quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Monsenhor Nunes Pereira recordado

Um monumento, exposições, concertos, passeios turísticos, celebrações eucarísticas e uma sessão solene assinalam o centenário do nascimento de monsenhor Nunes Pereira. Ao longo de um ano, as comemorações dividem-se entre Coimbra, Montemor-o-Velho, Góis, Arganil e Pampilhosa da Serra.

Se estivesse vivo, monsenhor Nunes Pereira completaria 100 anos no dia 2 de Dezembro. Para assinalar a data, um conjunto de entidades, com a Câmara Municipal de Coimbra a liderar a Comissão Executiva, organizaram um programa comemorativo do centenário, que se prolongará ao longo de um ano.
Entre 2 de Dezembro deste ano e 2 de Dezembro de 2007, presta-se homenagem ao «homem, ao artista e ao padre», com um conjunto de iniciativas que se divide entre Coimbra, Montemor-o-Velho, Góis, Arganil e Pampilhosa da Serra, concelho de onde monsenhor é natural.
Na conferência de imprensa de apresentação do programa do centenário do nascimento de Augusto Nunes Pereira, recordaram-se histórias e memórias do homem que nunca deixou de conciliar a vida sacerdotal com as artes, desde a poesia à escultura, passando pelo desenho, a aguarela, o vitral e xilogravura.
Na recordação de Aurélio Campos, representante da Diocese de Coimbra, permanece o «homem extraordinário», que se distinguia pela «disponibilidade e alegria que punha ao serviço dos outros». Com um sorriso, lembra a viagem de Madrid a Coimbra, que não demorou menos de cinco horas, em que Nunes Pereira e outro passageiro passaram os mais de 500 quilómetros a travar um diálogo ao desafio. «Era um homem com um potencial de criatividade enorme», recordou Aurélio Campos, salientando ainda que, cerca de sete meses antes de morrer, o padre/artista venceu um concurso de poesia em Fajão, na sua terra-natal. Na mesma ocasião, voltou a merecer aplausos por «manter um diálogo de improviso de 20 minutos de fado popular».
Com as celebrações, recorda-se também a obra, ainda que Aurélio Campo considere «impossível» saber a totalidade das criações do monsenhor. «Só esculturas em madeira da ceia do Senhor fez mais de 100», frisou.
Aguarelas também não faltam. Que o diga o padre João Castelhano, que manteve com Nunes Pereira um «contacto diário» durante cerca de 20 anos na Igreja de S. José, sem esquecer as férias no Algarve. Nesse período, recordou o pároco, Nunes Pereira tinha a “missão” de criar, pelo menos, uma aguarela por dia. Nem sempre apenas baseadas na paisagem da praia, mas também de quem a frequenta, porque, dizia, «a beleza é a que foi criada por Deus, o resto são farrapos».
Entre a obra do monsenhor, João Castelhano destaca o vitral da Igreja de S. José, que, começou a ser instalado no dia do funeral do autor. E é, precisamente, na igreja onde celebrou eucaristia «até oito dias antes da morte», que se iniciam as comemorações do centenário, no dia 2, às 21h00, com a conferência “Vida e obra de monsenhor Nunes Pereira”, seguida da actuação do Grupo Coral de Santa Cruz de Coimbra.
João Castelhano não tem dúvidas: A dedicação à espiritualidade, o «jeito de viver a fé», a sabedoria da vida dos santos transformaram-se no «modelo» do pároco de S. José, que vê em Nunes Pereira o «mestre que gostaria de imitar».
A Delegação Regional da Cultura do Centro não fica de fora da comissão executiva, de que fazem também parte as câmaras de Coimbra, Arganil, Montemor-o-Velho, Pampilhosa da Serra, juntas de freguesia de Fajão e Côja, Seminário Maior de Coimbra, Movimento Artístico de Coimbra (de que o monsenhor é fundador) e Inatel. «Eu não estou certo que nós conheçamos muito bem o que está mais perto», salientou António Pedro Pita, acrescentando que Nunes Pereira era uma «figura familiar» para muitos, que supunham também conhecer a sua obra. «Mas, não estou certo que conheçam de facto», concluiu.
in Diário de Coimbra, de 22/11/2006

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