terça-feira, 7 de novembro de 2006

Arte rupestre no concelho de Góis

Existem na área do actual concelho de Góis, dois magníficos exemplares de arte rupestre da Idade do Bronze, a Pedra Riscada e a Pedra Letreira.
A arte rupestre caracteriza-se fundamentalmente pela representação de figuras na rocha. Trata-se de uma tradição que vem desde o Paleolítico, mas que continua após o recuo dos glaciares com características bem diferentes. No Paleolítico, a arte rupestre é fundamentalmente naturalista, representando de forma mais ou menos realista os animais que os homens observavam na natureza. Exemplo disso são as gravuras de Foz Côa. Com a complexificação das sociedades, a arte rupestre tem tendência a tornar-se cada vez menos naturalista e mais esquemática e simbólica. Deixa de reproduzir fielmente a realidade, para passar a uma arte abstracta de difícil interpretação.
Exemplo disso são as figuras da Pedra Letreira (Amieiro, Alvares). Trata-se de um importante conjunto de figuras, que embora ainda representem alguns objectos com figuras de mais difícil interpretação, salientando-se representações de escutiformes, isto é, figuras semelhantes a escudos. Estes motivos foram gravados por volta do 2.º milénio a.C. com um traço muito fino, por intermédio de lascas de silex ou quartzo.
Com uma técnica bem diferente, numa época um pouco mais recente, terão sido gravadas as figuras da Pedra Riscada (Mestras, Cadafaz). Este complexo de três rochas apresenta várias representações de ídolos, sob a forma de cruzes dentro de circulos ou quadrados. Estes idolos terão sido gravados com a técnica da picotagem nos finais da Idade do Bronze, e apresentam semelhanças com idênticas representações do norte de Portugal e da Galiza, datadas de finais da Idade do Bronze.
Pelas suas características abstractas é hoje difícil descodificar o significado destas figuras. É como se elas falassem uma linguagem que hoje desconhecemos, guardando assim segredos indecifráveis. Podemos dizer apenas que estas pedras funcionam como santuários ao ar livre, celebrando a natureza e a paisagem serrana em que se inserem.
A região teria grande importância na Idade do Bronze, uma época em que os homens viveriam fundamentalmente da agricultura e da pastorícia, mas em que a metalurgia começava a adquirir uma importância fundamental. Naqueles tempos a paisagem serrana de Góis escondia uma riqueza vital, o estanho. Este minério, juntamente com o cobre, dá origem ao bronze, e o controlo da sua exploração assegurava a sobrevivência das populações e o poder dos seus chefes.
Enigmáticas e misteriosas, as figuras da Pedra Letreira e da Pedra Riscada são o testemunho das gentes que aqui viveram há cerca de três mil anos, usufruindo da riqueza da paisagem. Hoje cabe-nos a nós conhecê-las, senti-las e preservá-las.

João de Castro Nunes e Augusto Nunes Pereira

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