quarta-feira, 13 de maio de 2009

Na Paróquia de Alvares também se viveu a Páscoa

Uma vez um sacerdote disse-me que o Natal devia ser celebrado com a família e na terra onde nascemos os nossos progenitores. Por sua vez, a Páscoa devia ser celebrada e vivida com a comunidade cristã onde estamos inseridos, ou seja, no local onde vivemos e onde caminhamos na fé.
Nestes últimos anos tenho cumprido esta norma - se é que posso chamar de norma ao que este sacerdote me transmitiu - nomeadamente no que diz respeito à celebração da Páscoa, e tenho procurado vive-la da melhor maneira que me é possível junto da minha comunidade paroquial.
Este ano, por diversos factores, resolvi infringir a "norma" e passar a Páscoa em Chã de Alvares, portanto fora da minha comunidade cristã.
Por comodismo, relacionado única e exclusivamente com o horário praticado, não é meu hábito quando vou à Chã participar na missa celebrada na Capela de Santa Margarida, preferindo ir à Igreja Matriz em Alvares. Por esse motivo, uma vez mais, ali me desloquei para participar em algumas celebrações da Semana Santa.
Embora a Páscoa seja, ou devesse ser, a festa mais importante do cristão, nota-se cada vez mais um maior afastamento das pessoas dos actos religiosos próprios da Semana Santa, facto que não é alheio a cada vez maior laicização e agnosticidade da sociedade, bem como o individualismo, materialismo e comodismo dos membros que a compõem, embora a maioria dos portugueses continuem a considerar-se cristãos. E este fenómeno não é exclusivo das áreas urbanas, também se faz sentir nas áreas rurais, sendo que nestas últimas, o problema ainda se agrava mais devido à desertificação humana, como é o caso da Freguesia de Alvares.
Isso mesmo pude constatar nas celebrações da Semana Santa na Igreja de Alvares, cujo templo, nunca encheu. No entanto, embora o número de pessoas presentes nas várias cerimonias religiosas não fosse realmente muito significativo, senti que todas elas estavam ali verdadeiramente em comunhão com Cristo e com o propósito de verdadeiramente reviverem todos os Seus passos, desde a Sua entrada triunfal em Jerusalém - celebrada no Domingo de Ramos, com a respectiva procissão -, passando pela Sua paixão e morte - recordada ma 6.ª Feira-Santa - e finalizando com a Sua Ressurreição, no Domingo de Páscoa.
Nos tempos de hoje, a maioria dos católicos quando participam em actos religiosos já não o fazem apenas para cumprir preceito, ou como uma actividade social. Nos dias de hoje, quase todos os católicos já não vão apenas à Igreja, procuram isso sim ser Igreja. Não uma Igreja edifício, mais ou menos bonita, antiga ou moderna, mas sim Igreja de pedras vivas, com chama e alegria, que se entrega a Cristo e aos irmãos de corpo e alma, com o propósito de anunciar e seguir o Evangelho. E fazem tudo isto sem nada esperarem em troca, a não ser procurarem seguir os caminhos do Senhor.
Foi realmente esta chama, esta entrega, esta Igreja feita de pedras vivas que vi e senti em Alvares nas diversas celebrações da Semana Santa. Onde tudo estava organizado ao pormenor, desde os cânticos, sempre com uma folha contendo a letra dos mesmos para os fiéis poderem acompanhar, aos rituais próprios de cada celebração, tudo ali funcionou muito bem. Embora não sendo muitos a colaborar, são efectivamente bons.
Não pretendendo mencionar os seus nomes - até porque alguns nem os sei - gostaria de enaltecer o esforço, a dedicação, o saber e o amor a Deus e ao próximo de todos quantos contribuíram para que as celebrações da Páscoa tivessem o brilho, a dignidade e a emotividade que tiveram. Continuem nesse verdadeiro trabalho missionário, não desistam, nem desanimem, mesmo quando as dificuldades e contrariedades lhes surjam pelo caminho.
Uma palavra, também de estímulo e profundo reconhecimento, para com o Padre Ramiro, que embora a sua idade e o seu estado de saúde, continua a dedicar à paróquia de Alvares, e também à de Pessegueiro uma entrega e um esforço quase levados ao limite da exaustão, como o pude confirmar pessoalmente.
Também emocionante e que muito me sensibilizou foi a sua mensagem Pascal, escrita no verso duma pagela alusiva à Festa da Ressurreição e que foi distribuída aos fiéis no final das celebrações.
Afim de a poder partilhar com os leitores, não resisti e tomei a liberdade de a transcrever.
"Querido Paroquiano e amigo, Cristo venceu o Mal, a Dor, a Morte! Com Ele, a teu lado, tudo vencerás também! Nada, por mais grave que seja a tua situação, por maiores que sejam os teus problemas ou dificuldades, pode ser mais forte que o amor do Bom Pastor, que deu a vida por ti.
Levanta os olhos, agarra-te a Ele, sossega o teu coração. Ele tudo pode! É assim que eu faço e Ele nunca me faltou. Nunca me arrependi um momento de O ter seguido.
Feliz Páscoa te desejo de todo o meu coração."
Deveras emocionante. Continuem e nunca deixem de viver a Páscoa.
José Manuel Simões Anjos
in O Varzeense, de 30/04/2009

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