar
...Sim, voar!
As palavras têm asas,
Asas que se impulsionam para a frente,
Cheias da força rasgada num peito que quer mais ar…
E que tantas vezes se sufocam
… Se sufocam nas rajadas de vento não favorável
Que as esmaga na garganta,
…e das quais apenas ouvimos um breve soluço…
Não haverá mais palavras esmagadas !
Nem soluços !
Nem letras omitidas incapazes !
Nem palavras sem tom !
Nem renúncias !
…Nem renúncias de renúncias!...
Haverá palavras soltas,
Mesmo que imprudentes,
Capazes de respirar
E até fabricar ar.
Palavras… mesmo gestuais
Porque mais nada será motivo de silêncio,
Nem o vazio…
Nem este vazio de palavras mal articuladas
Prenhes de sentidos difusos
Que buscam um único sentido:
O sentido de uma vida.
Tantas vezes ignorado...
Por outras vidas sem sentido,
Ou por sentidos de outras vidas...
E encontro-me, por fim,
Na dobragem de uma esquina,
Reflexo do que fui e do que poderia ter sido..
Esquecido
Que sou!
Que sou palavras… mesmo gestuais!
Porque mais nada será motivo de silêncio,
Nem o vazio…
Abílio Bandeira Cardoso
Etiquetas: abílio cardoso, poema
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home