domingo, 3 de maio de 2009

Porque é Dia da Mãe... poemas e rosas

PALAVRAS PARA A MINHA MÃE

mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.

José Luís Peixoto, A Casa, a Escuridão


SÓ POR ISSO, MÃE

Mesmo que a noite esteja escura,
Ou por isso,
Quero acender a minha estrela.

Mesmo que o mar esteja morto,
Ou por isso,
Quero enfunar a minha vela.

Mesmo que a vida esteja nua,
Ou por isso,
Quero vestir-lhe o meu poema.

Só porque tu existes,
Vale a pena!

Lopes Morgado, Mulher Mãe


É NOITE, MÃE

As folhas já começam a cobrir
o bosque, mãe, do teu outono puro...
São tantas as palavras deste amor
que presas os meus lábios retiveram
pra colocar na tua face, mãe!...

Continuamente o bosque se define
em lividez de pântanos agora,
e aviva sempre mais as desprendidas
folhas que tornam minha dor maior.
No chão do sangue que me deste, humilde
e triste, as beijo. Um dia pra contigo
terei sido cruel: a minha boca,
em cada latejar do vento pelos ramos,
procura, seca, o teu perdão imenso...

É noite, mãe: aguardo, olhos fechados,
que uma qualquer manhã me ressuscite!...

António Salvado, Difícil Passagem


QUANDO EU FOR PEQUENO

Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono.

Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.

Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.

Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço branco na mão com as iniciais bordadas,
anunciando que vai voltar porque eu sou pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.

José Jorge Letria, O Livro Branco da Melancolia


POEMA À MÃE

No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade, Os Amantes sem Dinheiro

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18 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Poemas muito belos. Excelente escolha.

03 maio, 2009 09:33  
Anonymous Anónimo said...

Se nascer fosse opção,
Perdoa-me a confissão,
Mas ao aprender a lição,
Ficava no teu coração.

Agora que me pariste,
Embora esteja triste,
A vida insiste,
E o Amor persiste.

VIVA O POVO LIVRE!

04 maio, 2009 22:36  
Anonymous Anónimo said...

Ó Povo Livre não armes ao pingarelho!Tu não consegues pôr de jeito uma palavra atrás da outro quanto mais escrever rimas! Ganha juízo!...

05 maio, 2009 22:19  
Anonymous Anónimo said...

Caro Senhor(a) "22:19", dedico-lhe:

Não és o dono da verdade,
nem tão pouco deves parecê-lo.
Deves ser um poço de vaidade,
com muita dor de cotovelo.

VIVA O POVO LIVRE!

05 maio, 2009 22:56  
Anonymous Anónimo said...

Caro Senhor(a) "22:19", acho que merece mais. Aqui vai:

Para ti é pouco vaidoso,
tens outos atributos, também.
Não te vou chamar merdoso,
por respeito à minha Mãe.

VIVA O POVO LIVRE!

05 maio, 2009 23:17  
Anonymous Anónimo said...

Ai tu queres ver como se rima? Então aí vai:

O Povo Livre é um tretas
Além disso é o bloguista
Passa a vida a pensar petas
na sua vidinha intriguista

Anda por aqui todo meloso
a largar falinhas mansas
tem aquele ar de merdoso
dos vendedores de esperanças

Estratégia rasca, sem futuro
porque o povo livre quer pão
Vai acabar contra um muro

De indiferença e desdém
Não te vou chamar cagão
por respeito à minha mãe

Agora vê lá se publicas ó seu tretas...

06 maio, 2009 01:33  
Anonymous Anónimo said...

E já agora mais esta:

Saiu-me isto de repente
Numa hora de aflição
porque é mais uma lição
Vais ficar todo contente

Sabe-se que por essas bandas
Deves muito à inteligência
Não nos lixes a paciência
Pois de vaidade tresandas


E se acaso tiveres dúvida
Sobre a tua grande burrice
Senta-te um pouco e medita

Que mesmo para a crendice
Em Góis, terra bendita
Há cura para a tua desdita

Hem?! Soneto perfeito. Quando quiseres mais é só pedir.

Hem?! Soneto perfeito. Quando quiseres mais é só pedir.

06 maio, 2009 02:06  
Anonymous Anónimo said...

AHAHAH!!! Boa. E agora ó Povo Livre, não queres responder? Parece-me que este sabe mais do que tu...

06 maio, 2009 13:45  
Anonymous Anónimo said...

Senhor(a) "1:33"e "2:06".

Asno afirma que sou,
E zurrar nunca me ouviu,
Ou é premonição, ou
Burra foi quem me pariu.

Gostei da resposta ao que fiz,
Revela que sabe o que faz,
Verdade fosse o que diz,
E era uma pessoa de paz.

Sonetos não é comigo,
Era mais com o Camões,
Dá muito trabalho a fazer,
Prefiro coçar os joelhos.


Um grande abraço um grande bem haja e gostei

VIVA O POVO LIVRE!

06 maio, 2009 14:41  
Anonymous Anónimo said...

ERRATA

Sonetos não é comigo,
Era mais com o Camões,
Dá muito trabalho a fazer,
Prefiro coçar o umbigo.

VIVA O POVO LIVRE!

06 maio, 2009 14:55  
Anonymous Anónimo said...

Vienes de la pobreza de las casas del Sur,
de las regiones duras con frío y terremoto
que cuando hasta sus dioses rodaron a la muerte
nos dieron la lección de la vida en la greda.

Eres un caballito de greda negra, un beso
de barro oscuro, amor, amapola de greda,
paloma del crepúsculo que voló en los caminos,
alcancía con lágrimas de nuestra pobre infancia.

Muchacha, has conservado tu corazón de pobre,
tus pies de pobre acostumbrados a las piedras,
tu boca que no siempre tuvo pan o delicia.

Eres del pobre Sur, de donde viene mi alma:
en su cielo tu madre sigue lavando ropa
con mi madre. Por eso te escogí, compañera.

Pablo Neruda

06 maio, 2009 15:24  
Anonymous Anónimo said...

Ó Povo Livre (falso), escusavas de te repetir com erratas. Eu, e todos os leitores que por aqui andam, perceberam à primeira...

No entanto, e como gostaste, deixa-me que te diga:

Preferes coçar o umbigo!
Tens boas inclinações
Não sei se viste o perigo
dessas tuas afirmações

Cada um coça o que quer
outros coçam o que podem
Alguns não querem ver
Muitos outros já não têm

Parece-me que no teu caso
Meu amigo, só com espelhos
Acho que chegaste ao ocaso
Já só mijas pr'ós joelhos

Não faças pois mais chiqueiro
que o WC custa a limpar
É melhor pensares primeiro
Em pé não, melhor sentar

E não fiques estarrecido
Por procurares sem encontrar
Assim andas entretido
enganado mas a cantar

Olha, isto nem sempre sai bem. mesmo assim fica à consideração. Sempre ao dispôr.

06 maio, 2009 19:58  
Anonymous Anónimo said...

Gosto da desgarrada. Só falta uma guitarra a acompanhar.

06 maio, 2009 20:12  
Anonymous Anónimo said...

Senhor(a) "19:58":

Com atenção vos li do novo.
Pela conversa de mijo,
Vejo que sois do POVO.
Constato com regozijo.

Apesar da sua rima,
não fiquei com embaraço,
Demonstro-lhe o meu afecto:
Para si um grande abraço.

VIVA O POVO LIVRE!

06 maio, 2009 20:53  
Anonymous Anónimo said...

Ok, percebi! Então um grande abraço para si também. Um dia destes, quando houver inspiração, fazemos mais uma desgarrada...

06 maio, 2009 22:27  
Anonymous Anónimo said...

Fica alinhavado então.
Uma desgarrada faremos,
Quando houver inspiração.

Foi engraçado.
Um grande bem haja e muita saúde.

VIVA O POVO LIVRE!

06 maio, 2009 23:14  
Anonymous Anónimo said...

Cuidado a sra.Lurdes está a vigiar
para ver quantos poetas temos em Gois.

08 maio, 2009 23:21  
Anonymous Anónimo said...

Quem? A Lulu? Oh meu amigo, essa percebe de outras "coisas", agora de poetas?!!
Não esquecer do meu cão que também se chama poeta...

09 maio, 2009 14:47  

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